Críticas às declarações de Marcelo Rebelo de Sousa sobre o colonialismo, o 25 de Novembro, o enaltecimento da coragem dos capitães de Abril, o que ainda está por cumprir nos 50 anos de democracia e até um pedido de uma nova estátua no parlamento foram os temas marcantes dos discursos dos partidos na sessão solene do 25 de Abril.

Inês Sousa Real, do PAN, foi a primeira a discursar e acredita que os direitos de abril estão a ser postos em causa, dando o exemplo dos direitos da mulher.

"Não podemos permitir que 50 anos depois do 25 de abril se queira silenciar a voz de livre", afirmou.

Sousa Real diz que a revolução dos cravos "é uma revolução de empatia" e fala dos desafios que teremos de enfrentar: “As guerras que continuam a marcar a vida das pessoas, as alterações climáticas que desafiam o nosso estilo de vida ou a ascensão de forças políticas que põem em causa direitos humanos”.

De regresso ao parlamento após as eleições de 10 de março, o CDS, através do líder parlamentar Paulo Núncio, apontou o dedo a Marcelo Rebelo de Sousa quando afirmou que Portugal é responsável pelos crimes cometidos durante a época da escravatura na era colonial.

"No CDS, não sentimos a necessidade de revisitar heranças coloniais e deveres de reparação que parecem importados de outros contextos fora do nosso quadro. A história é a história e o nosso dever é o futuro", disse.

Núncio destacou ainda um "processo desastroso de descolonização que deixou famílias abandonadas à sua sorte", e focou o discurso em "quatro lições", com dedos apontados à pobreza, à legalização da eutanásia e ao 25 de Novembro, tema sobre o qual dedicou sensivelmente metade do seu discurso.

Rui Tavares, do Livre, falou de improviso e contou a história da da mãe que tinha pesadelos com o regime de Estado Novo. Pediu ainda uma estátua de homenagem "à dona Celeste", a florista que deu os cravos aos soldados de abril na rua. O líder do Livre disse ainda que o regime contava que "os portugueses tivessem medo e pouca imaginação".

Ainda à esquerda, Paulo Raimundo, secretário-geral do PCP, evocou a coragem dos "jovens capitães de Abril" e destacou o papel do partido na revolução. "Uma luta onde, com orgulho, o Partido Comunista Português esteve sempre na primeira linha de combate ao regime fascista que sustentava a meia dúzia de famílias que mandavam no País", disse.

O dirigente comunista afirma que é "necessário retomar" o caminho de Abril e por fim "ao ciclo de política de direita que tem conduzido o país a crescentes desigualdades".

Mariana Mortágua, a líder do Bloco de Esquerda, apontou às "carpideiras do salazarismo" e aos "saudosistas, saídos do armário ao fim de 50 anos", sem nomear quem são. São "perigosos" porque "vivem para a mentira" e culpam a democracia e a Constituição", diz Mortágua.

Alertou sobre o presente, o que nos "assombra chama-se capitalismo, que sacrifica imigrantes para beneficiar os que exploram a sua ilegalização". Para a líder bloquista é o capitalismo que "faz da casa um ativo financeiro" e que "ataca a democracia com discursos de ódio".

A terminar, a Iniciativa Liberal quer que "ainda hoje" haja "uma deliberação para que o programa das comemorações do 25 de Abril da Assembleia da República passe a incluir uma cerimónia solene no cinquentenário do 25 de Novembro".

Rui Rocha apontou também a Marcelo Rebelo de Sousa, como o CDS já tinha feito. "E não, Senhor Presidente, História não é dívida. E História não obriga a penitência. Quem declara ser nossa obrigação indemnizar terceiros pelo nosso passado, atenta contra os interesses do país, reduz-se à função de porta-voz de sectarismos importados e afasta-se do compromisso de representar a esmagadora maioria dos portugueses".

E o líder da IL continuou com aquilo que chama de wokismo e o efeito que tem sobre a liberdade de expressão. "Houve um tempo em que não se podia falar de nada. Depois, veio aquele em que se podia falar de tudo. E agora, vivemos num momento em que parece que se pode falar de tudo, mas não se pode falar de nada. É urgente combater esse wokismo desnaturado que em tudo se infiltra, que quer acorrentar as gaivotas da expressão e do pensamento".