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Entrevista a Luís Pedro Martins

​"Temos tudo para crer" que 2023 será ano recorde no Turismo do Porto e Norte

25 fev, 2023 - 13:31 • Ana Carrilho

Presidente da Entidade Regional de Turismo do Porto e Norte gostava que a TAP mostrasse interesse, nomeadamente, pelas ligações com o Brasil, onde a região de turismo tem investido bastante em termos de promoção externa. Mas, se não for a TAP, outra será.

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O Porto e Norte de Portugal atraem cada vez mais turistas europeus e, nos últimos anos, também dos mercados longínquos. É uma região que os americanos descobriram e onde encontram cada vez mais infraestruturas e produtos turísticos de grande qualidade, até de luxo. Foram os grandes responsáveis pelo aumento da receita turística do ano passado, que ultrapassou a de 2019 em mais de 20%. Em entrevista à Renascença, o presidente da Entidade Regional de Turismo do Porto e Norte, Luís Pedro Martins, não hesita em o classificar de “fantástico”.

Para 2023, as expetativas são as melhores e podem levar a novo recorde. Há cada vez mais companhias a querer voar para o Porto, a trazer mais turistas e, nalguns casos, de mercados longínquos e com alto poder de compra. Luís Pedro Martins gostava que a TAP também mostrasse interesse, nomeadamente pelas ligações com o Brasil, onde a região de turismo tem investido bastante em termos de promoção externa. Se não for a TAP, outra será.

Que balanço faz do ano de 2022? Foi também de recordes para a Região do Porto e Norte?

É um balanço extremamente positivo. O Porto e Norte foi, aliás, a única região que subiu em todos os indicadores. Não só voltámos aos níveis de 2019, que tinha sido o melhor ano turístico de sempre, como os ultrapassámos.

Passámos a fasquia dos seis milhões de hóspedes, com um crescimento de 3,1% em relação a 2019, o mesmo acontecendo com o número de dormidas, mais de 11 milhões, o que significa um crescimento de quase 7%. E depois, um indicador muito importante, especialmente para quem trabalha e depende deste setor: os proveitos. A receita ronda os 730 milhões de euros, o que significa um crescimento de 21% em relação ao ano pré-pandemia, bem acima da média nacional. Foi um comportamento fantástico.

Melhor era impossível em tão pouco tempo que tivemos para fazer esta recuperação, uma vez que os meses de janeiro, fevereiro e março não contaram para este ano e este valor, porque foram meses sem atividade turística. E em menos de um ano recuperamos tudo aquilo que tinha sido perdido durante a pandemia.

Esses valores são globais para toda a região? Porque havia algumas disparidades entre o Porto cidade e o resto do Norte. Já estão mais atenuadas?

Sim, estão mais atenuadas e a pandemia, de certa forma, contribuiu. Aliás, costumo dizer que o que de menos negativo a pandemia trouxe foi ter colocado os holofotes também nestes sub-destinos de baixa densidade. Na verdade, durante a pandemia houve uma procura muito grande por parte dos turistas para o Minho, para o Douro, para Trás-os-Montes.

E estávamos nessa expetativa. O que aconteceria no pós-pandemia, em que os turistas já podem viajar para onde quiserem, nomeadamente para fora do país. A verdade é que continuamos a crescer no mercado interno e diminuiu um pouco o que era o fosso normal entre as portas de entrada da região [Porto] e o resto da região.

De qualquer forma, sendo incompreensível, mas continua a haver uma diferença grande entre o número de turistas que fica na Área Metropolitana do Porto e os outros que se estendem ao longo da região.

E qual é a estadia média?

Globalmente, está muito próxima das duas noites e esse é o desafio que temos, porque precisamos de melhorar esse indicador e continuar a trabalhar para diminuir a sazonalidade. É o que temos feito com os mercados de longa distância, mercados que vêm em contraciclo ao nosso verão.

Quais são?

Nomeadamente, os mercados americano, canadiano, brasileiro. Já recuperámos todos os mercados europeus, mas também estes de longa distância, com crescimentos muito assinaláveis, nomeadamente nos mercados norte americano e canadiano. A dificuldade persiste ainda nos mercados da Ásia-Pacífico, por razões compreensíveis.

As companhias também ainda não regressaram à operação que tinham em 2019, nomeadamente no caso do Porto. Aguardamos pelo regresso da Emirates, que já está apontado para 2024. Quanto às outras todas, temos notícias muito boas. Em 2022, praticamente todas repuseram o serviço e em muitos casos, superaram o ano antes da pandemia.

Gostaríamos que fosse com a TAP, mas sabemos que há outras companhias que estão interessadas também nesta nossa ligação à região

E há novas companhias a voar para o Aeroporto Sá Carneiro?

Sim, temos novidades e algumas de destaque. Por exemplo, passamos a ter uma ligação direta a Israel, com dois voos por semana para Telavive. Temos voos para Riga, para Estocolmo, para Dublin (nove voos por semana). Em termos de Europa não temos razão de queixa e conseguimos fazer a cobertura daqueles que são os nossos principais mercados. Em termos de longa distância, precisávamos de um reforço, nomeadamente na ligação com o mercado brasileiro. Essa é a nossa preocupação.

Precisavam de um reforço, por exemplo, com a TAP?

Pois, é evidente. Porque é a companhia que faz essa ligação e, em boa verdade, é isso que nós esperamos. A nossa expectativa era poder reforçar essas ligações ao Brasil, Rio de Janeiro, São Paulo, mas também ao Sul, Porto Alegre, onde nós temos feito ações de promoção externa e que estão a correr bastante bem. Gostaríamos que fosse com a TAP, mas sabemos que há outras companhias que estão interessadas também nesta nossa ligação à região e vamos fazendo trabalhos de promoção externa.

Por exemplo, vamos agora fazer um "roadshow" com a Azul no próximo mês, em conjunto com as regiões do Alentejo e do Centro. Não sei se isso significará alguma boa notícia para a região ou não, mas nós estamos de portas abertas para todos aqueles que queiram trabalhar com o Porto e Norte.

Uma coisa sabemos: existe procura e há companhias que o provam. Portanto, esperemos que a nossa companhia de bandeira possa acompanhar este trabalho que as outras estão a fazer.

Mas não estavam a decorrer negociações com a TAP para fazer ligações do Porto a Nova Iorque e Luanda, por exemplo?

Por parte da TAP, sim. Mas ainda não está concretizado, é agora para o verão IATA 2023. O mercado americano interessa-nos, mas o angolano não é um mercado estratégico para o Porto e Norte. Claro que é bem-vindo, mas não é considerado estratégico.

E continuam as negociações com outras companhias para trazer mais turistas e, especialmente, de valor acrescentado?

Essa é uma preocupação nossa e do Turismo de Portugal. Aliás, fazemos este trabalho alinhados e um dos objetivos tem a ver com o tipo de turista que queremos receber na região e no país. Daí trabalharmos com estes mercados, chamados de alto rendimento, como os que referi da Ásia-Pacífico, Estados Unidos, Canadá.

E por isso é que estamos também a realizar muitas ações de promoção externa nestes territórios, para conseguir captar e continuar a aumentar esta tendência, em 2022 resultou muito bem. Estivemos em Washington, Chicago, Boston, Montreal, Toronto, Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre, Gramado. Tivemos muitas ações de promoção e foram todas bem-sucedidas, o resultado em 2022 não podia ter sido melhor.

Temos tudo para acreditar que 2023 vai ser novamente um ano muito bom

E 2023? Pelo que me está a dizer, as expetativas são de continuar a crescer. É por isso que há tempos vaticinou que este iria ser um ano histórico para a região?

Sim, é por isso. Mas é importante ter aqui também alguma cautela e não esquecer que vivemos uma situação ainda de guerra no nosso Continente. Por vezes esquecemos que ela existe, mas existe. Sabemos como começou, não sabemos como é que vai terminar.

Agora, se houver uma solução rápida para o conflito, se ele não fizer agravar a inflação e fazer com que algumas economias importantes na Europa – por exemplo, a alemã - entrem em recessão, se não aumentar os custos das matérias-primas e da energia para os empresários, se isto não acontecer, temos a certeza de que estamos numa trajetória de crescimento e vamos conseguir passar este recorde de 2022. Neste momento, em termos de mercados, só nos falta chegar à Ásia-Pacífico. O regresso da Emirates, em 2024, é uma excelente notícia e estas novas aberturas com Israel, também.

Depois temos o resto. É que Portugal, mesmo com a guerra, vai beneficiando do facto de ser aquele país que está mais afastado do conflito na Europa. Continua a ser percebido como um país seguro e nós vamos também beneficiando um pouco dessa circunstância. Portanto, eu acho que temos tudo para acreditar que 2023 vai ser novamente um ano muito bom.

E como é que classificaria neste momento o destino Porto e Norte? Já não é propriamente acessível a todas as bolsas, nomeadamente dos portugueses.

O Porto e Norte tem a vantagem de ter oferta para todas as bolsas, usando a mesma expressão. Mas não podemos fazer dois discursos. Por um lado, dizer que é importante crescer em valor. E quem diz no turismo, diz no peço dos vinhos, na qualidade que é percebida. E depois, quando o valor começa a crescer, dizermos que está muito caro. Porque estamos a entrar em contrassenso.

Se queremos atrair mercados com outro rendimento também temos de saber trabalhar o preço que é percecionado. Havia uma falha neste segmento de luxo, não tínhamos tanta oferta como a necessária para receber um maior número de turistas. Mas hoje, felizmente, conseguimos ter infraestruturas de grande qualidade em toda a região. E acredito que isso também vai entrar no radar deste tipo de turistas e vão conseguir percecionar o Porto Norte como um destino onde se podem também fazer férias de luxo.


E cada vez com mais produtos turísticos de maior qualidade.

Essa é a nossa grande vantagem, a variedade de produtos turísticos. Vantagem, por um lado, e, por outro, a dificuldade para quem tem de promover a região porque não sabe por onde começar.

O Porto e Norte têm do melhor que há para oferecer em termos de enoturismo e aqui acho que é algo que já é percecionado a nível mundial pela qualidade dos nossos vinhos, das nossas paisagens, mas também agora das infraestruturas que podem receber estes enoturistas.

Depois temos produtos como os Caminhos de Santiago, somos fortes no turismo cultural e a gastronomia também dispensa apresentações. Também estamos a trabalhar muito bem o turismo náutico, não só na Costa Atlântica (temos 140 quilómetros de costa) mas também no interior, com produtos novos, como as estações náuticas. A Rota do Românico, muita arte contemporânea, muita arquitetura contemporânea, (temos aqui os dois Pritzker, Álvaro Siza e Souto Moura, a juntar a um conjunto mais alargado de grandes arquitetos). Finalmente, temos o turismo industrial, foi criada uma rede e 70% da oferta está no Porto e Norte; o termalismo, quase metade, está na nossa região. Portanto, nós temos muita oferta e para vários targets.

A Galiza gasta em promoção externa 16 milhões de euros por ano quando nós temos milhão e meio

E como é que tem estado a ser feita a promoção? Obviamente que o Turismo de Portugal também tem aqui um papel importante. Mas faltam meios financeiros e outros?

Sim, não diria o contrário. Se nos compararmos com os nossos vizinhos - e talvez seja mais fácil ao público percecionar as diferenças - a minha vizinha (responsável pelo turismo) da Galiza gasta em promoção externa 16 milhões de euros por ano quando nós temos milhão e meio. As diferenças são estas.

Claro que quanto mais dinheiro tivermos para trabalhar em promoção externa, mais conseguimos fazer. Temos produtos turísticos muito interessantes, é preciso levá-los para o mundo e isso tem custos. E o facto de alguns dos nossos mercados serem de longa distância faz com que todas as ações que aí fazemos tenham custos muitos elevados. Portanto, é obvio que era bom haver mais financiamento para este tipo de ações.do espaço do Porto e Norte, entre degustações, apresentações de produtos turísticos, de privados, de públicos, dos municípios, das Comunidades Intermunicipais. Vamos ter oportunidade de mostrar o que já temos, mas também o que estamos a preparar.

Já falou na sua vizinha Galiza e aproveito para lhe perguntar quais são as suas expetativas em relação à Agenda para o Turismo no Interior e Estratégia de Sustentabilidade do Turismo Fronteiriço? São duas políticas importantes para a Região do Porto e Norte.

Sim, isso é também um trabalho que está a ser feito a nível nacional. Ainda agora na FITUR - Feira Internacional de Turismo de Madrid tivemos oportunidade de, juntamente com as regiões da Galiza e de Castela, mas também entre os dois Estados, o nosso ministro Economia e a ministra espanhola assinaram também os protocolos muito ligado ao turismo transfronteiriço.

E nós, aqui na nossa região, temos essa vantagem. Por um lado, temos uma relação muito aprofundada com a Galiza, não só ao nível do turismo, mas também noutros setores de atividade. Esta euro região funciona muito bem e também estamos a dar passos muito interessantes no setor do turismo.

A título de exemplo, estamos a tentar constituir o primeiro cluster de turismo da euro região do Porto e Norte. Está a ser feito através da Agência de Promoção Externa do Porto e Norte [privada] com o "cluster" de Turismo da Galiza. Com o apoio da CCDR Norte, do lado de cá e da Junta da Galiza, do lado espanhol. Estamos a querer replicar tudo aquilo que fazemos já há muito tempo com a Galiza; com Castela não o fazíamos com a mesma intensidade, mas estamos agora a começar.

Temos muitos produtos de fronteira, queremos trabalhar as fortalezas de fronteira, por exemplo, ao nível dos vinhos, trabalhar os nossos Alvarinhos com os Alvarinhos da Galiza. E Com Castela, poder trabalhar o el Duero e os patrimónios mundiais da Humanidade.

Há 50 mil lugares por preencher no setor do turismo. Precisamos de mão de obra estrangeira

Queria voltar à questão da qualidade do destino que também depende muito do serviço. E este, de mão de obra, que falta em todo o lado. Como é que estão – ou não – a resolver este problema?

Essa é a grande dificuldade e será um fator crítico de sucesso se conseguirmos resolver rapidamente a questão dos recursos humanos. Mas é uma questão, como dizia, que não passa pela solução na região A,B ou C. É um problema do país e que o país já percebeu que não vai conseguir resolver com os portugueses. E temos de ser muito claros no discurso e dizer, de forma muito assertiva, que precisamos, de facto, de mão de obra estrangeira para poder ocupar muitas vagas que estão por preencher. Falamos em cerca de 50 mil lugares por preencher no setor do turismo. Portanto, isto é uma evidência. Agora temos é que acelerar a forma de conseguir resolver o problema.

E acha que estas medidas que o ministro da Administração Interna anunciou há dias vão ajudar? Porque, na prática, vão servir para regularizar a situação de muitas pessoas que já cá estão, por vezes a trabalhar, mas de forma irregular.

Sim, mas eu julgo que ainda teremos de recrutar mais e teremos de olhar para com quem temos boa relação. Podem ser os PALOP, pode ser o Brasil. Há pouco estivemos no Sul do Brasil e, de facto, ficámos muito bem impressionados pela qualidade dos recursos humanos brasileiros no setor do turismo. Também poderia ser um centro de captação de mão de obra. E há algumas empresas que vão fazendo, pontualmente, "roadshows" de recrutamento.

Depois, aqui há outros processos, que têm a ver com os vistos. Tudo isto demora mais do que seria desejado, mas esperemos que agora estes novos anúncios e estas novas medidas possam acelerar algo que é urgente para o país.

Como vai ser a presença do Porto e Norte na BTL? O que é que os profissionais e o público podem esperar?

Podem esperar novamente um grande stand, como tem sido nos últimos anos, cerca de 1.200 metros quadrados de área e com uma agenda muito repleta. Estimamos em mais de 500 ações que se realizarão dentro

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