O título do Benfica em seis momentos chave

As águias conquistaram o 38.º campeonato da sua história depois de três anos consecutivos sem título. Confira os principais momentos da época da equipa de Roger Schmidt.

27 mai, 2023 - 20:00 • Eduardo Soares da Silva



Foto: BRUNO FAHY/Reuters
Foto: BRUNO FAHY/Reuters

A vitória na última jornada frente ao Santa Clara confirmou o 38.º título de campeão nacional da história do Benfica, mas a conquista de campeonato fez-se de vários momentos importantes ao longo de uma temporada atípica, com a realização do Campeonato do Mundo em novembro e dezembro.

A Renascença reúne seis momentos importantes para a conquista do título que escapava desde 2018/19.


Entrada fulminante

Os primeiros sinais da pré-temporada apontavam para um Benfica forte, mas nem as pré-eliminatórias da Liga dos Campeões conseguiram afetar o arranque imaculado das águias, que venceram todos os 13 jogos até à primeira pausa para seleções.

Para o campeonato, foram sete jornadas a somar todos os pontos possíveis: vitórias na Luz frente ao Arouca, Paços de Ferreira, Vizela e Marítimo e deslocações aos terrenos do Casa Pia, Boavista e Famalicão.

Na retina dos primeiros jogos ficam as vitórias suadas contra o Vizela, com o penálti vencedor de João Mário aos 90+11 minutos, como as goleadas expressivas frente ao Arouca e Marítimo.

Mas tão importante quanto os triunfos da equipa de Roger Schmidt foram os resultados dos rivais. O FC Porto já tinha deixado para trás cinco pontos - uma derrota e um empate - e o Sporting estava a meio da tabela, já a 11 pontos de distância.

Desde cedo que as águias cavaram um fosso na tabela classificativa que marcou o ritmo para o resto da época.


João Mário decidiu o Benfica-Vizela, com um penálti aos 90+11 minutos. Tirou a camisola e foi expulso, com segundo cartão amarelo. Foto: Miguel A. Lopes/Lusa
João Mário decidiu o Benfica-Vizela, com um penálti aos 90+11 minutos. Tirou a camisola e foi expulso, com segundo cartão amarelo. Foto: Miguel A. Lopes/Lusa

Vitória no Dragão

A primeira grande vitória da época foi no Estádio do Dragão, frente ao campeão em título, FC Porto.

O Benfica não vencia o Porto desde 2019, quando João Félix e Rafa Silva encaminharam a equipa de Bruno Lage para um título com reviravolta na tabela. Pelo meio, foram nove jogos consecutivos a sorrir ao FC Porto, quer com vitórias (7), ou empates (2).

O FC Porto ficou fortemente desfalcado ainda na primeira parte com a expulsão, por acumulação de amarelos, de Stephen Eustaquio, e as águias acabariam por marcar o golo que deu a vitória.

Rafa Silva e David Neres conduziram um contra-ataque rápido e o internacional português, depois de alguma confusão na área, rematou para o fundo da baliza.


Rafa Silva marcou frente ao FC Porto, no Dragão. Foto: Estela Silva/Lusa
Rafa Silva marcou frente ao FC Porto, no Dragão. Foto: Estela Silva/Lusa

Primeira derrota com estrondo

Foram precisos esperar cinco meses para se assistir à primeira derrota do Benfica. Só depois do Campeonato do Mundo é que as águias tropeçaram pela primeira vez. E logo com grande estrondo.

No primeiro jogo para o campeonato após o Mundial, a 30 de dezembro, o Benfica teve o seu segundo grande teste interno da época na visita ao terreno do Braga.

Os minhotos dominaram por completo o Benfica e conseguiram uma imponente vitória com traços de goleada, por 3-0, com "bis" de Ricardo Horta - que meses antes tinha estado numa longa novela por uma possível transferência para a Luz -, e um de Abel Ruiz.

Apesar da derrota, as águias mantinham uma distância de cinco pontos para o FC Porto, seis para o Sporting de Braga e nove para o Sporting. Para a história fica a série de 28 jogos consecutivos em todas as competições sem derrotas.


Foto: Hugo Delgado/EPA
Foto: Hugo Delgado/EPA

Saída de Enzo abriu espaço a Chiquinho e João Neves

Chegou, viu, brilhou e saiu. Tudo em meio ano. A passagem de Enzo Fernández pelo Benfica foi tão bem sucedida que deixou também uma dose de frustração no clube.

O argentino foi contratado ao River Plate no verão e chegou com rótulo de craque. Foi de imediato titular nas opções de Roger Schmidt e o início de época não poderia ter sido mais promissor, com o médio a marcar nos primeiros três jogos oficiais (nos dois frente ao Midtjylland e frente ao Arouca, na primeira jornada).

O Campeonato do Mundo levou Enzo para outro patamar. De uma incerteza na convocatória, o argentino convenceu Scaloni e foi titular em todos os jogos a eliminar depois de um grande golo frente ao México na segunda jornada da fase de grupos.

A Argentina venceu o Mundial, Enzo ficou com o prémio de melhor jovem jogador do torneio e nunca mais saiu do radar dos tubarões europeus. O Chelsea desde cedo que se posicionou como o principal candidato a levar o médio, que também não escondeu a vontade de sair, tendo até voltado à Argentina, sem autorização do clube, para a passagem de ano.

Depois de uma abordagem inicial falhada dos "blues" - com acusações de manipulação - e de pazes feitas com os adeptos ao bater no peito após marcar golo frente ao Varzim, tudo parecia encaminhado para Enzo ficar na Luz até ao verão.

No entanto, o Chelsea decidiu mesmo cobrir a cláusula de rescisão de 120 milhões de euros e Enzo rumou a Londres, no último dia de mercado, enquanto as águias jogavam em Arouca e venciam mais uma partida.

A transferência encheu os cofres do clube, mas não deu tempo para recorrer ao mercado em busca de um substituto.

Chiquinho assumiu a posição e rapidamente convenceu os adeptos. O médio que não fazia parte das opções de Jorge Jesus e tinha sido emprestado ao Sporting de Braga e Giresunspor na época anterior acabaria por ser decisivo e marcar o golo que deu a vitória em Barcelos, a quatro jornadas do final do campeonato.

Durante a pausa para o Mundial, Roger Schmidt recorreu à formação para reforçar a equipa e integrou o jovem João Neves, de apenas 18 anos, também importante na reta final da época.


Foto: José Sena Goulão/EPA
Foto: José Sena Goulão/EPA

Derrotas com Porto e Chaves confirmaram tradição de entrar mal após pausa para seleções

Apesar de uma temporada com poucos deslizes, a maioria aconteceu sempre depois das pausas para seleções.

A primeira vez que as águias deixaram escapar pontos foi a 1 de outubro, em Guimarães, num empate sem golos no primeiro jogo depois da última pausa antes do Mundial do Qatar.

De regresso aos clubes depois da paragem para o Campeonato do Mundo, e apesar da equipa ter continuado com competição espaçada na Taça da Liga, o Benfica não evitou a primeira derrota da época. As águias perderam por 3-0 no terreno do Sporting de Braga no último jogo do ano, dias depois da eliminação da Taça da Liga, com o Moreirense.

A terceira pausa para seleções confirmou a tendência. Em abril, as águias ainda entraram com uma vitória em Vila do Conde, mas seguiram-se quatro jogos consecutivos sem perder que chegaram a colocar um ponto de interrogação no desfecho da época.

O Benfica perdeu com o rival Porto, encurtando a liderança para sete pontos, num jogo de domínio quase incontestável dos dragões.

De seguida, uma derrota inesperada em Chaves, por 1-0, deixou os dragões a quatro pontos de distância, reacendeu a luta pelo título e confirmou o pior momento da temporada, com a eliminação da Liga dos Campeões pelo meio, frente ao Inter de Milão, nos quartos de final.


Uribe e Taremi marcaram os golos de uma vitória incontestável dos dragões e que deu início à pior série da época do Benfica. Foto: Tiago Petinga/Lusa
Uribe e Taremi marcaram os golos de uma vitória incontestável dos dragões e que deu início à pior série da época do Benfica. Foto: Tiago Petinga/Lusa

Vitória com o Estoril e Braga embalam para o título

Depois da instabilidade, as vitórias que aproximaram o Benfica do título. A pior série da época com as derrotas com FC Porto, Chaves e Inter terminou com um triunfo suado, na Luz, frente ao Estoril.

O capitão Otamedi, que dias antes tinha ficado ligado à derrota em Chaves, redimiu-se e de cabeça marcou o golo que fez o Benfica regressar às vitórias.

Seguiu-se novo jogo complicado em Barcelos, a última deslocação ao norte do país. O jogo esteve empatado até perto do final e perder pontos era praticamente proibido, ainda com jogos frente ao Braga e Sporting pela frente.

Chiquinho saiu do banco e resolveu, com um golo de cabeça aos 73 minutos, antes de Grimaldo fechar as contas, de penálti, já perto do fim.

O Benfica teria um novo grande teste na receção ao Sporting de Braga, equipa que ainda alimentava esperança do título. Os minhotos entraram em campo a seis pontos de distância das águias e uma vitória abriria a discussão pelo título a três equipas.

A equipa de Roger Schmidt superiorizou-se desde cedo, mas o golo da vitória surgiu só na segunda parte com um contra-ataque letal de Rafa Silva, que esteve apagado durante a segunda metade da época, mas subiu à altura da ocasião.


Rafa marcou à antiga equipa e encaminhou as águias para o título na Luz. Foto: José Sena Goulão/Lusa
Rafa marcou à antiga equipa e encaminhou as águias para o título na Luz. Foto: José Sena Goulão/Lusa

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