28 jul, 2022 - 20:49 • Redação
O Papa Francisco está no Canadá para uma visita de "penitência", como o próprio a definiu. O objetivo da viagem de uma semana é reconciliar a Igreja com as comunidades indígenas que sofreram abusos em escolas residenciais.
Em março, representantes dos três grandes grupos de povos indígenas foram ao Vaticano partilhar com o Papa Francisco as feridas que estas comunidades carregam. O Sumo Pontífice decidiu iniciar "um caminho penitencial".
Na viagem de avião para o Canadá, o Papa Francisco aproveitou para cumprimentar a Vaticanista da Renascença, Aura Miguel, que já acompanhou mais de 100 viagens do Santo Padre.
No primeiro dia da visita ao Canadá, Francisco deslocou-se a Maskwacis, na província de Alberta, onde se encontram as reservas das tribos indígenas Métis e Inuit.
Recebido pelos chefes-anciãos das principais comunidades, o Papa dirigiu-se ao cemitério para rezar, em silêncio, pelas vítimas das escolas comunitárias.
Durante a tarde, houve uma cerimónia com as comunidades indígenas. O Papa foi recebido com uma "dança de cura e reconciliação".
“Está connosco, como prometeu”, disse um líder das "Primeiras Nações" no discurso de boas-vindas ao Santo Padre.
A intervenção de Francisco ficou marcada pela emotividade com que o líder da Igreja Católica se dirigiu a estes povos, onde reconheceu que "as consequências globais das políticas ligadas às escolas residenciais foram catastróficas".
Aos povos nativos do Canadá que foram oprimidos no passado, o Papa pede "humildemente perdão pelo mal cometido por tantos cristãos".
No segundo dia da sua visita ao Canadá, dedicado à comunidade católica, o Papa reuniu-se com os membros da comunidade paroquial de Edmonton, a Igreja do Sagrado Coração.
A cerimónia teve lugar no Commonwealth Stadium, em Edmonton, onde Francisco foi recebido com cânticos tradicionais indígenas, como forma de agradecimento pela sua presença.
“Alegra-me ver que nesta paróquia - para onde confluem pessoas das diferentes comunidades das Firts Nations, dos Métis e dos Inuit, juntamente com população não indígena da localidade e diversos irmãos e irmãs imigrantes - tal trabalho já começou. Eis uma casa para todos, aberta e inclusiva como deve ser a Igreja”, sublinhou Francisco no seu discurso.
O Papa lembrou que Deus "sempre ama, liberta e deixa livres", e que as atitudes preconceituosas e discriminatórias não fazem parte da educação cristã.
Para Francisco, o respeito pelo legado de quem nos precedeu, é fundamental. O Santo Pontífice aproveitou também para dedicar as suas palavras aos idosos e aos avós.
Na terça-feira à tarde, o Papa Francisco peregrinou até ao Lago Sant'Ana, em celebração do dia de São Joaquim e Sant'Ana, os avós de Jesus. Para muitos indígenas, mergulhar nas águas do 'Lago de Deus' é um ritual sagrado.
O Papa, acompanhado pelos líderes indígenas, rezou à beira da água do Lago Sant'Ana. No fim da homília da Celebração da Palavra, Francisco relembrou o "quão preciosos" são os cristãos.
Em entrevista à vaticanista da Renascença, Aura Miguel, o chefe índio Tony Alexis disse estar grato pela visita de Francisco, enaltecendo que se trata de "um sinal de respeito pelas nossas tradições, língua e cultura".
Cumprindo a segunda etapa da sua viagem ao Canadá, o Papa chegou à cidade do Québec na quarta-feira. Foi ali, numa das cidades mais antigas do país, que Francisco se encontrou com as autoridades civis e com os representantes das comunidades indígenas.
Durante o discurso, o Papa teceu críticas às "colonizações ideológicas" e à "cultura do cancelamento", e renovou o "pedido de perdão" às populações indígenas.
“É preciso saber olhar – como ensina a sabedoria indígena – para as gerações futuras, e não para as conveniências imediatas, prazos eleitorais ou apoio dos lóbis. É preciso também valorizar os desejos de fraternidade, justiça e paz das jovens gerações”, afirmou.
A dois dias do fim da sua viagem apostólica ao Canadá, o Papa visitou o Santuário Nacional de Sainte Anne de Beaupré, que é considerado o local mais antigo de peregrinação da América do Norte.
Um dos momentos que marcou o discurso de Francisco foi um alerta que o líder proferiu sobre o "cuidado com a tentação da fuga”, porque, “não há nada pior, perante os fracassos da vida, do que fugir para não os enfrentar”.
Na última etapa da visita "penitencial" ao Canadá, na sexta-feira, Francisco dirigiu-se ao encontro da maior comunidade dos Innuit, em Iqaluit, capital de Nunavut.
Na terra de igloos e de esquimós, o Papa encontrou-se em privado com um grupo de alunos sobreviventes das antigas escolas residenciais. Depois da reunião, reforça o pedido de perdão "pelo mal que cometeram não poucos católicos nestas escolas, contribuindo para as políticas de assimilação cultural", e ainda agradeceu aos sobreviventes pela "coragem" das suas partilhas.
De seguida, encontrou-se com jovens e idosos da comunidade indígena inuit, a quem garantiu total empenho no caminho de reconciliação que está a ser feito. Aos mais novos da comunidade, fez um apelo: "Quero dizer-te a ti, irmão e irmã jovem: tu és a resposta, não só porque se te rendes já perdeste, mas porque o futuro está nas tuas mãos", disse o Santo Padre.
A viagem do Papa Francisco ao Canadá terminou na sexta-feira, dia 29 de julho. Ao longo da visita, ouviu os testemunhos das comunidades indígenas que, durante anos, sofreram nas mãos de cristãos e lamentou, em nome da Igreja, os males cometidos no passado.
Os pedidos de perdão de Francisco foram constantes, e o próprio admite que existe um longo caminho a ser percorrido.
Depois de reforçar a importância dos idosos, o Papa termina a sua viagem a alertar os jovens para o seu papel no futuro.
"Pensa na andorinha do Ártico, que não deixa que os ventos contrários, ou as mudanças bruscas da temperatura, a impeçam de ir de uma extremidade à outra da terra; às vezes escolhe rotas que não são diretas, aceita fazer desvios, mas mantém sempre clara a meta", disse.