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Tony Alexis, chefe índio da Nakota Sioux Nations

"Quando se fala em perdão, não é só para a igreja, é também para o governo"

28 jul, 2022 - 07:00 • Aura Miguel (no Canadá)

O chefe índio Tony Alexis, da Nação Nakota Sioux, é um dos líderes que recebeu o Papa no Canadá. Homem de diálogo, partilhou com a Renascença as suas impressões da visita do Papa e apela à comunidade internacional para uma investigação independente sobre o que se passou no passado recente com as comunidades indígenas.

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Está contente com a visita do Santo Padre ao Canadá?

O facto do Papa vir ao Canadá para se encontrar connosco, pedir perdão e ouvir as nossas preocupações é um passo importante neste caminho de diálogo e reconciliação. Os povos nativos mereciam há muito esta visita.

Como encara os pedidos de perdão feitos pelo Papa?

São mais um passo importante de ajuda no difícil processo de cura. Mas os pedidos de desculpa são só o começo. Ainda há muito por fazer. Quando se fala na necessidade de pedir perdão, não é só para a Igreja, é também para o governo. O governo tem de cumprir as suas obrigações, porque tudo começou com eles, os internatos estavam ao serviço do governo. Por isso, precisamos de trabalhar juntos, de trabalhar com o governo.

E em que ponto estão as vossas relações com o governo?

Eles têm de se encontrar mais connosco, têm de ouvir os nossos pontos de vista. Fiquei desapontado com os preparativos desta visita, porque não nos consultaram como deviam, para preparar a agenda do Papa no Canadá. Alguém decidiu tudo por nós.

Neste processo tão doloroso, qual é o passo seguinte?

No seu discurso às populações indígenas, o Santo Padre pediu para se fazer uma investigação séria sobre tudo o que aconteceu e nós concordamos com ele. Tem de haver uma investigação independente para que, uma vez terminada, possa ter efeitos concretos na vida real de todos.

E como é isso possível?

Apelamos à comunidade internacional para que nos ajude a perceber exatamente o que aqui se passou. É fundamental que a verdade seja apurada com clareza. As investigações não podem estar só a cargo do Canadá, nem da Igreja, terão de ser feitas por alguém independente.

O que vai dizer ao Papa?

Em 2016 encontrei-me com ele no Vaticano e tivémos oportunidade de conversar, de partilhar as preocupações da nossa comunidade. Levei várias mensagens pessoais, que muitos me pediram para lhe entregar, relacionadas com as nossas feridas e necessidades de cura. E também lhe ofereci um tambor, para poder sentir o bater do coração da nossa terra-mãe. No fim, entreguei-lhe uma carta a convidá-lo para vir cá visitar-nos. E ele agora veio!

E agora, com o Papa a visitar-vos, qual é o próximo passo?

Agora, o próximo passo é termos a certeza de que todos os que ainda sofrem e precisam de curar as suas feridas, tenham mais apoio. Queremos redobrar esforços para cuidar dos sobreviventes, queremos estar ao lado dos que se identificam com os esforços da Igreja e também dos que ainda continuam a sofrer por causa dela, estar ao lado dos que se mantêm cristãos nas suas comunidades de sempre, queremos apoiá-los e amar todos.

A nossa conversa decorre junto ao Lago Saint’Anne, lugar sagrado para os indígenas e santuário cristão. Qual é a importância do Papa vir aqui?

É um sinal de respeito pelas nossas tradições, língua e cultura.

Quando se fala em feridas e cura, pensamos logo no Lago Saint’Anne e no que ele representa para os povos indígenas. Ao dar-nos a benção com a água deste lago sagrado, o Papa dá-nos mais um motivo de alegria porque há indígenas batizados que são cristãos convictos.

Mas é também um sinal para o mundo inteiro sobre o verdadeiro significado do amor e do perdão como via de aproximação e cura.

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