O Presidente da República de Timor-Leste, José Ramos-Horta, garante que o seu país está disponível para repatriar todos os timorenses que se encontrem sem apoio nem condições em Portugal.

O Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) admite que serão mais de 1.200, 865 já foram identificados e 542 foram realojados em várias localidades do país. Em entrevista à Renascença, Ramos-Horta diz que o processo está a ser tratado pela Organização Internacional das Migrações (OIM), mas admite que a maioria não tenciona regressar.

"Timor-Leste não tem qualquer problema. Temos apoio da OIM [Organização Internacional para as Migrações] para os repatriar, só que eles não querem", explica o chefe de Estado.

Ramos-Horta salienta que os timorenses viajam para Portugal "porque acham que é mais rápido conseguirem a nacionalidade portuguesa a que têm direito", processo que pode durar quatro ou mais anos, "para depois irem trabalhar para outros países europeus".

"Não necessariamente em Portugal. Sobretudo para a Inglaterra, onde já estão milhares de timorenses, e para a Irlanda. Estamos a envidar esforços, aqueles que queiram voltar voltam. Não há problema nenhum da parte de Timor", esclarece.

Encontro com timorenses vítimas de "problema global"


Ramos-Horta diz que tem encontro marcados com alguns dos timorenses que foram notícia, nas últimas semanas, por se encontrarem em situação de vulnerabilidade. Migrantes muitas vezes atraídos por falsas ofertas de emprego e que pagaram muito dinheiro por uma viagem.

"Vou vê-los, quero vê-los. Tenho muita penas deles, muitos são pessoas inocentes, ingénuas, que foram enganadas. Muitos até têm um bilhete de regresso a Timor falsificado, pagaram o dinheiro, recorreram a agiotas que lhes cobram 100% de juros sobre o empréstimo e têm um bilhete falso de regresso a Timor. Vou falar com eles de uma forma informal. Não quero politizar um problema que já está demasiado politizado", ressalva.

O Presidente de Timor-Leste reconhece que o problema é antigo: tem de ser resolvido no ponto de partida e isso só se faz com a cooperação dos vários países:

"Não quero dramatizar, o tráfico humano começa em Timor-Leste com grupos de pessoas sem escrúpulos que fazem disto negócio há décadas. No terreno, as nossas forças de segurança estão a trabalhar para travar o fenómeno na raiz, mas é necessária cooperação com as diferentes policias, porque o tráfico humano é um problema global."

Este é um dos problemas que vão marcar a agenda de Ramos-Horta, que está em Portugal em visita de Estado, a convite de Marcelo Rebelo de Sousa.

Digitalizar Timor-Leste e promover investimento


Na primeira deslocação a Portugal desde que foi eleito, em abril, Ramos-Horta tem encontros com o Presidente da República e com o primeiro-ministro, António Costa, e vai estar presente na Web Summit.

Na conferência de tecnologia, que se realizará entre 1 e 4 de novembro, em Lisboa, o chefe de Estado de Timor-Leste vai participar numa mesa-redonda organizada pelo G7+, organização que reúne países com conflitos ou em situações de fragilidade. Aí, revela à Renascença, o objetivo será, também, "procurar interessados em apoiar na digitalização de Timor".

Atrair investidores portugueses para Timor-Leste é outro desígnio de Ramos-Horta, que tem presença assegurada num evento de negócios onde estarão presentes empresários nacionais sobretudo nas áreas farmacêutica, moda, agrícola e de calçado.

"Foi uma iniciativa minha, para encorajar empresários portugueses a investirem em Timor-Leste, tendo em vista a próxima adesão de Timor à ASEAN [Associação de Nações do Sudeste Asiático], um mercado de mais de 700 milhões de pessoas", revela.

O objetivo é que Timor-Leste possa ser a ponte para as empresas portuguesas poderem expandir-se para o mercado do Sudoeste asiático e, ao mesmo tempo, ajudar a economia timorense, explica.

Questionado pela Renascença sobre as denúncias e abusos sexuais que envolvem D. Ximenes Belo, o antigo bispo de Dili, Ramos-Horta recusa fazer comentários. Diz que "é um processo que está a ser gerido pela Santa Sé", e desconhece se alguma denúncia foi feita oficialmente e, até, se o caso está a ser investigado em Timor.