15 nov, 2021 - 07:00 • Manuela Pires , Joana Bourgard (imagem)
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O partido chega a estas eleições internas depois de um período conturbado por causa das datas. O assunto foi discutido no Conselho Nacional e o Paulo Rangel tem duas vitórias expressivas dos conselheiros. É um bom sinal para as diretas? Acredita mesmo que vai ganhar desta vez? A sondagem da Universidade Católica diz que o eleitorado prefere Rio como primeiro-ministro.
Eu estou muito confiante, mas a decisão é dos militantes, eles são livres e são eles que vão fazer essa escolha. Todos os apoios são bons sinais, que nos encorajam, mas temos de ser humildes quando estamos numa disputa eleitoral. O que importa é que os militantes, no dia 27 de novembro, têm a palavra final e não é com base em decisões de metodologia para as eleições que eu vou retirar ilações. Eu vou continuar a falar com os militantes. Não vou ficar numa torre de marfim. Estou a fazer campanha em todos os distritos.
Apesar de o seu adversário ter anunciado que não faz campanha interna, que prefere falar para o país, vai manter a sua estratégia ou fazer alguns ajustes?
Antes do meu adversário já eu tinha dito que só estava a falar para o país. Ao contrário dele [Rui Rio], eu não faço ataques ao meu adversário. Curiosamente, ele diz que fala para o país, mas nas entrevistas que dá não ataca o Governo socialista e dedica-se a observações muito críticas à minha candidatura. Estas eleições internas são umas primárias para primeiro-ministro, é assim que devem ser encaradas.
Mas Rui Rio diz que o debate interno é uma forma de fornecer munições para o PS usar na campanha das legislativas?
Depende. Se fizerem como eu estou a fazer, que falo do projecto que tenho para o país e de como é que devemos governar partir de janeiro de 2022, rapidamente se perceberá que o debate interno pode ser uma grande oportunidade para o PSD se colocar na linha da frente. O que é fundamental é respeitar os militantes. Eu acho que desistir de esclarecer os militantes...
E com esta atitude Rui Rio está a desvalorizar estas directas?
Há muitas formas de falar com os militantes e essa é a forma de respeitar os militantes. Já estive em muitos sítios e em todas as sessões os militantes fazem perguntas, não sobre o partido, mas sobre políticas nacionais. E isto significa que as pessoas estão ávidas de alguém que lhes dê soluções para o país.
E Rui Rio não tem feito isso?
Não me compete estar a criticá-lo. Eu vou continuar a fazer o meu trabalho que é falar sobre as soluções que tenho para o país.
Francisco Pinto Balsemão, que apoiou Rui Rio nas duas últimas eleições, já disse que desta vez não declara apoio ao líder do partido. Vê nesta posição do militante número 1 do partido, um apoio à sua candidatura?
Eu não posso falar por ele. Só digo que Francisco Pinto Balsemão é um homem muito experiente e a minha interpretação das suas palavras é que ele considera que ambos estão em igualdade de condições. E isso desmente algumas declarações que o actual presidente do PSD tem feito.
O seu adversário diz que não está preparado para ser primeiro-ministro. Como é que responde a esta acusação? Que argumentos apresenta em seu favor que demonstrem que está preparado para o cargo?
Eu não vou responder a essa afirmação porque isso seria aceitar que alguém sozinho pode fazer um juízo sobre quais são as minhas qualidades. Quem decide quem é o presidente do partido são os militantes e não é uma pessoa sozinha a falar de cátedra. Para ser primeiro-ministro é preciso ter uma visão para o país, ter experiência nacional e internacional e ter uma equipa renovada.
E já tem essa equipa?
Claro que sim. Tenho muitos apoiantes com notoriedade e experiência.
Podemos esperar uma renovação dos quadros do PSD?
Essa é uma grande diferença da minha candidatura. Temos falado muito na transição ecológica e na transição digital. 2022 não é 1995, os desafios são outros e nós devemos fazer uma transição geracional. António Costa está há 40 anos na política ou Rui Rio que foi membro da comissão política de Pinto Balsemão (1981), são ambos pessoas do sistema.
E tem nomes que pode revelar?
Não vamos fazer aqui uma espécie de catálogo de personalidades, mas há muitos que estão a trabalhar na moção de estratégia e nas bases do programa eleitoral. É fundamental uma transição geracional. O PSD não pode continuar a ter pessoas a liderar as políticas sectoriais que foram ministros, e excelentes ministros, no tempo de Cavaco Silva. Os rostos do PSD têm de ter experiência, devem vir do partido, mas também da sociedade civil. Tem de haver sangue novo para os desafios de uma sociedade digital, do teletrabalho, das alterações climáticas.
As eleições legislativas são em janeiro. Nas últimas que disputou, as europeias de 2019, teve 21,9 por cento dos votos, foi o pior resultado do PSD em eleições. São eleições diferentes, mas este resultado não abona a ser favor. Nessa altura não mobilizou o eleitorado, o que vai fazer de diferente para conseguir uma maior mobilização?
Acho estranho que traga esse assunto para aqui, porque o líder do partido é que é responsável pelos resultados eleitorais. Pelo menos nas autárquicas ele imputou a si uma vitória e ele não era candidato a lado nenhum. E aí houve um erro muito grande da direção do PSD, que por solidariedade não quis denunciar – e assumi as minhas responsabilidades – que foi a crise dos professores. Até aí, nas sondagens, nós estávamos técnicamente empatados com o PS. Foi uma decisão do líder do partido que levou António Costa a ameaçar a demissão. O PSD foi fustigado na campanha por ter mudado de posição e isso teve um efeito muito negativo. Mas eu quero falar é do futuro para o país.
Os militantes do PSD estão perante duas visões diferentes. Rui Rio está disponível para viabilizar um governo PS, se perder as eleições, o senhor recusa essa ideia e admite apenas acordos com CDS e Iniciativa Liberal. E pede a maioria absoluta para o PSD. Se conseguir dar a volta às sondagens e ganhar as eleições, mas sem maioria com o CDS e Iniciativa Liberal, como vai fazer para governar o país?
Não está a falar sobre Portugal, mas sim a colocar cenários.
Mas temos de colocar cenários, até porque a sondagem do Expresso deste fim de semana dá uma descida do PSD e uma grande subida do Chega.
O que eu disse é que o PSD é um partido com vocação maioritária. E eu vou dizer ao eleitorado que, para fazer as reformas necessárias, para criar riqueza e combater a pobreza, precisamos de estabilidade.
Eu vou apelar a uma maioria absoluta do PSD e penso que há maturidade para fazer essa escolha. O voto no PS é um voto inútil porque o Partido Socialista esteve seis anos a defender um governo à esquerda que falhou. O que interessa aos portugueses são os problemas que existem nas escolas e nos hospitais, não são cenários políticos.
Mas não vou fugir à pergunta. Vou pedir a maioria absoluta. Se não for possível, pode existir uma maioria com os partidos moderados do centro e centro-direita, no CDS, na Iniciativa Liberal, sabemos que há uma linha vermelha quanto ao Chega...
E o PAN pode também entrar nesta lista?
Eventualmente, claro. E até pode haver outros partidos moderados que venham a ter votos para eleger um deputado que podem fazer a diferença. Mas se não houver maioria absoluta com outros partidos, nós seremos um governo minoritário e não é nenhum drama. Não tem nada a ver com a ideia de que não se pode falar com o Partido Socialista...
Admite procurar o apoio do PS para acordos ocasionais de incidência parlamentar?
Não é isso que estou a dizer. Uma proposta que sempre tive é que devíamos ter um entendimento com o PS quanto às pastas para dez anos que um governo deve ter, para não estar sempre a mudar. Se eu quiser fazer uma revisão constitucional por razões europeias é preciso um entendimento com o PS.
Concluindo, o único cenário que eu coloco é o PSD vencer as eleições a 30 de janeiro.
LEIA A PRIMEIRA PARTE DA ENTREVISTA AO CANDIDATO À LIDERANÇA DO PSD: "Paulo Rangel. Governo não tem legitimidade para assinar acordo dos fundos estruturais"