16 mar, 2022 - 20:23 • André Rodrigues
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Aos 21 dias de guerra, ter-se-á aberto uma janela para a paz. Apesar de a Rússia dizer que é cedo para falar de um acordo com a Ucrânia, a verdade é que, esta quarta-feira, ambas as partes conseguiram alcançar um primeiro esboço cessar as hostilidades.
De acordo com o jornal “Financial Times”, trata-se de um plano em 15 pontos que Moscovo admite aceitar, se a Ucrânia declarar a sua neutralidade, o que inclui desistir de uma futura adesão à NATO e recusar armamento e bases militares de países da Aliança Atlântica.
Nessas condições, Putin até aceita um encontro com o homólogo Zelensky, mas apenas e só se for para alcançar um acordo.
O Presidente russo diz que a invasão está a correr(...)
Até que esse dia chegue, a retórica da acusação persiste e o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergey Lavrov, acusou as autoridades de Kiev de pedirem negociações, apesar de não estarem dispostas a fazer cedências que possam levar a um acordo entre as partes.
Em causa está a posição manifestada por um dos negociadores ucranianos, Mykhailo Podoliak, que, apesar de reconhecer que o país não vai aderir à Aliança Atlântica, rejeitou a adoção, por Kiev, de um modelo de neutralidade como o austríaco ou o sueco.
“A Ucrânia está agora em guerra direta com a Rússia. Portanto, o modelo só pode ser ucraniano”, declarou Podoliak.
Do campo diplomático para o terreno da guerra, o dia ficou marcado pelo bombardeamento russo a um teatro da cidade costeira de Mariupol, que funcionava como abrigo para centenas de pessoas.
Numa publicação nas redes sociais, a câmara de Mariupol exibiu imagens mostrando danos muito significativos na estrutura, mas o ministro da Defesa russo negou responsabilidades no bombardeamento daquele edifício.
Do outro lado do Atlântico, Joe Biden resume numa curta frase o sentimento que se multiplica em várias publicações de condenação à invasão da Ucrânia, mas que nunca foi afirmada de viva voz.
Para o Presidente dos EUA, Putin é um "criminoso de guerra", depois de, há um ano, ter sido rotulado de assassino.
O Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) viabilizou esta quarta-feira medidas preventivas contra o que classifica de abusos da Rússia durante a guerra na Ucrânia. A decisão foi tomada no Palácio da Paz, em Haia, por 13 votos a favor e dois contra.
Este dia ficou, também, marcado pelo discurso de Volodymyr Zelensky perante o Congresso dos EUA, através de videoconferência, em que renovou o apelo à criação de uma zona de exclusão aérea sobre a Ucrânia para proteger o país dos ataques russos.
De "I have a dream" (Eu tenho um sonho!) para "I have a need" (Eu tenho uma necessidade), o Presidente ucraniano exclamou o pedido renovado: "Eu tenho uma necessidade, a necessidade de proteger o nosso céu. Preciso da vossa decisão, da vossa ajuda".
“É pedir demais, criar uma zona de exclusão aérea sobre a Ucrânia, salvar pessoas? É pedir demais, uma zona de exclusão aérea humanitária?", acrescentou o presidente ucraniano, antes de projetar um vídeo mostrando a destruição provocada por praticamente três semanas de guerra.
"Lembram-se de Pearl Harbor?", recordou Zelensky. "O nosso país enfrenta a mesma coisa todos os dias".
A partir de Lviv, na Ucrânia ocidental, o porta-voz da UNICEF, Joe English, revela à Renascença que, a cada segundo que passa há uma criança ucraniana que se transforma em refugiada, mais de um milhão e 500 mil crianças já atravessaram as fronteiras da Ucrânia - com as suas mães - para sobreviverem à invasão ordenada por Vladimir Putin.
Considerando que a UNICEF estima que haja 7,5 milhões de crianças na Ucrânia, isso significa que haverá, nesta altura, seis milhões de crianças numa situação desesperante.
Entre apelos à paz, a Igreja avança na frente diplomática. O Papa Francisco e o patriarca ortodoxo de Moscovo, Cirilo, conversaram sobre a guerra na Ucrânia e a situação humanitária na região, num encontro online.
"A conversa centrou-se na guerra na Ucrânia e no papel dos cristãos e seus pastores em fazer todo o possível para que a paz prevalecesse. O Papa Francisco agradeceu ao Patriarca por este encontro, motivado pelo desejo de indicar, como pastores de seu povo, um caminho para a paz, para rezar pelo dom da paz, para que o fogo cesse", adiantou, em nota enviada à imprensa, Matteo Bruni, diretor da sala de imprensa da Santa Sé.