02 mar, 2022 - 19:28 • Fábio Monteiro
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Há cada vez mais indícios, apesar de a Rússia negar, de estarem a ser utilizadas de bombas de fragmentação e termobáricas em ataques na Ucrânia – até em áreas residenciais. Na segunda-feira, emergiram nas redes sociais vídeos de ataques em Kharkiv, cidade com cerca de 1,4 milhões de habitantes, que indiciam isso.
A organização não-governamental Human Rights Watch lançou a denúncia, entretanto apoiada também pela embaixadora da Ucrânia nos Estados Unidos da América, Oksana Markarova, e Jen Psaki, porta-voz da Casa Branca.
Esta quarta-feira, dois especialistas analisaram os vídeos que circulam na internet para a agência de notícias Reuters e chegaram à mesma conclusão. “Parecem ser bombas de fragmentação, semelhantes às que têm sido usadas no Iraque e Síria”, disse Hamish de Breton-Gordon, especialista do exército britânico em munições e armas químicas, à agência. “Múltiplas explosões no momento do impacto sugerem projétil de fragmentação.”
A situação legal, contudo, não é simples. Por um lado, nem a Rússia nem a Ucrânia são signatários da Convenção sobre Armas de Fragmentação, adotada em 2008 por 110 países. Por outro, a lei internacional humanitária dita que nunca deve ser utilizada “qualquer arma ou sistema de armas que não permita distinguir entre combatentes e civis e entre objetivos militares e objetos civis”.
Ou seja, a Rússia – em teoria – não devia poder usar este tipo de munição pelo menos dentro de cidades e em proximidade com civis. Dmitry Peskov, porta-voz do Kremlin, já veio apelidar as notícias do uso deste tipo de projeteis de “notícias falsas”. Enquanto isso, a secretária-geral da Amnistia Internacional (AI), Agnès Callamard, alertou que “alguns destes ataques podem ser crimes de guerra”.
Quando utilizadas em combate, as bombas de fragmentação têm um impacto indiscriminado. Por outras palavras: não são projéteis utilizados para ataques de precisão, mas para causar o máximo dano possível. É por isso, pois, que a sua utilização dentro de uma cidade levanta dúvidas e problemas legais: são a antítese da arma que permite “distinguir entre combatentes e civis”.
Um projétil de fragmentação não é algo ultramoderno como as bombas termobáricas. Na prática, estamos a falar de um recipiente de munições mais pequenas (balas, granadas ou outras pequenas bombas, por exemplo), que, quando rebenta, dispersa o conteúdo que transporta, provocando assim dano numa larga área.
Também conhecidas como “bombas de vácuo”, as bombas termobáricas – que a CNN norte-americana disse já ter avistado em Belgorod, localidade russa perto da fronteira com a Ucrânia – são, ao nível tecnológico, muito mais avançadas que as de fragmentação. Criam explosões com elevadas temperaturas e pressões. E são muito letais porque é muito difícil escapar à área de explosão.
Ao embater, este tipo de projétil liberta um aerossol – uma mistura de metais e combustível – que se dispersa por uma grande área. Depois, quando se dá a ignição, o aerossol e o oxigénio em redor inflamam, desencadeando uma explosão de temperatura e pressão altíssima.
Estas munições são utilizadas muitas vezes para atacar estruturas fechadas como bunkers, pois conseguem “infiltrar-se” com facilidade. Há relatos de pessoas serem vaporizadas com este tipo de armamento. Mais uma vez, não são munições de “precisão”.