Conhecido durante vários anos como Macedónia, o país, cuja seleção defrontará Portugal na final do "play-off" de acesso à fase final do Mundial 2022, alterou o nome, de forma oficial, para Macedónia do Norte em fevereiro de 2019. O que originou a alteração?

Para perceber a história da mudança, há que conhecer, primeiro, o significado do termo "Macedónia", em torno do qual surge toda a controvérsia. Etimologicamente, tem origem no termo grego "makednos", que significa "longo, alto". Os macedónios antigos eram "os altos".

Historicamente, a palavra "Macedónia" refere-se a uma região e serve vários significados, entre regiões, povos, línguas e etnias do sudeste da Europa. Desde a Macedónia Antiga ao presente, passando pelos períodos romano e bizantino, a região foi adotando posições e fronteiras diferentes na Península Balcânica. Daí surge a confusão: etnicamente, há muitos "macedónios" e só alguns são os cidadãos da Macedónia do Norte. Geograficamente, também há quem se identifique como "macedónio" sem qualquer associação étnica.

A Grécia, país vizinho da Macedónia do Norte, tem uma região chamada Macedónia e, na sua história, um reino da Macedónia. Foram, precisamente, os gregos que se opuseram a que a Macedónia do Norte, que se tornou independente, em 1991, após a extinção da Jugoslávia, se chamasse "Macedónia".

Grécia contra "apenas Macedónia"


Citando preocupações irredentistas (irredentismo refere-se à intenção de um povo de criar a sua própria unidade nacional com base em identidade étnica e/ou posse histórica), a Grécia acusou a Macedónia (agora do Norte), que refutou, de "contrafação da história e usurpação do legado nacional, histórico e cultural" helénico.

A Grécia também alegou que a Macedónia do Norte tinha apropriado símbolos e figuras historicamente associadas à sua cultura, como o Sol de Vergina, a estrela de 16 raios presente nas bandeiras da Macedónia do Norte e da região grega da Macedónia, e associado à mitologia grega, e Alexandre o Grande, também conhecido como Alexandre III dos Macedónios.

Também não ajudou o nacionalismo macedónio, uma corrente associada aos macedónios étnicos, originada no século XIX, que lutaram pela independência da região da Macedónia do Império Otomano. No século XX, evoluiu para uma forma mais agressiva, o "macedonismo", que sonha com uma Macedónia Unida e pretende anexar regiões da Grécia, assim como de Albânia, Bulgária, Kosovo e Sérvia.

Acordo de Prespa


O conflito resolveu-se apenas 28 anos depois da formação da Macedónia do Norte. Até aí, as nações vizinhas referiam-se ao país como "a antiga República Jugoslava da Macedónia", ao passo que, em 1994, a União Europeia (UE) acordou aceitar qualquer nome. Em 1995, a Organização das Nações Unidas (ONU) mediou o reatar de relações cordiais entre os dois países.

A 12 de junho de 2018, um acordo. Foi assinado o Acordo de Prespa, em que a Macedónia aceitava, por fim, a designação de "República da Macedónia do Norte" e a Grécia reconhecia a língua oficial do país vizinho como o macedónio, pertencente ao grupo de línguas eslavas do sul, além de admitir que os cidadãos da Macedónia do Norte passariam a chamar-se macedónios. Foi, também, especificada a separação entre macedónios da Macedónia do Norte, macedónios da região da Macedónia e macedónios do antigo reino da Macedónia.

O Acordo de Prespa entrou em vigor a 12 de fevereiro de 2019 e foi ratificado pelas várias organizações internacionais, como a ONU, a NATO e a União Europeia.

A Macedónia do Norte estreou-se em fases finais de grandes competições de futebol no Euro 2020, em 2021, já com o nome atual. Na quinta-feira, eliminou a Itália, campeã europeia, no "play-off" de acesso ao Mundial 2022 e marcou encontro com Portugal no jogo que decidirá uma das últimas vagas para o Qatar.

O Portugal-Macedónia está marcado para a próxima terça-feira, 29 de março, às 19h45, no Estádio do Dragão. Terá relato em direto na Renascença e acompanhamento ao minuto em rr.sapo.pt.