Benfica

Roger Schmidt, o alemão que fala inglês e conquistou Portugal à primeira

27 mai, 2023 - 20:00 • Inês Braga Sampaio

Foi escolhido a dedo por Rui Costa, encantou os adeptos com o futebol vistoso, fez frente a tubarões europeus e, quando o barco abanou, soube guiar o Benfica através da tempestade. Recorde o percurso de Roger Schmidt, de "São Sebastião" a campeão.

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Entre a neblina de mais uma época triste e sem títulos, dividida entre um filho pródigo que voltou a sair pela porta pequena, Jorge Jesus, e um interino que não foi Lage, Nélson Veríssimo, surgiu a silhueta de um alemão de futebol vistoso, mas que falava um inglês carregado e pouco ou nada conhecia o futebol português.

Roger Schmidt era a escolha pessoal de Rui Costa, o primeiro treinador do novo presidente do Benfica. À chegada a Portugal, sucederam-se as declarações de amor.

"Eu amo o futebol e quem ama futebol ama o Benfica", enalteceu Schmidt no aeroporto. Ou até: "O clube não ganha títulos há três anos e eu quero ganhá-los."

"Eu amo o futebol e quem ama futebol ama o Benfica."

"Não sei se é o meu clube de sonho, é difícil dizer isso, mas é, sem dúvida, um clube especial. Senti-o desde o início. Estou em Lisboa há duas semanas e consigo sentir a paixão e o amor dos adeptos pelo clube", disse ainda o técnico alemão.

Os adeptos corresponderam: o tradicional treino aberto da pré-época no Estádio da Luz teve recorde de assistência: 23.470 pessoas foram ver o novo Benfica em ação.

O pleno de vitórias nos jogos de pré-temporada acentuou a euforia dos adeptos e o arranque fulgurante, com 13 vitórias consecutivas - sete no campeonato, antes do empate com o Vitória de Guimarães, à oitava jornada -, traduziram-se numa liderança que o Benfica não mais largou, apesar de um ou outro deslize.

Na Liga dos Campeões, resultados positivos contra Juventus e Paris Saint-Germain desenganaram quem dizia que o Benfica ainda não tinha sido verdadeiramente testado. O futebol entusiasmava, ainda que o discurso de Roger Schmidt se mantivesse sóbrio, quase repetitivo, algo que ajudou a manter a calma entre as hostes quando chegou a fase mais complicada da temporada.

"O Benfica é um lugar extraordinário para viver o futebol, lutar por títulos."

Após o Mundial, o Benfica caiu da Taça da Liga, depois da Taça de Portugal, foi eliminado da Champions e perdeu com Sporting de Braga, por 3-0 (a primeira derrota da época), FC Porto, após reviravolta, na Luz, e Desportivo de Chaves.

Enzo Fernández saiu, por um recorde de 121 milhões de euros, para o Chelsea, entre grande polémica. Schmidt defendeu vocalmente a honra do Benfica, que não queria abdicar do médio, campeão do mundo pela Argentina. Todavia, o próprio Enzo não quis desperdiçar a oportunidade de rumar a um grande da Premier League e o acordo acabou por ficar selado, não sem deixar um amargo de boca na Luz.

"Quando se perde há muito barulho. Temos de estar juntos e crescer."

"Nos últimos jogos, estivemos demasiado focados em cada um de nós em vez da equipa."

De repente, tudo foi questionado: o planeamento para a época, as férias, a saída de Enzo Fernández, os titulares que tão bons resultados tinham garantido, o "timing" da renovação de contrato com o treinador, que ainda nada conquistara, e o próprio Schmidt, que pouco rodava a equipa e levara os jogadores à exaustão.

Contudo, Schmidt juntou as tropas, mandou alguns recados - "estivemos demasiado focados em cada um de nós em vez da equipa", chegou a afirmar - e, nas provas de fogo frente a Estoril e Gil Vicente, o Benfica conseguiu ganhar, mesmo jogando mal, e ganhar o fôlego necessário para se reerguer.

"Sinto-me 0% campeão. Nem me sinto quase campeão, nem 90% campeão. Ou és campeão ou não és. Nada está decidido. Não me sinto nada campeão."

Mesmo após a goleada ao Portimonense, quando faltou a faltar ao Benfica uma vitória para festejar, o técnico sublinhou que se sentia "0% campeão".

"Não me sinto nada campeão, nem me sinto quase campeão, nem 90% campeão. Ou és campeão ou não és. Ainda nada está decidido", disse na 32.ª jornada.

Chega a última jornada, vitória sobre o Santa Clara e o Benfica é campeão, quatro anos depois. O alemão escolhido a dedo por Rui Costa e que ajudou os portugueses a melhorar o seu inglês conquistou Portugal à primeira tentativa.

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