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O incêndio na Serra da Estrela já lavra desde sábado e surgem cada vez mais críticas em relação à ação da Proteção Civil. Mas afinal, há falhas, ou não, no combate às chamas?

A Renascença procurou a resposta junto de dois especialistas, mas as opiniões divergem. Há quem aponte falhas e há quem sustente que a estratégia de combate ao incendio da Serra da Estrela tem sido globalmente correta.

Quem aponta falhas é o diretor de comunicação da AsproCivil, a Associação Portuguesa de Técnicos de Segurança e Proteção Civil. Jorge Carvalho da Silva diz que este incêndio, pelas características da serra, exige muitos mais meios aéreos, e que tem havido "alguns erros de casting".

"Há alguns erros de 'casting' com meios aéres, como paragens por falta de combustível durante tempos intermináveis, inspeções a meio do combate quando deveriam ter sido feitas antes da época dos incêndios. Tudo isto atrasa. Se tivermos um carrossel bom de meios áereos a acalmar as chamas, é mais fácil o bombeiro travar uma chama que chega curta", começa por dizer.

Jorge Carvalho da Silva diz que, pela topografia do território, é um incêndio que exige mais meios aéreos: "É uma serra com uma densidade florestal imensa, não há zonas de descontinuidade para colocar meios pedestres. É preciso ver de outra forma, porque são precisos muitos mais meios aéreos".

Neste quadro, duvida que nas próximas horas seja possível extinguir este incêndio: "Tenho muitas dúvidas, pela forma como o calor e o vento está a empurrar o fogo. Podemos ver bombeiros com carros estacionados em pasto com um metro e meio de altura. É tentar travá-lo quando descer alguma encosta, ou uma frente mais calma e pedir ajuda divina quase, ou que comece a chover".

Por outro lado, Miguel Almeida, investigador sénior do Centro de Estudos sobre Incêndios Florestais, discorda com os críticos.

"Numa operação que envolve bem mais de 1500 homens, é normal que existam pontualmente falhas. Mas do ponto de vista geral, não partilho da opinião das pessoas que dizem que há falta de coordenação", diz.

O especialista destaca as principais dificuldades no combate às chamas.

"O incêndio começou com grande velocidade de propagação que dificultou o ataque inicial. Os meios tinham necessidade de chegar à frente, mas no terreno percebi que há muito poucos acessos. É uma topografia muito acidentada, com humidade extremamente baixa, juntando a um vento de tarde que complica", afirma à Renascença.

Na noite de quinta-feira, o presidente da Câmara Municipal da Guarda descreveu à Renascença o agravar de uma situação "dantesca" e reporta descoordenação dos meios no local.

"Isto não é normal. Passamos em várias frentes e não vemos pessoas, só quando as chamas se aproximam das casas. Já vi desarticulação de meios no local, é só por a mão na consciencia. Há muita temperatura, muito declive, muita intensidade do vento, mas afinal o que se passa? Pedimos meios e máquinas, mas chegam a tarde e a más horas e quando aparecem demoram horas a serem entregue uma missão às pessoas. E já reportei à tutela", atira.

O incêndio que deflagrou no sábado no concelho da Covilhã e alastrou para Manteigas, Gouveia, Guarda e Celorico da Beira era combatido por quase 1.700 operacionais, sendo o único ativo em Portugal continental de grandes dimensões.

Com início na madrugada de sábado nos concelhos da Covilhã (distrito de Castelo Branco) e de Manteigas, o fogo atingiu na tarde de quarta-feira também Gouveia e Guarda e passou hoje, a meio da manhã, para o concelho de Celorico da Beira.

O capotamento de uma viatura dos bombeiros de Loures na zona de Celorico da Beira (Guarda), durante o combate ao incêndio, provocou hoje três feridos graves e dois ligeiros, segundo a Proteção Civil.