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Série "Rabo de Peixe" chega à montra da Netflix

22 mai, 2023 - 07:00 • Maria João Costa

É a segunda série portuguesa a estrear na plataforma de streaming. Dirigida pelo realizador açoriano Augusto Fraga, "Rabo de Peixe" contou também com a escrita dos autores João Tordo e Hugo Gonçalves. A partir de um caso real, a série conta a história de um grupo de amigos que, repentinamente, se vê confrontado com uma tonelada de droga que dá à costa nos Açores.

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Série ‘Rabo de Peixe’ chega à Netflix
Série ‘Rabo de Peixe’ chega à Netflix

Estreiam dia 26 de maio os 7 episódios de Rabo de Peixe, a segunda série com carimbo português a chegar à plataforma Netflix. Dirigida pelo realizador Augusto Fraga, com Patrícia Sequeira, a série conta nos principais papéis com atores como Albano Jerónimo, Pepê Rapazote, José Condessa, Helena Caldeira, Kelly Bailey, entre outros.

Na origem da história está um caso verídico. Em entrevista à Renascença, o realizador e publicitário Augusto Fraga explica que foi ao seu arquivo buscar a ideia quando o Instituto do Cinema abriu os concursos para apoios. “Todos os criadores têm sempre uma gaveta cheia de ideias que vamos roubando à comunicação social, sobretudo aos jornais, às rádios e às televisões”, conta o realizador.

Na génese da série está a história de um barco carregado de droga que naufragou ao largo dos Açores. Na série, um veleiro pilotado por dois italianos perde o leme no meio de uma tempestade. O carregamento, uma tonelada de droga dá à costa numa das vilas açorianas mais pobres do arquipélago. Em Rabo de Peixe, a vida de muitos, em particular, de 4 amigos, muda.

Filmada com ritmo, com uma banda sonora que marca a história, Rabo de Peixe explica o realizador levanta várias questões ao espetador. “Acho que há uma ironia divina que me atraiu muito nesta história. O detonante desta história é esta substância que, para mim, representa a corrupção e a luta pelo dinheiro. A ironia de a levar para um sítio que eu vejo como tão puro e inocente, de alguma forma, e juntar esses dois universos, pareceu-me que era um bom início para criar uma história”, sublinha Augusto Fraga à Renascença.

No centro da ação está Eduardo, a personagem desempenhada pelo ator José Condessa que à Renascença fala deste jovem carregado de sonhos e ao mesmo tempo de valores que se vê confrontado com a cocaína que deu à terra.

“O sonho não nasce só de uma necessidade de querer sair, ou querer fugir de algo, mas simplesmente dele próprio querer comandar a própria vida. E vem do trabalho, dos valores que eu também, como ator, encontrei nas pessoas de Rabo de Peixe que me ajudaram muito a criar este Eduardo”, explica Condessa.

Segundo o ator, a sua personagem, um pescador, é confrontado com um dilema ao perceber que a venda de droga poderá representar uma saída para a pobreza, e ao mesmo tempo para fazer face à despesa de uma cirurgia do pai.

“Este acontecimento põe-nos numa balança do que é que todos nós faríamos naquelas circunstâncias, tendo em conta as nossas condições pessoais, e as condições que a vida nos põe à frente. Acho que este Eduardo é muito essa luta interior”, admite José Condessa, à Renascença.

Augusto Fraga sublinha as palavras do ator. “Foi sobre esse sentimento de injustiça que quisemos falar. Porque é que uns têm tudo, e outros não tem nada? Porque é que uns nascem chicharros e os outros num mar de tubarões? Como é que essa pessoa reage quando acontece esse contexto extraordinário que lhe dá opções contra muitos dos seus valores para sair dali?”. Interrogações que também vão interpelar o espetador da série.

Kelly Bailey Foto Patrícia Andrade
Kelly Bailey Foto Patrícia Andrade
Maria João Bastos Foto Patricia Andrade
Maria João Bastos Foto Patricia Andrade
Pêpe Rapazote Foto Faya
Pêpe Rapazote Foto Faya

A responsabilidade de mostrar Portugal ao mundo

No centro da ação está um grupo de amigos que sonham outras oportunidades na vida e a quem a droga pode ser essa porta de saída. A representá-los estão atores como André Leitāo, Kelly Bailey, Helena Caldeira e Rodrigo Tomás.

Questionados sobre o que representa para si estarem na Netflix mostram-se satisfeitos com a oportunidade. Helena Caldeira que na série representa Sílvia, uma jovem que trabalha num vídeo clube e que sonha ser modelo explica que “a Netflix vai ser provavelmente a montra”.

Segundo a atriz vai ser fácil, através do computador ou da televisão, de repente, o mundo descobrir “uma ilha, no meio do Atlântico, uma aldeia, provavelmente das aldeias mais pobres da Europa de que ninguém fala”.

Helena Caldeira aponta: “Não é só é importante do ponto de vista social, mas também do ponto de vista artístico. De repente, estamos a mostrar a 170 países como é que são os atores portugueses, o que é que são as histórias portuguesas, o que é a paisagem portuguesa. Acho que é uma responsabilidade”.

Também Rodrigo Tomás fala em responsabilidade. O ator que representa Rafael, um jogador de futebol frustrado que uma lesão afastou de uma carreira desportiva, explica que “levar Rabo de Peixe ao mundo é algo de grande responsabilidade, na medida em que é um tema bastante delicado. É uma comunidade bastante marginalizada, mesmo até dentro da própria ilha, e pela qual ganhamos um grande carinho, pela sua pureza, pela sua honestidade, pelas relações que têm entre eles. Foi uma das grandes inspirações para a nossa união e para a nossa amizade”.

Já André Leitão que dá corpo a Carlinhos, um jovem gay muito católico, representa outro lado da vida na ilha açoriana. “O Carlinhos é das pessoas mais livres que esta série tem. É muito desprendido”, diz o ator em entrevista à Renascença. Segundo André Leitão, ‘Rabo de Peixe’ é uma oportunidade de mostrar ao mundo “uma história nossa que é uma tragédia, e pegar nisso e mostrar o que se faz de bom por cá, numa história bem escrita”.

Mas nem tudo corre bem na vida deste grupo de amigos, e a Polícia Judiciária entra em ação, personificada no trabalho de atores conhecidos como Maria João Bastos, ou do humorista Salvador Martinha. No limbo entre esse mundo da polícia e do grupo de amigos fica Bruna, a personagem representada pela atriz Kelly Bailey e que faz de filha do inspetor da PJ.

À Renascença, a atriz explica que a sua personagem “é uma miúda, jovem divertida que não pensa muito”. Bruna “deixa-se ficar numa relação que é tóxica com uma pessoa que não traz coisas boas”, conta a atriz que revela que é, contudo, “uma personagem que, no fim, vai mudar bastante”.

Os Açores no mundo

Rodada nos Açores, a série conta com alguns postais turísticos da ilha de São Miguel, e nem um tremor de terra falta. Talvez para isso tenha ajudado, o facto do realizador ser natural do arquipélago, mas também alguém habituado à linguagem de realização da publicidade.

Augusto Fraga diz que “é um enorme orgulho” levar os seus Açores ao mundo e ao mesmo tempo é também uma “responsabilidade”. “Por um lado, apesar de ser um grande defensor do turismo como potenciador do desenvolvimento das regiões autónomas, também sou contra. Tenho uma visão protecionista daquilo que é uma das zonas mais especiais do mundo para mim, que tem que ser protegida do exagero”, refere o realizador.

“Eu acho aquilo tudo lindo” aponta Fraga. Nesta conversa com a Renascença, o realizador faz questão sobretudo de destacar “o capital humano” dos Açores e as suas tradições. “Eu considero que os açorianos não são iguais ao resto dos continentais. Aquilo que faz das pessoas das ilhas diferentes, e em muitas coisas mais fortes, mais resistentes, é o conviverem com vulcões, com tempestades, com terramotos”, diz Augusto Fraga, que remata: “Isso cria uma resistência”.

Por outro lado, sobre a terra que o viu nascer, Fraga faz questão de lembrar que é um arquipélago alimentado pelo “sonho de descobrir o resto do mundo”. “Não é por acaso que há quase 1 milhão de açorianos emigrados a viver nos Estados Unidos, no Canadá. É esse sonho de conhecer o mundo. É inerente ao ser açoriano”.

Segundo Fraga, “filmar nos Açores foi um sonho. Todos os dias tivemos o apoio da ilha” faz questão de dizer o realizador que assina esta produção com o apoio da PIC Portugal e da produtora Ukbar Filmes.

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  • Margarida
    22 mai, 2023 São Miguel 16:50
    Esta serie só me faz lembrar a quantidade de jovens que morreram por causa deste acontecimento que foi muito real e muito cruel.

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