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Guerra na Ucrânia

​Dúvidas sobre como falar da guerra às crianças? Psicólogo dá oito conselhos

09 mar, 2022 - 11:59

Tiago Pereira, da Ordem dos Psicólogos, deixa indicações adequadas a várias idades. Nos mais novos deve-se evitar a exposição, nos mais velhos deve-se abordar propositadamente o assunto.

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Há cerca de duas semanas, a Europa e o Mundo acordaram para uma nova realidade: um conflito armado entre a Rússia e Ucrânia.

Ninguém tem escapado ao fluxo informativo sobre o assunto e os mais novos, depois de uma pandemia, enfrentam uma realidade quase desconhecida até agora.

A questão da guerra tem sido abordada nas escolas, mas é também em casa que os pais e responsáveis pelos menores devem acompanhar a forma como os menores que têm a cargo lidam com a informação.

A Renascença falou com o psicólogo Tiago Pereira, que deixa oito conselhos sobre esta tarefa.

Mais novos devem ser resguardados

Tiago Pereira não tem dúvidas que as crianças mais novas, de três, quatro, cinco anos, “não devem estar sobre-expostas a esta informação”. Nesta faixa etária, devemos estar abertos a responder a questões e preocupações que as crianças possam trazer, mas “não devemos provocar estas conversas”.

Com os mais velhos, o assunto deve ser intencionalmente abordado

Na sociedade em que vivemos, a informação chega por todos os lados, o que torna muito provável que as crianças a partir dos sete, oito, nove anos e até à adolescência "sejam expostos a esta informação que pode ser potenciadora de medo, mal-estar, confusão e até algumas alterações comportamentais”. Nestas faixas etárias, “é muito importante que aquilo que são adultos de confiança procurem ter uma abordagem deste assunto” e abordar intencionalmente a conversa. Porquê?

Por um lado, porque “é muito importante que se perceba o que é que as crianças sabem e sentem relativamente ao que está a acontecer para depois ajudar a esclarecer algum ponto, dar conforto ou corrigir alguma informação”.

Por outro lado, “é muito importante que as crianças sintam este espaço de confiança para se se sentirem preocupadas, ansiosas, tensas nos poderem procurar”.

Respeitar os limites de cada um

Quando se aborda o tema da guerra, se as crianças pedem de forma explícita para parar a conversa, o pedido deve ser respeitado. Tiago Pereira aconselha que o adulto de confiança deve regressar ao tema noutra altura ou, simplesmente, demonstrar disponibilidade para retomar a conversa quando o menor entender.

Se costumam seguir noticias em casa, não deixe de o fazer, mas com moderação

Nos lares em que se acompanha diariamente as notícias, é importante não deixar de o fazer. Se, na tentativa de minimizar a exposição, as notícias forem silenciadas, corre-se o risco de “aumentar a preocupação porque pode a criança e o jovem pensar ‘se me estão a privar deste informação é porque a situação ainda é mais preocupante do que eu estou a achar”. A palavra de ordem, diz Tiago Pereira, é equilíbrio e moderação na exposição aos conteúdos sobre o conflito.

Atenção redobrada às redes sociais

Nas alturas de maior complexidade em que estes canais também são utilizados “não só para propaganda, mas também de participação ativa nos processos que estão a acontecer, é muito importante redobrarmos essa atenção”, diz o psicólogo. Tiago Pereira considera ainda que “há uma responsabilidade de algumas plataformas que têm de ter alguma filtragem face a vídeos que circulam”.

Participar em ações de solidariedade

Escrever uma carta a uma criança, participar numa recolha de bens, dar um brinquedo a uma criança que vai chegar, participar no acolhimento de uma criança que venha para a escola. Estas são algumas ações que estão ao alcance dos mais novos e “que podem dar uma noção que se pode fazer alguma coisa para ajudar nesta situação”. “Situações em que controlamos muito pouco, e isto é válido para crianças e adultos, podemo-nos agarrar à pequena coisa que podemos controlar”, explica o psicólogo.

Dar noção de esperança e não bipolarização “dos bons e dos maus”

No diálogo com os mais novos, a conversa deve ser em tom sereno, reconhecer que também o adulto se sente preocupado e/ou triste, mas dar a noção de que já houve outras guerras, que terminaram e aproveitar para recordar que os conflitos podem e devem ser resolvidos sem recurso à força e à violência. Tiago Pereira aconselha ainda a não fazer uma polarização “dos bons e dos maus”. “As crianças não têm, por exemplo, a capacidade de distinguir o que é um governo ou uma cúpula de um estado e o que é o povo”, explica.

Aproveite para ensinar sobre gratidão e direitos humanos

Nestes tempos de guerra, as conversas com os menores podem ser uma boa oportunidade para ensinar noções de gratidão pela paz, pela saúde; empatia e compaixão pelo sofrimento dos outros; abordar questões relacionadas com os direitos humanos, o respeito pelos outros e a noção de construção no dia a dia da paz.

Para mais informações, consulte o documento elaborado pela Ordem dos Psicólogos Portugueses.

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  • Ivo Pestana
    10 mar, 2022 Funchal 16:29
    Não adianta terapias. Eles têm acesso às redes digitais e não podemos fazer nada, pode alguém tapar o sol?

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