O eurodeputado Paulo Rangel defende, num artigo de opinião no jornal "Público", que este “não é ainda o tempo” de clarificação ou debate interno no PSD.

Segundo o eurodeputado, esta é a altura apenas de fazer “uma análise fina e detalhada dos resultados eleitorais em todas as suas dimensões” e, a seu tempo, cada militante será chamado a assumir responsabilidades.

“A seu tempo, virá o ciclo eleitoral normal do PSD e, aí sim, cada militante será chamado a assumir as suas responsabilidades”, escreve Rangel, mostrando-se, assim, em sintonia com o presidente do PSD que afirmou que “estamos ainda no perímetro do ciclo autárquico, das suas implicações e repercussões”.

“O tempo é agora de, saudavelmente e com os pés na terra, celebrar este momento político”, assinala.

O eurodeputado, que tem sido apontado à liderança do PSD, não clarifica qual será a sua posição, mas enumera quais devem ser os “desafios substantivos” do partido e o posicionamento que o PSD deve adotar no espetro político e quanto a alianças.

"Um sinal de esperança para a construção de uma alternativa sólida e credível"

Na perspetiva de Rangel, “é importante que o PSD volte a afirmar e nunca abdique da sua vocação maioritária, pois o risco de erosão progressiva da sua identidade subsiste”.

“Uma coisa são entendimentos, coligações ou alianças, outra são ‘frentismos’ que descaracterizem a marca de água do PSD”, alerta.

Para o eurodeputado, os resultados do PSD nas autárquicas “mais do que pelos seus valores crus, valem pelo sinal político que transmitem à sociedade portuguesa, à opinião pública e, naturalmente, aos partidos e aos seus dirigentes e militantes”.

“O sinal, apesar da vitória numérica do PS, é um sinal de esperança para a construção de uma alternativa sólida e credível, capaz de mobilizar os portugueses em torno de um projeto reformista”, entende Rangel, defendendo que “o lugar natural do PSD, dada a sua vocação maioritária, é mais do que o centro: estende-se do centro para a esquerda e a direita”.

O eurodeputado, que já foi candidato à liderança em 2010 e perdeu para Pedro Passos Coelho, não esquece, no seu artigo de opinião, os vitoriosos do PSD e os que não ganharam nas autárquicas, destacando, de um modo particular, as vitórias de Carlos Moedas, em Lisboa, José Manuel Silva, em Coimbra, Pedro Calado, no Funchal, e Fermelinda Carvalho, em Portalegre.

Da aplicação dos fundos europeus à capacidade de escrutinar executivos

Embora no artigo, intitulado “O PSD e Portugal: desafios da esperança”, Rangel sublinhe que “o posicionamento estratégico e tático do PSD, a curto e a médio prazo, passa pela análise, pela digestão e pela compreensão destes resultados e das tendências que eles podem projetar”, defende que “a necessidade de estudar sistemática e meticulosamente a atual implantação do partido e o próximo ciclo eleitoral interno não deve coibir o PSD, porém, de olhar desde já para os desafios substantivos e de projeto”.

Segundo Paulo Rangel, o PSD deve ter como temas prioritários: o debate da aplicação dos fundos europeus (tanto do PRR como estruturais) “em contraponto à gestão estatista do Governo”, mas, também, “como fez na década de 85-95” (de Cavaco Silva), a “liderança na promoção do ambiente”, a “valorização dos professores”, a defesa dos direitos humanos contra as discriminações de todo o tipo e também ou a rutura com a “fratura artificial” entre funcionários públicos e trabalhadores do setor privado e social.

“E claro, hoje, mais importante do que nunca, o respeito pela independência judicial, pela liberdade de imprensa, pela separação dos poderes e pela capacidade de escrutinar os executivos”, escreve.