Os novos radares vão cacular a velocidade média dos condutores em percursos nunca superiores a 10 quilómetros, apurou a Renascença junto de fonte da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária.

Vão ser 10 radares móveis para 20 localizações que ainda não estão todas definidas. Os aparelhos ainda estão em fase experimental e ainda não há data para que passem a poder cobrar coimas.

Estes novos dispositivos prometem mudar a forma como se fiscaliza a velocidade nas estradas e a Renascença com a ajuda do diretor da Unidade de Segurança e Prevenção da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR), Carlos Lopes, ajuda a esclarecer tudo o que tem de saber.

O que são?

Estes radares acabam por reproduzir através da tecnologia aquilo que no passado deu início à fiscalização da velocidade, quando dois polícias em pontos diferentes comunicavam entre si por rádio as matrículas dos carros. Quando um recebia a comunicação de que um carro passava no ponto A, punha o cronómetro a funcionar.

“Aquilo que hoje em dia estes equipamentos fazem é praticamente a mesma coisa, só que fazem de uma forma automática com maior capacidade do que se fosse efetuada por meios humanos”, resume o engenheiro Carlos Lopes, diretor da Unidade de Segurança e Prevenção da ANSR.

“[Estes radares] têm um efeito dissuasor. Aquilo que nós pretendemos é que as pessoas diminuam a velocidade e respeitem os limites", Carlos Lopes, iretor da Unidade de Segurança e Prevenção da ANSR.

Através de uma fotografia é reconhecido o automóvel e o equipamento automático calcula a velocidade média entre os dois pontos em que estão colocados os radares, aferindo se foi cumprida a velocidade naquele trecho de via.

Quantos serão?

Haverá 10 radares para 20 locais. Ou seja, os radares não estarão em todos os locais sinalizados. Irão sendo deslocados entre pontos.

“O nosso objetivo não é o de sancionar as pessoas, mas a obter ganhos de segurança rodoviária”, reforça Carlos Lopes.

Qual o objetivo?

“Têm um efeito dissuasor. Aquilo que nós pretendemos é que as pessoas diminuam a velocidade e respeitem os limites e, portanto, desta maneira, se protejam a si próprias e aos outros dos perigos”, começa por dizer o especialista.

“A velocidade é a principal causa dos acidentes mortais, é responsável por 1/3 dos acidentes mortais, e está presente em todos os outros acidentes”, diz o responsável da ANSR.

Onde serão colocados?

Em Beja IC1; Coimbra A1 e EN 109; Évora A6 e IP2, Lisboa EN10 e EN 6-7 e IC 19, Porto A3, Santarém A1, Setúbal EN 10, EN 378, EN 4 e IC1.

Estes são os 14 locais já conhecidos. Faltam ainda conhecer seis localizações.

Porque é que foram escolhidos estes locais?

São locais em que a sinistralidade registada é significativa e onde se é detectada com frequência situações de excesso de velocidade. São também sítios onde os problemas não têm uma solução infraestrutural, ou seja, não podem à partida ser resolvidos através de obras.

"Não existe um limite técnico, mas na prática não chega aos 10 quilómetros, é sempre menos. O percurso abrangido tem de ter um fundamento com base na sinistralidade”, Carlos Lopes.

Qual a diferença em relação aos radares convencionais?

Na opinião de Carlos Lopes, os radares de velocidade média permitem reduzir o efeito do “travar e acelerar logo de seguida” típico nos radares de velocidade instantânea.

“Esse efeito com estes radares é muito mais distendido no tempo e no espaço”, assegura. “Temos um comportamento aceitável durante mais tempo”, acrescenta.

Qual a distância média entre os dois radares?

Carlos Lopes diz que não deverá exceder os 10 quilómetros. “Não existe um limite técnico, mas na prática não chega aos 10 quilómetros, é sempre menos. O percurso abrangido tem de ter um fundamento com base na sinistralidade”, explica o especialista da ANSR.

Vão estar sinalizados?

Sim. É um sinal retangular, com fundo azul, com o desenho de duas câmaras pretas e duas riscas ao alto brancas. Por baixo, aparece escrito “velocidade média”.

É o sinal H42 e indica que circulamos numa zona onde está instalado um sistema de radares que calcula o tempo e a velocidade média do automóvel, entre dois pontos, onde estão instaladas câmaras.

A fase de testes já acabou?

Não e ainda não há previsão de quando terminará. “Ainda não consigo dizer quando é que isso vai acontecer, porque uma coisa é o nosso desejo, outra coisa são os problemas que surgem”, afirma Carlos Lopes.

Quando os radares estiverem a funcionar com capacidade para multar será feita uma campanha de divulgação.

Já se pode fazer um balanço dos testes?

O especialista da ANSR diz que não, porque, neste momento, estão a ser afinados pormenores técnicos relacionados com a “informática e ligações”. “Ainda não há dados que possamos analisar”, garante.

Porquê instalar estes radares em autoestradas?

Porque é que estes radares vão ser instalados em autoestradas se os pórticos existentes já podem calcular a velocidade média através do tempo de entrada e saída das viaturas?

Neste caso, a justificação é a de que “cada instrumento tem um determinado fim e só pode ser utilizado para o fim a que ele é destinado”.

Em caso de infração, os pórticos não poderiam fazer prova para questões relacionadas com as sanções e penas do Código da Estrada. Cada instrumento tem de estar homologado para o fim a que se destina, reforça Carlos Lopes.

“Tem de ser aprovado primeiro pelo Instituto Português de Qualidade e pela Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária. Os equipamentos têm de ser criados para o fim que nós pretendemos e, portanto, esse tipo de informação [dos pórticos], não tem valor”, explica Carlos Costa.

Estes aparelhos apresentam limitações?

Carlos Lopes gosta mais de olhar para as maiores capacidades que trazem. “Estes equipamentos conseguem fiscalizar ao mesmo tempo várias vias de trânsito, enquanto no passado os equipamentos se destinavam praticamente a uma”, explica.

Há formas de falsear os resultados?

Posso conduzir acima dos limites, parar a marcha e depois retomar a marcha e cumprir a velocidade média?

É uma hipótese possível, admite Carlos Lopes. Mas o especialista não crê que esse seja “um comportamento normal”.

O especialista da ANSR admite que isso pode acontecer, mas não quer “confundir a árvore com a floresta”. Lembra que há uma diferença entre a velocidade instantânea e a velocidade média e que há radares diferentes para fiscalizar as duas situações.

Mas em relação aos que possam tentar adulterar os resultados parando no percurso ou reduzindo muito a velocidade depois de ter acelerado acima da lei, garante: “Esse não é o comportamento normal. O objetivo das pessoas não é andar a brincar e não consideramos isso um verdadeiro problema”

Se num percurso em que a velocidade é 100 km/h, e o condutor for num troço a 80 km/h e noutro a 120 km/h, infringiu a lei, mas como a média dá 100 km/h não é sancionado.

Também é um cenário que pode acontecer, mas que Carlos Lopes considera irrealista. “Desafio uma pessoa a ter essa capacidade de estar a fazer esses cálculos antes, para depois não ser sancionada. Para isso é preciso quase um computador para andar a fazer as contas”, crê.

Para o diretor da Unidade de Segurança e Prevenção da ANSR haverá sempre formas de subverter o sistema, mas os grandes números ajudam a perceber que é a ansiedade de chegar mais rápido que leva a acelerar e que tem como consequência os acidentes. E é isso que este dispositivo tempo minorar.

Quais são as coimas a aplicar?

As multas são entre 60 euros e 2.500 euros, valores que o Código da Estrada prevê para o excesso de velocidade.

"A sinistralidade não se resolve com uma medida, mas a velocidade é um fator preponderante", Carlos Lopes.

Espanha já utiliza estes dispositivos. O que tem para ensinar?

Este é um sistema que já existe, segundo Carlos Lopes, desde o início do século. E a experiência demonstra eficácia a reduzir acidentes em trechos de via em que a sinistralidade não se concentra num único ponto, mas é mais dispersa.

Existem objetivos numéricos para estes radares?

Nos locais em foram instalados radares de velocidade, nos últimos seis anos, registaram se menos 74% das vítimas mortais, menos 36% de acidentes com vítimas, menos 43% de feridos graves e menos 36% de feridos leves.

Carlos Lopes não quer quantificar objetivos para estes novos instrumentos, mas um resultado positivo, segundo o responsável, é aquele que passe pela redução dos números de sinistralidade nos pontos em que os dispositivos vão ser colocados.

“A sinistralidade não se resolve com uma medida, mas a velocidade é um fator preponderante porque quanto maior é a velocidade, maior é o impacto, e maiores são os danos físicos e materiais nos acidentes. Por outro lado,e talvez seja menos conhecido, há o efeito da redução do campo visual. Quanto maior é a velocidade, o nosso campo visual diminui e, portanto, a nossa capacidade de antecipar o perigo diminui”, resume.