A embrulhada da TAP transformou-se num embrulho politicamente armadilhado e suspeito.

Lapsos de memória que escondem mentiras de responsáveis governamentais, aparente instrumentalização do Presidente da República, confusão entre gestão de uma empresa pública e gestão político-partidária, manipulação de organismos públicos, falta de transparência e de coragem na tomada de decisões.

A comissão de inquérito à TAP só agora começou e haverá espaço para o necessário contraditório, mas já teve muito de tudo isto. Como se nos levantassem o véu que cobre tantas decisões. E é necessário levantá-lo, mas a realidade oferecida é triste e envergonha.

O que já se sabe, e ninguém desmentiu, expõe comportamentos e atitudes que revelam, no mínimo, falta de sentido de Estado. E um Estado gerido sem preparação nem competência.

Sendo de todos, o Estado não pode ser assumido como coutada privada de alguns, seja eles quem forem – mais à direita ou mais à esquerda. E os dirigentes públicos são do Estado servidores e não senhores do Estado.

Pior será, se não houver consciência de tamanha incompetência. Uma tal inconsciência confirmaria apenas a drástica redução da qualidade de muitos dirigentes políticos.

A perda de qualidade da intervenção política não é, porém, um problema exclusivamente português. Basta ver o nível a que também se chegou nos Estados Unidos ou noutros países europeus.

As ditaduras e os populismos (de direita ou de esquerda) socorrem-se e fazem-se valer das (várias) incompetências das democracias. Muitos regimes autocráticos (de direita ou de esquerda) germinaram a partir das fragilidades e das incompetências das democracias.

Por isso, nos regimes democráticos a falta de competência é um problema nuclear. E sendo nuclear é um problema de todos nós.

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