O antigo ministro das Finanças, Braga de Macedo, diz não ver alternativa à política de subida de taxas de juro do Banco Central Europeu.

Numa altura em que a receita suscita dúvidas quanto à sua eficácia, o antigo ministro dos governos de Cavaco Silva lembra, em declarações à Renascença, que “a Reserva Federal norte-americana começou muito antes do Banco Central Europeu aumentar as taxas. O BCE começou muito tarde, portanto, é compreensível que também acabe mais tarde”.

Comentando as críticas que se fizeram ouvir, nos últimos dias, entre as do Presidente da República português, Jorge Braga de Macedo pergunta “qual é a alternativa?” e acrescenta que “um país do nosso tamanho dizer que acha mal, acaba por ser ridículo”.

Segundo a estimativa rápida do Instituto Nacional de Estatística (INE), a inflação em Portugal acelerou para os 10,2% em outubro, a mais alta desde maio de 1992, precisamente na altura em que Jorge Braga de Macedo estava à frente da pasta das Finanças.

Nessa altura, a moeda ainda era o escudo e as taxas de juro eram igualmente elevadas, mas, segundo Braga de Macedo, o facto de, nessa altura, Portugal ter a sua própria moeda não tornava as coisas mais fáceis.

A começar na perceção pública do problema: “as pessoas achavam que a inflação era uma coisa normal. Não percebiam que era um imposto injusto. Era uma inflação galopante e tínhamos problemas de solvabilidade por causa da balança de pagamentos, razão pela qual tivemos de recorrer duas vezes ao FMI no tempo do Dr. Mário Soares. O nosso problema era ter uma política cambial previsível. Neste momento, a política cambial previsível é o BCE, é o euro”, explica.

Há 30 anos, com uma inflação acima dos 10%, Braga de Macedo lembra que foi decisiva a aproximação aos parceiros sociais para que aceitassem um plano de redução para 8%.

"As taxas de juro já estavam muito elevadas e eram determinadas pelo Banco de Portugal. A minha grande luta foi que a expetativa da descida da inflação fosse credível, credibilizada de um programa a médio prazo para a legislatura, programa esse que, depois, é aceite - ou, pelo menos, não é rejeitado pelos parceiros sociais - que alinham numa inflação de 8% para 1992", conclui Braga de Macedo.