23 fev, 2019 - 15:57 • Aura Miguel , Filipe d'Avillez
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A última conferência da cimeira sobre abusos sexuais que está a decorrer no Vaticano foi proferida por uma leiga, que não fez qualquer cerimónia pelo facto de estar a falar a bispos, cardeais e o próprio Papa.
Valentina Alazraki, uma jornalista mexicana que acompanha o Vaticano há décadas, apresentou-se dizendo que estava lá em primeiro lugar na qualidade de mãe e recordou que o que ela e os clérigos reunidos no auditório têm em comum é precisamente o facto de todos terem uma mãe, que é a Igreja.
“Para uma mãe não há filhos de primeira e de segunda, mas há filhos mais fortes e filhos mais vulneráveis. Também para a Igreja não há filhos de primeira e de segunda. Os seus filhos aparentemente mais importantes, como são vocês, bispos e cardeais (não me atrevo a dizer o Papa), não são mais importantes que qualquer menino, menina ou jovem que tenha vivido a tragédia de ser vítima de abusos por parte de um clérigo”.
“Quem é o filho mais fraco, mais vulnerável? O sacerdote abusador, o bispo abusador ou encobridor, ou a vítima?”, perguntou.
Logo de seguida Valentina Alazraki deixou um duro aviso ao clero, falando como jornalista.
“Se vocês estão contra os abusadores e os encobridores, estamos do mesmo lado. Podemos ser aliados, não inimigos. Nós vos ajudaremos a encontrar as maçãs podres e a vencer as resistências para as separar das saudáveis”, disse.
“Mas se não se decidirem de maneira radical a estar do lado das crianças, das mães, das famílias e da sociedade civil, então têm razões para ter medo, porque os jornalistas, que procuram o bem comum, serão os vossos piores inimigos.”
Referindo-se a uma mentalidade que defende que o problema nas revelações de casos de abusos sexuais na Igreja está na revelação e não só nos atos em si, a veterana repórter disse: “gostaria que saíssem deste auditório com a convicção de que não são os jornalistas que são os abusadores nem os encobridores. A nossa missão é de exercer e defender um direito, que é o direito a uma informação baseada na verdade, para fazer justiça”, concluiu Alazraki.
No final da sua intervenção a jornalista deixou ainda três conselhos práticos aos bispos, para desempenharem com mais transparência as suas missões: Pôr sempre as vítimas em primeiro plano, deixarem-se aconselhar e profissionalizarem a comunicação.
A cimeira sobre abusos sexuais continua esta noite com uma cerimónia penitencial e conclui no domingo com um discurso do Papa Francisco.