Sem plano, sem rumo, Ucrânia fora
E "viemos para aqui", suspira Irina. Como se Budapeste fosse apenas a cidade onde conseguiu finalmente pôr travões a uma jornada imprevista de mais de mil quilómetros.
"Vínhamos com amigos, mas eles decidiram ir para outro lugar e agora estamos aqui. E não sabemos exatamente o que fazer. A nossa vida mudou dramaticamente e foi destruída. É inacreditável", emociona-se naquela manhã de sol e céu limpo na capital da Hungria.
Irina ainda experimentou ficar uma a duas noites na Ucrânia Ocidental, onde a acalmia tem permitido acolher deslocados internos em massa com origem das zonas bombardeadas e invadidas pelas tropas russas.
"Mas ouvíamos sempre as sirenes e a pedirem para as pessoas irem para lugares seguros. Vim-me embora porque não quero que a minha filha fique assustada e tenha problemas do sistema nervoso. É horrível...", confessa antes de apertar os atacadores da pequena Sofia.
A mãe elogia a sua menina, pela forma como encarou a anormalidade de ser arrancada ao seu quarto em tão tenra idade. "Diz-me sempre que quer voltar para casa, para a sua cama, para brincar com os seus brinquedos", explica Irina.
Foi tudo muito rápido na saída de Kiev. Apesar de virem de carro, transportaram pouco mais que uma pequena mala com roupa para ambas.
"Nada é planeado. Não há tempo para planear, para estar calmo e com um pensamento claro. Movimentamo-nos de forma rápida de forma reactiva", conta agora de uma forma mais eloquente.
Trabalho novo e incerto longe de casa
Budapeste deixa para trás mais uma noite de temperaturas negativas e há vagas de ucranianos a chegar de comboio às duas estações principais da cidade.
À chegada estão montadas bancas com refeições quentes, roupas, cartões de telemóvel e comida para animais. Os voluntários juntam-se aos serviços oficiais de imigração que apontam as necessidades dos ucranianos.