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Sismo

Médicos Sem Fronteiras pedem apoio à Síria: "As necessidades são gritantes"

09 fev, 2023 - 00:23 • João Malheiro

O diretor-geral dos Médicos Sem Fronteiras em Portugal pede apoio humanitário da comunidade internacional a um país em guerra civil e que pode ficar sem bens essenciais em breve. João Antunes indica que as populações de Turquia e Síria enfrentam o frio e também é necessário assegurar apoio à saude mental dos sobreviventes.

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João Antunes, diretor-geral dos Médicos Sem Fronteiras, em Portugal sobre o apoio necessário depois de sismo na Síria e Turquia
Diretor-geral dos Médicos Sem Fronteiras, em Portugal, sobre o apoio necessário depois de sismo na Síria e Turquia

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Depois do sismo, a Síria tem "necessidades gritantes", segundo indica o diretor-geral dos Médicos Sem Fronteiras em Portugal, à Renascença.

João Antunes diz que é necessário" ampliar a resposta humanitária no nordoeste" do país, que está a sofrer ataques do regime de Assad, por ter cidades controladas por rebeldes.

O especialista alerta que, depois da destruição das infraestruturas, as populações de Turquia e Síria enfrentam agora o frio e também é necessário assegurar apoio à saude mental dos sobreviventes.

Quantas pessoas estão a prestar assistência, neste momento, no terreno?

Temos à volta de 500 operacionais, que são colegas nossos contratados localmente e que prestam assistência e cuidados de saúde a uma população que já de si era bastante vulnerável. Lembro que nesta região já havia cerca de 4 milhões de deslocados, mesmo antes deste evento.

Obviamente que as equipas não estão também imunes a sofrer as consequências diretas. Eles e as suas famílias. Mas, apesar de terem assumido essa pressão, conseguiram continuar a prestar assistência e quase sem pausas.

Lutamos contra o relógio para tentar salvar o maior número de vidas possíveis. Já recebemos cerca de 3.500 pessoas que estavam feridas diretamente pelo que aconteceu e que já temos a registar mais de 500 óbitos de pessoas que fomos recebendo.

E em termos de meios? O que é necessário neste momento?

Tentámos, obviamente, entregar o maior da nossa resposta nas estruturas em que estávamos presentes, mas não só.

Hoje não vai ser igual a amanhã e depois amanhã. Isto são números que estão a subir muito rapidamente e temos de reforçar a resposta que estamos a dar nas estruturas que estamos a gerir, onde estamos presentes diretamente, mas também em muitas outras que não ficaram intactas ou que não estão operacionais.

Por fim, não menos importante, nesta altura faz bastante frio nesta zona. As pessoas estão na rua, não só aquelas que perderam a casa, mas mesmo aquelas que permaneceram com as casas intactas, pois estão com medo de novas réplicas. Muitas pessoas estão na rua, ou estão a dormir nos carros.

Daí que também temos de reforçar o abastecimento de materiais como colchões, mantas - material que possa servir também para aquecer. Material de cozinha, comida e tudo mais para que estas necessidades sejam também cobertas e que essas pessoas também consigam ter um bocado de conforto.

Acabou de referir o frio. Obviamente, temos a destruição das estruturas devido ao terramoto, mas agora que o sismo já passou, quais são as ameaças para as pessoas no terreno? Há outras ameaças, como, por exemplo, doenças, que podem agora propagar-se mais facilmente?

Exatamente. E há uma necessidade que também é bastante evidente, num evento desta dimensão, que é fornecer assistência a nível de saúde mental, de cuidados psicológicos para as nossas equipas, para as pessoas também que estamos a assistir nos nossos hospitais e para aquelas pessoas que que perderam os seus entes queridos, pessoas com quem realmente a vida pode parecer que de um dia para o outro quase fica totalmente arrasada.

Um segundo ponto são os próprios hospitais, os centros de saúde também. Se muitos deles foram danificados, ainda que tenham capacidade de acolher pessoas, alguns deles têm um risco de ruir. Os pacientes são pessoas que não podem sair dali de qualquer forma.

Há que fazer a transferência destes pacientes para outras estruturas que os possam receber. Por exemplo, nas maternidades que estávamos a gerir nesta região já tivemos que transferir grávidas e até bebés que estavam em incubadoras, através de ambulâncias.

Multidão celebra resgate de família inteira de escombros na Síria
Multidão celebra resgate de família inteira de escombros na Síria

Em relação à Síria, há um desafio extra? Neste momento, há cidades dos rebeldes que estão em conflito com o regime de Assad. Esta terça-feira, havia relatos de que o regime de Assad tinha bombardeado uma cidade rebelde em plenos escombros. O facto de haver esta divisão dentro do país dificulta ainda mais o apoio a estas pessoas?

Sim. Como a própria pergunta indica, realmente eram limitações que sentíamos desde sempre, desde que o conflito começou.

Quando estamos a falar em assistência humanitária, não podemos escolher um sítio com base em quem está no controlo. Aqui tem de ser mesmo a avaliação de necessidades para onde somos mais necessários.

E isto podem parecer palavras maiores, mas o acesso humanitário é extremamente importante e só podia chegar fisicamente e precisava de ter a garantia de todos os lados de que a ajuda humanitária é respeitada e que não é uma parte do conflito.

Estamos a falar também de uma situação económica muito difícil. Estamos a falar, também, de uma pandemia de que nem todos os países conseguiram responder à mesma velocidade.

Registámos também um surto de cólera, que é outra das preocupações, se não tivermos também em atenção todas as questões relacionadas com água e saneamento.

E, por fim, eu perguntava ainda sobre a Síria: Falamos com duas pessoas próximas da realidade do país a dizer que não havia tantos apoios internacionais como está a haver na Turquia. Era importante que a comunidade internacional também olhasse para esta realidade, já que também de facto há vários problemas para lá do sismo?

As necessidades são gritantes, não há como esconder isso. As imagens falam por si. Há necessidade de ampliar a resposta humanitária é evidente e tem que ser imediata. A resposta humanitária será sempre uma evidência. Era ontem, anteontem, será hoje e será ainda mais amanhã.

Haverá ainda a capacidade de comprar localmente gasolina, mantas, roupas, mas muito em breve e, previsivelmente, com a cadeia de abastecimento que está também ela mesmo afetada, muito futuramente poderá haver escassez de bens essenciais.

Ainda que não seja uma necessidade urgente hoje, será, com certeza, em alguns dias.

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