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39.º Presidente do Brasil toma posse

Lula inaugura nova era sem Bolsonaro e com ameaças de violência

01 jan, 2023 - 12:13 • Joana Azevedo Viana

Com o Presidente cessante já instalado num resort de Trump na Flórida, os brasileiros preparam-se para a tomada de posse de Lula da Silva, que volta hoje ao Planalto 12 anos depois de ter deixado a presidência do Brasil. Após semanas de caos semeado por Bolsonaro e os seus apoiantes, cerimónia de investidura do "petista" vai decorrer sob forte aparato policial.

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Luiz Inácio "Lula" da Silva regressa este domingo à presidência do Brasil, 12 anos depois de ter abandonado o Palácio do Planalto e dois meses depois de ter derrotado Jair Bolsonaro na segunda volta das eleições presidenciais.

A sessão solene de tomada de posse do 39.º Presidente do Brasil está marcada para as 14h30 em Brasília (17h30 em Lisboa) e é, desde já, histórica, depois de na sexta-feira o Presidente cessante ter abandonado o país rumo a um resort do ex-Presidente dos EUA, Donald Trump.

A partida para os Estados Unidos deu-se depois de Jair Bolsonaro publicar no YouTube a sua última mensagem vídeo enquanto chefe de Estado do Brasil.

Visivelmente emocionado, tentou justificar as escolhas feitas durante um mandato tumultuoso que viu a pandemia de Covid-19 matar quase 700 mil cidadãos e a desflorestação da Amazónia intensificar-se.

"Tenho a certeza de que dei o meu melhor", disse o ultraconservador, admirador confesso da ditadura militar, que já depois de perder as eleições decidiu indultar os responsáveis pelo massacre de Carandiru -- e que não vai estar em Brasília para passar a presidência a Lula e ao seu "Governo capenga".

Receios de violência

Sem data para regressar ao Brasil, o ex-Presidente vai ficar hospedado numa propriedade de Trump na Flórida, o mesmo Trump que está a ser investigado por "conspiração" para impedir a tomada de posse de Joe Biden, seu sucessor, há quase um ano.

O destino que escolheu no que muitos classificaram como a sua "fuga" veio adensar os receios de uma revolta armada por apoiantes extremistas do ex-Presidente depois de semanas de tumultos.

Como destacava o correspondente do The Guardian em Brasília na sexta-feira, as últimas semanas foram marcadas por uma série de incidentes com gangues de Bolsonaristas enraivecidos, entre eles pregadores evangélicos, mineiros da Amazónia e empresários ultraconservadores.

Houve motins na capital, veículos incendiados e uma tentativa de invasão de uma esquadra da polícia.

Este sábado, um homem foi detido por alegadamente planear um ataque à bomba no aeroporto; George de Oliveira de Sousa, de 54 anos, teria um camião cheio de combustível pronto a explodir no aeroporto de Brasília em protesto contra a tomada de posse de Lula.

O responsável pelo atentado frustrado confessou às autoridades que integrou o acampamento montado há dois meses por apoiantes de Bolsonaro em frente ao quartel do Exército em Brasília para exigir um golpe militar que mantenha o Presidente cessante em funções.

No discurso de despedida, de 52 minutos, Bolsonaro tentou demarcar-se dos casos e pediu aos apoiantes que não apostem no "tudo ou nada" e que tenham fé no futuro.

"O Brasil não sucumbirá, acreditem em vocês. Perde-se a batalha, mas não perderemos a guerra."

Minutos entre a publicação da mensagem e a partida para os EUA, Bolsonaro saiu do palácio presidencial por uma porta lateral para fugir aos jornalistas. E mal embarcou num avião da Força Aérea, o Governo publicava uma autorização de viagem a cinco seus assessores para o acompanharem no exterior até 30 de janeiro.

Já em contagem decrescente para Lula tomar posse, o vice de Bolsonaro discursou aos brasileiros criticando os líderes que têm contribuído para o "clima de caos" instalado no país desde as eleições presidenciais.

No que os analistas leram uma indireta ao Presidente cessante, Hamilton Mourão apontou a mira às “lideranças que deveriam tranquilizar e unir a nação em torno de um projeto de país".

Essas mesmas lideranças, destacou o general na reserva, "deixaram com que o silêncio ou o protagonismo inoportuno e deletério criasse um clima de caos e desagregação social e, de forma irresponsável, deixaram que as Forças Armadas, de todos os brasileiros, pagassem a conta, para alguns por inação e por outros por fomentar um pretenso golpe”.

Quem vai estar na tomada de posse?

São esperadas mais de 300 mil pessoas em Brasília para a festa preparada pela equipa de Lula, que incluirá espetáculos com dezenas de artistas populares.

Antes disso, há cerimónia solene de investidura, num país que as eleições de outubro mostraram estar profundamente dividido.

Face à revolta de Bolsonaristas nas últimas semanas, o Governo de transição de Lula disse estar a tomar medidas para reforçar a segurança da cerimónia.

A ideia discutida pelo gabinete do futuro ministro da Justiça foi a de mobilizar 13 mil agentes das forças de segurança para o evento.

"Não serão pequenos grupos terroristas que vão emparedar a democracia brasileira. Eles não têm espaço, não terão espaço, não venceram e nem vencerão", disse o futuro ministro Flavio Dino sobre as ameaças de grupos de extrema-direita que apoiam Bolsonaro.

Ao seu lado o futuro ministro da Defesa, José Múcio, acrescentou que a movimentação em frente ao quartel do Exército em Brasília tem diminuído de dia para dia, antecipando que o movimento se desarticule naturalmente "nos próximos dias".

A posse institucional deste domingo seguirá o protocolo tradicional, a começar pelo desfile do novo Presidente em carro aberto pela Esplanada dos Ministérios até ao Congresso Nacional, onde tomará posse oficial, no plenário do Senado.

Depois, o Presidente Lula segue para o Palácio do Planalto, onde vai receber a faixa presidencial, fazer o discurso no Parlatório e receber cumprimentos dos chefes de Estado e de Governo presentes na cerimónia, até por volta das 18h30 locais.

No evento são esperados pelo menos 17 chefes de Estado e de Governo, incluindo o Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, e o da Alemanha, o rei de Espanha e líderes da Argentina, Bolívia, Colômbia, Chile, Equador, Paraguai e Uruguai.

25 de Abril com Lula em Lisboa

O novo Presidente do Brasil já tem, de resto, viagem marcada para Portugal em abril, para uma cimeira luso-brasileira e numa visita de Estado de quatro dias que culminará com a participação de Lula na cerimónia do 25 de Abril.

Nessa ocasião, adiantou ontem Marcelo já no Brasil, deverá também ser "finalmente feita a entrega" do Prémio Camões "há muito tempo para ser entregue a três premiados ao longo dos últimos anos", um dos quais o cantor brasileiro Chico Buarque.

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  • Anónimo
    01 jan, 2023 Lisboa 15:52
    Finalmente o Brasil volta a ter um Presidente. E Lula tem pela frente o difícil trabalho de desnazificar o Brasil, pois 58 milhões de burros votaram em Bolsonaro.

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