Eleições no Brasil

Lula volta ao Planalto num Brasil partido em dois

30 out, 2022 - 23:12 • Fábio Monteiro , Joana Azevedo Viana

Lula da Silva ganhou, mas a história destas eleições ainda não acabou. O Brasil está dividido. Na segunda volta das presidenciais, o candidato do Partido dos Trabalhadores conseguiu 50,90% dos votos, enquanto Jair Bolsonaro ficou com 49,10%

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Foto: Sebastião Moreira/EPA
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Foto: Fernando Bizerra/EPA
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O Brasil vai voltar a acordar dividido na segunda-feira. Após quatro anos com Jair Bolsonaro na presidência, marcada por polémicas e acusações, Lula da Silva está de regresso ao Palácio do Planalto.

Aos 77 anos, o candidato do Partido dos Trabalhadores (PT) foi eleito – pela terceira vez – Presidente do Brasil.

Os resultados da ida às urnas, em todo o caso, não servem para amenizar ânimos no país; a margem de vitória de Lula nesta segunda volta foi de pouco mais de dois milhões de votos.

Com cerca de 99,94% dos votos contabilizados, adiantou o Tribunal Superior Eleitoral ao final da noite, o antigo chefe de Estado conquistou 50,90% dos votos, contra 49,10% para o candidato à reeleição.

Na primeira volta, Lula tinha amealhado pouco mais de 48% dos votos e Bolsonaro menos de 44%, uma diferença mais curta do que previram algumas sondagens, que chegaram a antever a vitória do "petista" no primeiro turno.

Transição pacífica? Bolsonaro dirá

Neste momento, uma das dúvidas que paira no ar é como se irá dar a transição de poder, tendo em conta o perfil errático de Jair Bolsonaro.

O ex-militar e admirador confesso da ditadura brasileira pode ainda vir a causar dores de cabeça a Lula e aos milhões de brasileiros que votaram nele.

Numa primeira reação aos resultados, muitos apoiantes de Bolsonaro insinuaram que as eleições terão sido "roubadas", com alguns a pedirem mesmo a intervenção dos militares.

Durante os últimos quatro anos, o ultranacionalista fez-se representante dos setores mais conservadores da sociedade brasileira e dos eleitores mais velhos e saudosos dos tempos da ditadura militar, com um discurso marcadamento misógino, homofóbico e racista.

Em plena campanha para a primeira volta, chegou a propor que militantes do Partido dos Trabalhadores (PT) fossem fuzilados.

O homem do momento (novamente)

Lula da Silva nasceu a 27 de outubro de 1942. E Aos cinco anos, já vendia tapioca e laranjas, no mercado de Santos.

Aos 18 anos, Lula entrou para o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, tendo subido até à liderança, de onde liderou o maior movimento operário da história do Brasil.

Marxista por convicção, em 1980 aproveitou a liberdade política entretanto conquistada no Brasil e fundou o Partido dos Trabalhadores (PT), que nasceu trotskista, mas que, com o passar dos anos havia de situar-se no centro-esquerda.

Lula da Silva foi candidato presidencial em 1989, 1994, 1998 e, finalmente, em 2002, ganhou a corrida. Em vez de descamisado e com o punho erguido a gritar “revolução”, como em eleições anteriores, apresentou-se de fato e gravata, defendendo “paz e amor”.

Em 2003, quando chegou ao poder, a primeira grande iniciativa política de Lula foi levar os ministros para fora do gabinete. Era preciso que os nascidos em berço de ouro "sentissem o cheiro da pobreza", defendeu.

Com uma política económica ortodoxa, não teve praticamente oposição nos primeiros dois anos de mandato, durante os quais as suas preocupações sociais escondiam a falta de realizações políticas. Nessa altura, é 'apanhado' no primeiro escândalo de corrupção (Mensalão) que decapita a liderança do PT.

Pragmático, distancia-se do seu partido e vai a votos com o apoio do centro e direita, ganhando novamente a eleição de 2006.

O segundo mandato é suportado por uma ampla, mas dissonante coligação, o que dificulta a ação política, mas que Lula considera fazer parte da vida devido à "correlação de forças políticas".

Por momentos, fora do Brasil, Lula foi uma estrela: em 2008, a revista “Newsweek” incluiu-o na lista de 20 pessoas mais influentes do mundo; em 2009 o francês "Le Monde" e o espanhol "El Pais" consideraram-no 'Homem do Ano'.

Em 2018, no âmbito da investigação Lava Jato, Lula foi preso e impedido de se apresentar como candidato às eleições presidenciais. Ao todo, esteve 580 dias encarcerado.

Sergio Moro, então juiz federal de primeira instância, condenou Lula a nove anos e seis meses de prisão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro na ação penal envolvendo um tríplex no Guarujá.

Em 2021, esta sentença foi anulada, com o Supremo Tribunal a considerar que Moro foi "parcial" a julgar Lula. Ironicamente, foi Moro, o ex-juiz tornado senador, uma das primeiras vozes da oposição a reconhecer a vitória de Lula este domingo.

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