Até podia ser o número de partidos com que se resolve a equação da “geringonça”, mas, no último discurso de abertura do debate do estado da Nação desta legislatura, António Costa apostou no número quatro para fazer a defesa de um legado do Governo.

O primeiro-ministro utilizou a expressão “quatro anos” por 19 vezes, quase cinco vezes mais do que a segunda combinação de palavras mais frequentes: “melhor emprego”.

A expressão foi usada para falar de quase tudo: do desafio demográfico, das alterações climáticas, dos desafios da sociedade digital e sustentabilidade da Segurança Social, mas também do estado da justiça, e do “tanto que ainda quer fazer”.

Numa análise computacional conduzida pela Renascença às 8.741 palavras que compõem os quatro discursos inaugurais do debate do estado da Nação proferidos pelo primeiro-ministro, “quatro” é, aliás, a palavra que mais se distingue no discurso deste ano.

Se utilizarmos a estatística para aferir qual a palavra que mais sobressai em cada um dos discursos, conseguimos rapidamente resumir o que o primeiro-ministro disse nestes quatro momentos em que o Parlamento pára para tirar a radiografia ao país.

Quando comparado com os restantes anos, em 2016 Costa usou bastante a palavra “cumprimos” e “agir” para fazer o balanço dos primeiros sete meses de governação. Por exemplo: “No final de sete meses, a primeira palavra que marca este balanço é 'cumprimos'", disse, então, o primeiro-ministro.

Em 2017, o discurso voltou-se para a tragédia dos incêndios para defender a necessidade de “enfrentar um desafio estrutural”. Nesse ano, Costa falou seis vezes em "floresta", "florestas" ou "florestal".

Já em 2018, com o Orçamento do Estado à vista, o primeiro-ministro usou mais do que nunca a palavra “continuidade”, num discurso que serviu para lembrar ao parlamento os resultados económicos do Governo. Talvez por isso tenha sido o discurso mais “palavroso” do primeiro-ministro: 2.733 palavras contabilizadas.

Agora, em 2019, foi tempo de balanço dos “quatro anos”. Foram menos 345 palavras do que no ano anterior, mas houve palavras que chegue para agradecimentos aos parceiros parlamentares, para a defesa do legado, mas também para algumas “justificações” - talvez isso justifique a referência acima do habitual à palavra “composições” para falar do estado da ferrovia e dos transportes públicos.

Optimismo de olhos postos nas eleições

O Presidente da República já disse que Costa tem "otimismo crónico e irritante”, mas, segundo a estatística, nada se compara com o discurso do primeiro-ministro desta quarta-feira na Assembleia da República.

A Renascença comparou os quatro discursos através de uma análise estatística e conclui que, apesar de quase todos os discursos de Costa nos debates do Estado da Nação usarem mais palavras positivas do que negativas, o deste ano foi o mais positivo de todos: quase uma em cada três palavras foram classificadas como sendo palavras “positivas”.

Esta classificação tem por base o trabalho de Saif M. Mohammad e Peter D. Turney, que construíram uma base de dados de 14.183 palavras que classifica as palavras como positivas ou negativas. Esta base de dados permite-nos ir ainda mais longe e aferir, com algum grau de certeza, os sentimentos mais "fortes" nos textos.

E, aí, o discurso deste ano destaca-se num sentimento: confiança. Costa usou 152 palavras que, segundo este algoritmo, provoca a sentimentos de “confiança”. Foi o discurso com maior grau de percentagem associada a este sentimento.

"Confiança" foi, aliás, a quarta palavra mais usada pelo primeiro-ministro no seu discurso de abertura do debate deste ano. Costa recorreu à palavra para defender a solução governativa. “Portugal está melhor porque, os portugueses recuperaram a confiança”, disse, por exemplo, o primeiro-ministro.

Para além de confiança, “Portugal”,”melhor”, “emprego”, “continuar” e “investimento” foram outras das palavras mais usadas pelo primeiro-ministro no último debate do estado da Nação em que encabeça o XXI Governo Constitucional.