Vestidos com camisolas brancas, os polícias do Movimento Zero, criado através das redes sociais e do qual fazem parte agentes da PSP e militares da GNR, voltaram esta sexta-feira costas ao diretor nacional da PSP, Luís Farinha, quando este começou a discursar numa cerimónia presidida pelo primeiro-ministro, António Costa.

No seu discurso, Luís Farinha criticou as decisões da justiça, que “desvalorizam crimes contra a polícia”, numa alusão indireta às recentes condenações de polícias por agressões na Cova da Moura. O diretor nacional da PSP sublinhou ainda a sua preocupação com “a desvalorização que muitas vezes é feita do trabalho da polícia”.

Quando o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, começou a discursar, os polícias saíram em silêncio e de forma ordeira, levantando os braços e fazendo o gesto do número zero com os dedos. Após um discurso de balanço de medidas nesta legislatura, Eduardo Cabrita dirigiu-se aos manifestantes, dizendo que é a essa mesma polícia que “nenhum Governo e nenhuma direção nacional voltará as costas”.

Num outro local, na Praça do Império, junto do Museu Nacional de Arqueologia, cerca de 20 elementos do Corpo de Intervenção, vestidos com camisolas pretas, também mostraram a sua indignação através do silêncio.

Um grupo de polícias criou o Movimento Zero para protestar contra as condições de trabalho, baixos salários e recentes acontecimentos como o julgamento do caso da Cova da Moura, em que oito polícias foram condenados, e o caso que envolveu confrontos entre agentes e moradores do bairro da Jamaica, no Seixal.

Este movimento, que reúne atualmente mais de cinco mil polícias e militares da GNR, troca mensagens na aplicação de telemóvel Telegram e diz que enviou uma carta ao Presidente da República, ao primeiro-ministro, ao ministro da Administração Interna e à direção nacional da PSP com as suas exigências.

Na carta, divulgada a 31 de maio, os polícias referem que desde 21 de maio estão a “desempenhar as funções com proatividade nula”, não efetuando “abordagens a viaturas ou cidadãos”, nem intervindo em “situações de alteração de ordem pública sem que se encontrem totalmente reunidas as condições de segurança” como forma de protesto.

Além disso, não levantam “autos contraordenacionais, salvo nas situações estritamente necessárias”.

Esta manhã, os elementos da PSP e GNR pretenderam também alertar o poder político para a falta de condições dos polícias e para exigirem que esta situação não seja desvalorizada.