Os preços dos alimentos em Espanha continuam a disparar, acabando por engolir o alívio do IVA implementado pelo Governo, para fazer frente à inflação.

Consumidores e comerciantes dizem-se desiludidos com a medida que acabou por ter efeitos contrários aos esperados por Pedro Sánchez. Os preços subiram na origem e os reflexos na fatura são notórios.

A conclusão, de uns e outros, é simples: não há IVA de 0% que resista ao aumento de preços dos produtos na origem.

“Baixou o IVA, uns produtos mantiveram-se e outros subiram. Não adiantou nada”, lamenta Paola, proprietária de um supermercado em Feces de Abajo, dando como exemplo o “pão que desceu cinco cêntimos e o leite e o queijo que subiram um bocadinho, porque tiraram ao IVA, mas subiram ao preço”.

Contas feitas, a medida do Governo espanhol em nada ajudou comerciantes e consumidores, considera António Santos, dono de um outro supermercado, na mesma aldeia galega.

“Baixou o IVA, mas as fábricas aumentaram os preços e vai dar exatamente ao mesmo”, diz o comerciante, apontando os “grandes distribuidores, os grandes beneficiários, porque são eles que aumentam os preços”.

“Os produtos estão muito caros na origem”, nota, esclarecendo que “há uma grande especulação e as grandes superfícies estão a ganhar muito mais dinheiro agora do que antes, porque fazem uma inflação à medida deles”.

“Está tudo mais caro”

Os pequenos comerciantes - diz - para atrair clientes, preferem ganhar menos e não refletir a subida dos preços na fatura do consumidor.

Já em Verin, à Renascença, Geni, que saía com um pequeno saco de compras de uma grande superfície comercial, desabava que “está tudo muito caro”.

“Os preços estão muito altos. Dizem que baixaram o IVA, mas não se nota nada; ao contrário, cada vez sobem mais. A taxa zero não funciona. Não sei para quem vai o benefício; para o consumidor, para os que temos que vir comprar, não vem. Notamos que os preços sobem cada vez mais”, diz, acrescentando que “o cabaz está mais caro. O que hoje custa 1,5 euros, no outro dia já custa dois euros”.

Também Andreia nota uma grande subida dos preços, desde o início de janeiro, sobretudo nos bens de primeira necessidade.

“O fundamental foi o que mais subiu: o leite, o queijo, as hortaliças, os ovos, está tudo mais caro, não se nota nada a redução do IVA, antes pelo contrário, parece que ainda incrementou mais os preços”, diz, sublinhando que “o cabaz de compras está agora mais caro, ao ponto de, com cinquenta euros, não se comprar quase nada”.

“Não volto mais”. Portugueses desiludidos

Há também que note que alguns produtos estão mais baratos, só que a gramagem é inferior. É o caso de Antónia, a quem não resta outra coisa que gastar mais dinheiro para adquirir os mesmos produtos.

“Subiu tudo em geral. E há coisas que se nota que baixaram a quantidade. Mas, que podemos fazer: se temos que comer, temos que comprar!”, observa.

De acordo com os dados do Ministério espanhol da Agricultura, por exemplo, se no final de dezembro, na origem, uma dúzia de ovos custava em média 2,076 euros, atualmente o preço está nos 2,25 euros. A maior subida verifica-se, no entanto, no preço do quilo do pepino que, em dezembro, custava cinco euros e está agora nos 8,51 euros, ou no preço do quilo do tomate que custava em dezembro 6,11 euros e atualmente custa 8,8 euros.

Com esta escalada nos preços, que anulou qualquer alívio obtido com a taxa zero, os portugueses estão a sentir que não vale a pena a deslocação à Galiza. É o caso de Cândida, residente em Chaves, que à saída de uma grande superfície se mostrava “desiludida”.

“Acho que os nossos preços são melhores”, refere, atirando: “não volto mais”.

A mesma decisão já tomou Alberto, que saiu do estabelecimento comercial apenas com meia dúzia de produtos, por sinal “nenhum deles abrangido pela redução de IVA”.

“Não vale a pena vir cá. Eles subiram muito os preços e, agora, que já não temos o desconto na gasolina não se justifica a deslocação”, remata.