Apoios dentro do PS e no Governo
Dentro do PS e do Governo de António Costa, não faltam fãs de Pedro Nuno Santos. E, tendo em conta as primeiras reações ao anúncio da demissão, o cenário não deverá mudar rapidamente.
A ex-eurodeputada e candidata presidencial Ana Gomes, poucas horas depois de ter sido conhecida a demissão, escreveu no Twitter: “PNS sai como sempre esteve no Governo: com seriedade, convicção e dignidade. E com ambição para o País. A tempo de revigorar o Partido Socialista, espero.”
Duarte Cordeiro, ministro do Ambiente e camarada de Pedro Nuno Santos desde os tempos da JS, reagiu de forma mais contida. “Lamentamos, naturalmente, a decisão de saída do ministro das Infraestruturas e da Habitação. Valorizamos muito todo o trabalho e as marcas que tem construído e que estou certo de que o Governo continuará. É uma decisão individual que respeitamos e compreendemos que a tenha tomado", disse.
A ex-ministra e deputada Alexandra Leitão – que nos últimos meses tem vindo a ser crítica de algumas das opções do Governo -, em declarações à “CNN Portugal”, veio dizer: “Uma palavra para a enorme dignidade e humildade com que Pedro Nuno Santos sai do Governo, assumindo uma responsabilidade política que é notável."
Não esquecer, também, o que ainda aconteceu em outubro: após a continuidade de Pedro Nuno Santos no Governo ter sido posta em causa devido ao anúncio “precipitado” do aeroporto de Alcochete, Ana Abrunhosa, ministra da Coesão Territorial, afirmou publicamente numa sessão na Covilhã: “Perdoem-me o aparte, andei de coração apertado o dia todo, mas hoje estou duplamente feliz. Pedro estás aí a ouvir-nos? Mando um grande, grande abraço!”
A afirmação de Ana Abrunhosa causou desconforto junto de alguns militantes socialistas mais próximos do primeiro-ministro.
O legado da geringonça
Entre 2015 e 2019, Pedro Nuno Santos, enquanto secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, foi o principal elemento de ligação entre o Governo de António Costa e os parceiros da geringonça: Bloco de Esquerda, PCP e Verdes. Muita da sua fama e mérito vem desse período. Em 2017, foi o próprio governante a lançar o epíteto e garantia de que “o PS nunca mais vai precisar da direita para governar”.
Ora, corra como correr o resto da atual legislatura, é garantido que Portugal não voltará a Costa como primeiro-ministro. E quem herdar o trono do PS, para continuar no poder, terá, é quase certo, de fazer acordos à esquerda.
Segundo várias sondagens publicadas ao longo de 2022, o grau de aprovação do Governo tem vindo a descer e se houvesse eleições, no curto prazo, o PS já não conseguiria alcançar uma maioria absoluta.
De momento, nenhum dos putativos delfins de António Costa tem melhores relações com os partidos à esquerda do PS que Pedro Nuno Santos. Nem Fernando Medina nem Ana Catarina Mendes têm muitas ligações nos partidos desse campo político. Mariana Vieira da Silva está praticamente no mesmo pacote.
Na teoria, o agora ex-ministro das Infraestruturas parece ser o mais bem colocado para conseguir uma nova vitória.
Recorde-se: em janeiro deste ano, antes da ida às urnas que deram a maioria absoluta ao PS, Catarina Martins, coordenadora do Bloco de Esquerda, afirmou que o impedimento da reedição da geringonça era o “obstáculo Costa”.
Em declarações à Renascença, Pedro Soares, ex-deputado do BE, admitiu ter “toda a simpatia” por Pedro Nuno Santos e recordou ter tido “vários processos negociais que, no geral, correram bem” com o ex-ministro.
Uma saída limpa?
Num Governo acusado recorrentemente pela oposição de sacudir culpas, Pedro Nuno Santos escolheu sair alegando dando como justificação a “responsabilidade política” – uma expressão que tem peso e histórico dentro do Partido Socialista – pela nomeação e desconhecimento do valor da indemnização da TAP a Alexandra Reis.
A última vez que um governante do PS a utilizou foi o falecido ministro Jorge Coelho, após a tragédia de Entre-os-Rios.
Isto não quer dizer que a ficha de Pedro Nuno Santos esteja totalmente limpa ou que o futuro da TAP não se venha a tornar cadastro no currículo do ex-ministro. Há questões ainda por esclarecer sobre a polémica em torno do caso de Alexandra Reis.
Em todo o caso, o ministro da Infraestruturas sai com liberdade e margem para continuar na vida política. Vai continuar a circular pelos corredores do Parlamento. Porventura, para ganhar ainda mais lastro dentro do PS. Ou a dizer publicamente o que faria diferente de António Costa.