Contudo, a instabilidade que se criou nos hospitais levou o ministro da Saúde, Manuel Pizarro, a vir a terreiro dizer que o estudo era apenas um documento técnico e que as decisões políticas só seriam tomadas mais adiante.
Entretanto, o próprio diretor executivo do SNS, Fernando Araújo, sobre quem pende o ónus da decisão final, afirmou ao Público que Vila Franca de Xira e o Barreiro/Montijo “não deveriam fechar de forma definitiva”.
“A experiência que temos de serviços em que os blocos de parto fecharam indica que, a médio prazo, tendem a encerrar completamente”, lembra Fernando Araújo.
Em relação ao programa de encerramentos programados no primeiro trimestre deste ano é apontado como um balão de ensaio para o futuro. “É uma experiência que visa evitar fechos definitivos, encerramentos que acabariam por ser sem retrocesso, e dar-nos tempo até termos capacidade de voltar a ter recursos”, afirmou ao mesmo jornal.
“Começam a ganhar 1.700 euros e têm de pagar um apartamento que custa entre 600 e 700 euros”, quantifica. “Este médico vai continuar dependente da família, vai estar dependente dos amigos? É que estas coisas têm de se falar. Nós temos uma cidade que se chama Lisboa que na habitação é provavelmente a cidade mais cara da Europa neste momento. E ninguém pensa nisso.”
Mesmo antes destas afirmações, a diretora do serviço de Vila Franca de Xira Paula Tapadinhas já intuía que “a poeira está a assentar um bocadinho” e as pessoas “estão a perceber que realmente não é assim por decreto e, sem haver estudos e sem haver um conhecimento mais profundo da situação, que uma medida dessas irá para a frente”.
“Estão convencidas de que isso não irá para a frente”, sublinhou.
Debandada do SNS, metade dos obstetras nos privados
Ayres de Campos sabe que o que propôs provavelmente não será aplicado na íntegra. “As decisões políticas têm em consideração outros fatores além dos técnicos. O passado ensina-nos que isso aconteceu, e houve grande dificuldade em adotar medidas deste género.”
No entanto, a curto prazo não vê outra saída que não passe por fechos e reforço de equipas com os profissionais já existentes. “Mesmo que se acelerasse a formação de internos − este ano não houve um grande aumento, apenas mais cinco − é um processo que demora muito tempo”, salienta.
Independentemente do futuro, e das decisões de encerramentos definitivos ou encerramentos temporários, há a convicção de que o problema de fundo não está a ser resolvido: nomeadamente, como se inverte a debandada de médicos dos hospitais públicos e a falta de atratividade crónica do SNS.
“Mais de 50% dos especialistas em obstetrícia estão fora do SNS, saem todos os dias e, portanto, os serviços não têm o número de obstetras que deviam ter. A falta de obstetras vai continuar a existir”, diz o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, que aponta a questão remuneratória como o principal fator de fuga de especialistas.