Europeias 2024

PS tenta "projeto coletivo". Arranca a campanha de Temido, mas também de Assis e Ana Catarina Mendes

27 mai, 2024 - 06:30 • Susana Madureira Martins

Socialistas arrancam campanha esta segunda-feira, em Setúbal. Momentos-chave e grandes comícios terão a participação dos três primeiros candidatos da lista. "É possível" que Costa participe na Volta nacional.

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"O PS tem uma cabeça de lista do qual se orgulha muito, mas o partido tem uma grande lista". É com esta frase que Pedro Vaz, o secretário nacional para a Organização do partido resume a preocupação da cúpula socialista em equilibrar a campanha das europeias em torno dos três primeiros nomes da lista.

Há a número um, que é Marta Temido, mas também há Francisco Assis e Ana Catarina Mendes e ambos foram durante meses apontados como potenciais cabeças de lista do PS às eleições europeias. Cada um deles é um peso pesado dentro do PS e é assumido pelo diretor de campanha que a lista tem de ser vista como um "projeto coletivo".

Na apresentação aos jornalistas do esquema de campanha da caravana socialista, Pedro Espírito Santo reforçou a necessidade dessa gestão: "há a caravana principal, mas não se esgota aqui, há roteiros complementares da Ana Catarina Mendes e do Francisco Assis".

Os socialistas assumem assim o cuidado em equilibrar diversas sensibilidades do partido e, sobretudo, em não ferir suscetibilidades e egos. Isso nota-se à cabeça no arranque oficial da da campanha. Terá lugar em Setúbal, por onde Ana Catarina Mendes tem sido consecutivamente eleita deputada e onde já foi líder da distrital do PS.

A direção de campanha salienta ainda que os três primeiros nomes da lista - Temido, Assis e Ana Catarina Mendes - estarão "todos juntos nos momentos chave".

Pedro Espírito Santo refere como exemplos o sábado de transição para a segunda semana de campanha, em que se prevê uma agenda frenética no distrito do Porto, e o último dia, no encerramento, em Lisboa.

Pedro e Margarida Marques "vão estar e já têm estado" na campanha

Há uma segunda mensagem do PS para estas europeias. A de que o partido está todo mobilizado, mesmo sabendo o desconforto que causa, entre os atuais eurodeputados, a limpeza total que a lista sofreu.

Não há um único nome que tenha sobrevivido da lista do PS de 2019, mesmo tendo em conta a influência em Bruxelas de nomes como Pedro Marques, atual vice-presidente da bancada parlamentar do grupo Socialistas e Democratas, ou Margarida Marques, autora, por exemplo, do relatório europeu sobre governação económica. Pedro Vaz garante que "todas as pessoas estão mobilizadas" .

Mesmo Marta Temido, em declarações aos jornalistas na apresentação do esquema da caravana, deu a garantia que há uma preocupação interna em "procurar que a restante equipa e anteriores eurodeputados participem neste movimento de apelo à mobilização".

De resto, a cabeça de lista do PS já tinha dado a garantia que conta com a participação dos atuais eurodeputados socialistas na volta nacional. Na entrevista ao programa Hora da Verdade da Renascença e do jornal Público, Temido garantiu que "todos temos contado com um apoio inexcedível dos atuais eurodeputados" e que Pedro Marques e Margarida Marques "vão estar e já têm estado" na pré-campanha.

Ex-secretários-gerais na campanha? "É possível"

A direção da caravana socialista esconde o jogo sobre a eventual presença de antigos líderes do partido na campanha. Questionado sobre essa possibilidade, o secretário nacional para a Organização do PS, Pedro Vaz, diz apenas que "é possível".

Marta Temido já convidou António Costa a participar num dos momentos considerados chave, resta saber quando e onde. Em março, na campanha para as legislativas, o ex-líder socialista e antigo primeiro-ministro esteve no Porto, num Palácio de Cristal cheio que nem um ovo.

Numa altura em que Costa já foi ouvido pelo Ministério Público, na sequência do caso Influencer e não tendo sido constituído arguido, os socialistas respiram de alívio e uma eventual participação do ex-líder na campanha não causará sombra à cabeça de lista ou à própria caravana.

É ainda incerto se outros ex-secretários-gerais do PS irão participar na campanha socialista. A Renascença sabe, por exemplo, que nada está previsto para que Eduardo Ferro Rodrigues venha a estar nalgum ponto da intensa agenda da caravana.

Quanto ao líder do PS, Pedro Nuno Santos irá estar "intensamente" na campanha, segundo a direção da volta, mas ainda sem divulgar pormenores. Acontecerão em "momentos que serão definidos", diz Pedro Vaz.

Certa, também, é a presença na campanha do candidato comum do grupo dos Socialistas e Democratas à liderança da Comissão Europeia, o luxemburguês Nicolas Schmit, atual comissário responsável pelo Emprego e Direitos Sociais.

Schimt repete, assim, o que aconteceu em 2019, quando o então candidato comum dos socialistas, Frans Timmermans, surgiu logo no arranque da campanha, no Norte do país.

"Problemas europeus com respostas europeias" - da Habitação à juventude e emprego

"Rumo a uma vitória socialista", segundo o diretor de campanha, a caravana quer centrar a mensagem em três áreas: habitação, juventude e emprego. A primeira é especialmente cara à direção nacional do PS, tendo em conta que Pedro Nuno Santos tutelou a pasta, a segunda será uma tentativa de recuperar um eleitorado que tem fugido aos socialistas.

A direção de campanha explica que o projeto do PS é focado "nos problemas europeus, com respostas europeias", numa lógica de Europa de "proximidade, que deve ajudar os problemas" de cada um dos Estados-membros.

Temido deverá, ao longo das próximas duas semanas, carregar nas tintas na distinção entre as famílias europeias de centro-direita, o Partido Popular Europeu (PPE) e os Socialistas e Democratas (S&D).

A ex-ministra da Saúde tem tentado colar o PPE às famílias políticas dos conservadores e radicais - ECR e ID - assinalando a aproximação de Ursula von der Leyen aos Conservadores e Reformistas. Pedro Vaz explicou aos jornalistas que é preciso "afirmar que a Europa avança contra os populismos" em que se argumenta que existe uma "convergência entre a direita populista e a direita tradicional".

"Cobertura territorial total"

Na pré-campanha, a caravana socialista já despachou as regiões autónomas e Portalegre. No período oficial a campanha passa por todos os outros distritos do Continente. Pedro Espírito Santos fala numa "cobertura territorial total".

Os socialistas apostam tudo em Setúbal onde arranca e parcialmente termina a campanha, a par de Lisboa. Na primeira semana, a caravana mantém-se pelo Algarve, Alentejo e Beiras, tomando balanço para a segunda semana onde se irão concentrar nos distritos do Norte e centro do país, onde habitualmente têm multidões à espera.

A comitiva socialista vai centrar-se em três tipos de eventos, segundo a direção de campanha, que inclui contacto com a população, aproveitando a facilidade e eventual aceitação de Temido na rua.

Os socialistas prevêem ainda visitas setoriais, que normalmente incluem passagens por fábricas ou empresas que se distinguem em áreas de inovação ou, eventualmente, fazem parte de projetos do Programa de Recuperação e Resiliência (PRR).

Tal como na campanha das europeias de 2019, o PS tem previstos os "Encontros Europa", momentos de debate em ambientes politicamente controlados e que habitualmente acontecem em auditórios, em que o partido discute áreas temáticas chamando convidados que interagem com a plateia.

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