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Entrevista Renascença

Carlos Barroca: ​“Neemias já mostrou que pertence à NBA”

20 jan, 2022 - 11:50 • Carlos Dias

Vice-presidente de Operações da NBA na Ásia, Carlos Barroca prevê sucesso de Neemias Queta no basquetebol norte-americano. Objetivo, sem prazo definido, passa por voltar a Portugal e assumir funções de coordenação do basquetebol nacional.

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Carlos Barroca, o português que desempenha as funções de vice-presidente de operações da NBA na Ásia, está entusiasmado com as prestações do primeiro jogador português na NBA.

Neemias Queta começa a ter minutos nos Sacramento Kings e os sinais têm sido positivos. Nesta entrevista à Renascença, Carlos Barroca antevê uma carreira de sucesso para o poste português, explica as suas funções na NBA e deixa a garantia de que quando voltar a Portugal vai candidatar-se à presidência da Federação Portuguesa de Basquetebol.

A sua ideia passa por procurar devolver ao seu país aquilo que foi aprendendo além-fronteiras.

Em que consiste o trabalho do Carlos Barroca como vice-presidente na NBA Ásia?

O meu trabalho é inspirar governos para darem ferramentas de educação e ferramentas ao desporto, é influenciar treinadores, federações, jovens, professores de educação física, miúdos que nunca praticaram basquetebol. O meu trabalho é de muitos números, de cativar gente, temos por exemplo um projeto na Ásia que conta com 135 mil professores e 27 milhões de miúdos.

Dentro destes miúdos vamos encontrar fãs da NBA, porque há aqui uma parte que é negócio, e também vamos tentar encontrar talentos para a NBA. Se isso acontecer será um diamante para polir e é uma perspetiva de aumentar a visibilidade da Liga e do negócio.

Se tivermos em conta que mais de 80% dos rendimentos da NBA vêm dos direitos de transmissão televisivos, quanto mais gente estiver num país a ser consumidora, a criar audiência, mais caro fica o produto televisivo para o canal que o compra. Assim, temos mais fãs, mais consumidores, mais potenciais jogadores e claro, podemos descobrir as pérolas que podem chegar mais longe na NBA.

O que sente, como português, com o cargo que ocupa, quando vê chegar o primeiro jogador português na NBA?

A pergunta que milhões de vezes me perguntaram durante os 25 anos em que comentei a modalidade na televisão foi quando é que vai haver um jogador português na NBA?

A resposta que eu dava era sempre esta: essa pergunta não é para mim, é para vocês, quem de vocês está preparado, quem de vocês tem essa ambição e quem de vocês trabalha para isso, porque no mundo há 450 milhões de praticantes de basquetebol e apenas 450, 500 chegam à NBA.

Portanto, quem está disposto a pagar o preço e quem está disposto a correr ao lado de milhões que querem a mesma coisa. Quem está disposto a trabalhar mais, a trabalhar melhor, ter um objetivo definido e pagar o preço para chegar lá e por isso hoje temos o Neemias Queta que nos orgulha todos os dias.

Como acompanhou o processo de entrada do Neemias Queta na NBA. Conseguiu perceber com antecedência que o Neemias ia ser escolhido no “draft”?

Tenho muita gente ligada ao "scouting" da NBA e quase me garantiram que ele ia ser escolhido e provavelmente seria com um contrato de duas vias, como acabou por ser.

Não há nada como ter amigos que nos dão informações desta natureza. Profissionalmente foi um foi um dos melhores momentos da minha vida. Quando alguém alcança o sucesso, esse sucesso inspira-nos de volta. Fico feliz pela felicidade dele, da família dele e também aquilo que esta conquista pode ser amplificada como uma mensagem positiva.

Estes primeiros tempos de Neemias Queta permitem pensar que pode ter uma carreira duradoura na NBA?

Confesso que já fez mais do que aquilo que eu esperava que conseguisse fazer, principalmente pelo à vontade com que ele jogou contra os Cleveland Cavaliers. Se tem tão pouca experiência, é um “rookie”, não se pode dizer que vai ser um “all-star”, ele é um jogador regular e a forma como jogou naquele jogo é para mim a nota mais alta.

O que fez até agora, de se colocar onde se colocou, é extraordinário. O que ele fez naquela noite é fantástico, o que ele fez naquela noite foi colocar-se a um nível de “eu pertenço aqui, eu faço parte disto, metam-me a jogar que eu tenho argumentos. Eu faço parte deste filme”.

O Neemias tem condições para jogar na NBA, atleticamente e tecnicamente, depois é uma questão de sorte, estar na equipa certa, os companheiros certos. Outro dado curioso, os companheiros adoram-no, porque é humilde, é bom companheiro, tem bom sentido de humor, está sempre bem disposto, está sempre cheio de energia.

Energia gera energia, positividade gera positividade. Estes argumentos não se compram, ou se têm ou não se têm, porque ninguém gera energia sendo falso.

O Neemias pode servir de exemplo para os outros jogadores portugueses?

Os que estão aí que se apresentem, não pensem que o caminho vai ser fácil, haverá noites isoladas, ajustamentos de comida, sociais, treinadores diferentes, gente diferente, horas de trabalho impróprias.

Se querem a NBA vão ao trabalho. Se o Neemias conseguiu, vocês também conseguem

Para quando o regresso ao basquetebol português, onde o Carlos Barroca já fez de quase tudo? Por isso questiono se ser dirigente está nos seu planos?

Confirmo que faz-me correr a ambição de um dia poder devolver em competência, em liderança, em visão, em concretização ao meu país aquilo que eu sou e aquilo que eu sei.

Não sei se será hoje, se será em breve, se será mais à frente, mas tenho como objetivo um dia concorrer à Federação Portuguesa de Basquetebol, com o propósito de ter a capacidade de inspirar mais decisões que possam ajudar que outros Neemias apareçam, que possa ajudar a aumentar o número de praticantes de basquetebol, que as pessoas que gostam de basquetebol se sintam bem dentro da sua própria modalidade, que os treinadores, os árbitros, os dirigentes tenham espaço para crescer porque isto é feito por pessoas, que haja uma visão, que possa ser um líder de uma federação que sirva o basquetebol e não uma federação que se sirva do basquetebol.

Isto não é uma crítica, mas tenho este objetivo na minha vida e vou tentar concretizá-lo.

Há assim tanto para mudar no basquetebol português?

Não olho para o basquetebol com um sentido saudosista, mas sim realista. O basquetebol português nas décadas de 70, 80 e 90 tinha os pavilhões cheios, tinha uma liga profissional, a primeira em Portugal, até antes do futebol, tinha uma associação de treinadores ativa, tinha uma liderança na formação de quadros e era uma modalidade de referência para outras modalidades.

Não vejo que isso seja o estado atual. Hoje vimos o voleibol em Europeus e Mundiais, o andebol em Jogos Olímpicos, temos modalidades individuais a conquistar medalhas internacionais e não vimos o basquetebol a ter esse mediatismo

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