​Francisco Chaló e o caso Slimani: “Rúben Amorim perdeu o jogador, mas ganhou uma equipa”

29 jun, 2022 - 09:00 • Pedro Azevedo

Treinador português trabalha na Argélia e não ficou surpreendido com o conflito que motivou o afastamento de Slimani do Sporting. Chaló fala em egocentrismo do jogador

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Slimani não entra nos planos de Rúben Amorim Foto: Hugo Delgado/EPA
Slimani não entra nos planos de Rúben Amorim Foto: Hugo Delgado/EPA
Slimani estava no Lyon, antes de se transferir para o Sporting Foto: Mário Cruz/EPA
Slimani estava no Lyon, antes de se transferir para o Sporting Foto: Mário Cruz/EPA

Slimani tem contrato com o Sporting até junho de 2023, mas não entra nos planos de Rúben Amorim. O treinador do Sporting assumiu a dispensa na sequência de um problema com o jogador. Francisco Chaló comanda o Paradou da Argélia e conhece bem a mentalidade dos jogadores daquele país do norte de África.

“O problema de Slimani tem a ver com a gestão do sucesso. O que se passou no Sporting não é surpreendente. A mentalidade do jogador argelino entra facilmente em conflito quando as coisas não são do seu agrado. E em termos da crítica em geral na Argélia não é muito bem vista a inclusão de Slimani na seleção. Slimani é um jogador importante para uma equipa, mas todos são importantes e o individual não pode estar acima do coletivo. E quando o jogador não sabe gerir, fazer o seu ponto de equilíbrio e autocrítica para a sua forma momentânea, tudo se torna mais difícil”, refere o treinador português.

O problema de Slimani passa por egocentrismo? “Parece-me ser a palavra certa”, conclui Francisco Chaló em entrevista a Bola Branca.

Um "caso Slimani" no Paradou

Sobre a mentalidade dos jogadores argelinos, Francisco Chaló compara o problema ocorrido no Sporting com um episódio verificado em 2018 quando chegou ao Paradou.

“No primeiro ano tive de 'eliminar' o jogador mais mediático. Eu sabia que ao 'eliminar' o jogador por muito interesse que ele tivesse no plano individual eu ganharia uma equipa. Foi o que aconteceu no Sporting. A melhor liderança é a do exemplo não é a da palavra”, sublinha.

Ainda sobre Slimani, Francisco Chaló refere que a imagem do jogador na Argélia nunca foi a melhor também no plano técnico:

“Slimani quando saiu da Argélia fazia parte do CR Belouizdad que é hoje um crónico campeão. Nessa altura Slimani não era bem visto, não era um ponta de lança de referência. Eles apreciam muito a parte técnica e diziam que Slimani, tendo força, não era um jogador tecnicamente requintado. Depois fez um trajeto com sucesso com a ajuda de treinadores portugueses, designadamente com Jorge Jesus no Sporting”.

FC Porto à frente, "ano D" do Sporting e a escola Schmidt

Francisco Chaló treina na Argélia, mas acompanha com atenção as incidências do campeonato português e as movimentações de mercado com vista à nova época. O treinador foi convidado por Bola Branca a antever a época dos três grandes.

“O FC Porto tem a incógnita sobre a maneira como irá substituir algumas pedras basilares do que considero ter sido o melhor Porto de Sérgio Conceição em termos qualitativos. Foi o melhor Porto pelos princípios de jogo, a variedade e a questão técnica. A parte física foi relegada para a parte técnica e essa foi a filosofia do Porto. E há duas peças, Fábio Vieira e Vitinha que eram fundamentais na elaboração técnica e compreensão do jogo e a gestão com bola”, refere.

Mas mesmo assim, Chaló coloca o Porto na frente no que toca a favoritismo. “Quem ganha tem alguma vantagem. E na sua história recente o FC Porto tem ultrapassado as metamorfoses na equipa. Sérgio Conceição tem tido uma visão camaleónica na forma como conduz e modela a equipa e mostra capacidade nessa adaptação o que no futebol moderno é muito importante”.

Sobre o Benfica, Francisco Chaló considera que “a grande questão é saber se Roger Schmidt, sendo um treinador rigoroso, que ideia terá para o jogo? Escola holandesa, alemã, a mistura das duas? Será que se esquece da escola portuguesa? São as grandes questões para o Benfica na nova época”, sustenta.

Em relação ao Sporting, o treinador projeta a nova época em função do efeito das duas temporadas completas que Rúben Amorim soma no comando da equipa. “O Sporting tem o ‘ano D’. O primeiro teve um impacto extraordinário sem público nos estádios devido à Covid, mas com uma energia muito interessante na ocupação racional do espaço e com um sistema muito bem oleado. No segundo ano não ganhou, mas manteve uma estrutura e uma ideia de jogo. E este é o ano da afirmação do primeiro ou do segundo”, afirma.

Sobre as questões do mercado, o treinador salienta dá maior relevo à possibilidade de saída de Matheus Nunes do que de Palhinha. "Se Matheus Nunes não ficar acho que o Sporting vai ter mais problemas. No caso do Palhinha, que não foi vencedora para o Sporting, foi uma época em que teve menos Palhinha”, avalia.

Natural de Ermesinde, Francisco Chaló, que renovou contrato com o Paradou da Argélia, iniciou a carreira de treinador em 1995/96 no Alfenense. Passou por Pedras Rubras, Feirense, Naval, Penafiel, Sporting da Covilhã, Académico de Viseu, Leixões, Trofense e Paradou.

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