Relembrar o passado, o fascismo e a ditadura. Reviver o 25 de abril, a revolução e a mudança de regime. E, acima de tudo, revisitar os valores da liberdade.

É este o mote do “Especial Liberdade”, da revista Kioskzine, edição que celebra os 50 anos da Revolução dos Cravos com a publicação e exposição de fotografias de quatro fotógrafos que viveram o pré, o durante e o pós 25 de abril, no Porto e Lisboa.

José Farinha, um dos cocriadores do projeto juntamente com Paulo Pimenta, conta à Renascença que a ideia para a edição especial surgiu após terem visitado uma exposição fotográfica de Guilherme Silva, um dos fotógrafos selecionados para a “Kioskzine - Especial Liberdade”, e se terem deparado com imagens da revolução que nunca tinham visto antes.

“Estamos habituados às fotos mais comuns do 25 de abril, como as do Largo do Carmo, Terreiro do Paço... e, de repente, vimos ali duas ou três imagens fantásticas com uma abordagem diferente. Então, pensamos em criar uma edição especial da Kioskzine, dedicada aos 50 anos do 25 de abril, e desde logo tivemos a ideia de fazer uma edição em Lisboa, com dois fotógrafos de Lisboa, e uma edição no Porto, com dois fotógrafos portuenses”, afirma José Farinha.

A exposição fotográfica abre portas no Fórum da Maia (Porto) a 18 de abril, com fotografias de Sérgio Valente e Rui Mendes. José Farinha acredita que “falta no imaginário visual do 25 de abril as imagens do Porto. Quase sempre vem à tona as imagens de Lisboa, mas no Porto também houve muitas manifestações e acontecimentos que foram fotografados.”

Já na capital, o Espaço CC11@imago está responsável por acolher a mostra de imagens de Guilherme Silva e Carlos Gil, a partir de 18 de maio.

Os quatro fotógrafos têm “abordagens muito diferentes”. No Porto, Sérgio Valente fez “um acompanhamento bastante alargado” de todos os acontecimentos, uma vez que era um fotógrafo ativista. Segundo José Farinha, o fotógrafo “teve muito presente no período antes da revolução, chegou a ser preso e torturado pela PIDE”. Já Rui Mendes foi para Paris antes da revolução, escapou ao serviço militar obrigatório, e fez uma cobertura “muito interessante e diferente” da comunidade de emigrantes portugueses.

Em Lisboa, José Farinha conta que o fotógrafo Guilherme Silva foi “atacado pela polícia” no dia da revolução e, por isso, não conseguiu fotografar tudo, apenas nos dias que se seguiram. Já Carlos Gil teve uma “abordagem mais fotojornalista”, visto que na altura trabalhava como repórter e pôde fazer uma “cobertura do dia bastante extensiva”.

O responsável salienta que o objetivo do projeto é trazer imagens, e consequentemente fotógrafos, “menos conhecidos pelo grande público” e que as pessoas acabam por ter menos acesso, para mostrar uma visão nova do “que era o país antes da revolução, e, também, o que foi Portugal e as comunidades portuguesas após toda a revolução.”

Para José Farinha é “importantíssimo” relembrar todos os acontecimentos do 25 de abril “para que as pessoas realmente percebam que, às vezes, o que damos por garantido pode ser comprometido.”

“Muita gente passou por momentos muito complicados, houve situações durante o regime como o campo do Tarrafal, por exemplo, e todas as prisões políticas, torturas, mortes, falta de liberdade de expressão... E, hoje em dia, ainda mais necessário é passar esta mensagem às gerações vindouras, porque ela vai-se diluindo”, defende José Farinha.

A exposição fotográfica “Kioskzine - Especial Liberdade” vai estar presente no Porto, de 18 de abril a 12 de maio, e em Lisboa, de 18 de maio a 22 de junho.