Foi há 30 anos que a jornalista Aura Miguel, da Renascença, viajou para cobrir ao vivo um evento com o Papa João Paulo II. Três décadas e três Papas mais tarde, diz que continua a surpreender-se com os gestos de misericórdia que tem a oportunidade de testemunhar. Realça uma que se passou consigo, quando soube que o Papa Francisco a tinha escolhido para dar uma entrevista exclusiva.
A jornalista compara-se com Zaqueu, o cobrador de impostos que subiu a uma árvore para ver passar Jesus, que acabou por fazer-se convidado para ficar essa noite em sua casa, conduzindo a um processo de conversão. “A minha relação pessoal profunda de tantos anos era com João Paulo II e com Bento XVI. Este, o Papa Francisco, praticamente não conhecia, por isso estava em cima da árvore a ver o que é que estava a dar. E ele vai e prefere-me, se calhar teve a intuição de que eu precisava desta misericórdia.”
Ao longo das décadas a acompanhar as viagens papais, têm sido muitas as oportunidades de encontrar a misericórdia nas relações pessoais. “Aquilo de que me dei conta desde o início foi que as pessoas verdadeiramente vivas não têm a ver com a idade. O coração vivo é o coração que está certo das coisas que valem a pena, do que é essencial. Isso encontra-se no Papa, claro, mas em muitas outras pessoas e muitas delas muito discretas, inclusivamente algumas com alguma idade, já, mas que mantêm esta centelha do que é o essencial. Certas de grandes coisas, mas vividas na vida quotidiana."
“Ao mesmo tempo, pelas piores razões encontramos jovens que são uns velhos, porque não esperam nada, acham que já sabem tudo e não estão focados naquilo que verdadeiramente vale a pena, que é confiar naquele que nos ama mais que ninguém, que é Deus. Isso é, confiar, na misericórdia.”
Um fio condutor
Neste Jubileu da Misericórdia o Vaticano publicou oito guiões com textos de apoio e recomendações práticas, divididos por temas. O sétimo guião, publicado em Portugal pela Paulus, é sobre “Os Papas e a Misericórdia” e abrange sobretudo João Paulo II, Bento XVI e Francisco.
“É interessante como nesta era da globalização, com toda a evolução de tecnologia, os Papas e o que eles dizem tornaram-se mais acessíveis. Mesmo não seguindo os passos deles como eu faço, é possível detectar – e o livro começa por sublinhar – que há uma espécie de direcção espiritual colectiva que brota dos ensinamentos dos Papas anteriores, dos mais recentes”, comenta Aura Miguel.
Este fio condutor inclui, no entender da jornalista, a vontade de levar a misericórdia aos outros por parte de quem a experimentou o amor de Deus. “Talvez o Papa Bento XVI o tenha feito de uma forma mais organizada, como é o seu estilo, mas também percebia-se que a experiência dele de misericórdia era de alguém que era muito amado. Aliás todos eles. Acho que pode ser isso o fio condutor.”
“Por isso este livro, ao sublinhar o que é o essencial da misericórdia ajuda-nos. Dei comigo a fazer este fio condutor. São homens completamente diferentes uns dos outros, que têm o essencial do Evangelho para comunicar, e o essencial do Evangelho para comunicar é que Deus é obstinado a amar-nos e não se detém com as nossas misérias, com os nossos pecados. À sua maneira, cada um dos papas tentou demonstrá-lo.”
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Pedro
01 out, 2016 Lisboa 23:48
Eu...Eu...Eu...
"Aura Miguel não tem dúvidas de que cada um se pode sentir como Zaqueu"
Eu não tenho dúvidas que Aura Miguel não faz a mínima ideia do que está a falar.
Posso sentir-me como Tomé, como João, como Tiago, como tantos outros...até como Paulo/Saulo!
Como Zaqueu...é para quem não ouve a RR!
João Galhardo
01 out, 2016 Lisboa 09:54
Dona Aura Miguel, se o papa a preferiu, é porque a senhora é uma santa. A senhora está irradiada de luz.
Não sei mesmo o que dizer disto: Beato ou medieval?