21 jan, 2016
António de Almeida Santos era um ser humano superior, dotado de vivíssima inteligência, sensibilidade rara e cativante, notável estatura moral e cívica. Cidadão de causas, não deixava para ninguém o que tinha para fazer pelas causas que abraçava. Republicano e socialista, lutou pela liberdade e foi defensor da tolerância mas, acima de tudo, defensor do respeito pelo outro e do valor da diferença. Político conciliador, transversal e agregador de sensibilidades diversas, para ele contavam as causas justas do homem e do progresso da humanidade. Como lutador pela liberdade, pela igualdade e pela justiça, contava com todos os que aderiam a este combate, pouco valendo, comparativamente, matizes políticos ou credos alheios diversos dos seus.
Personalidade segura das suas convicções, era fácil considerarmo-nos seus amigos e sentirmos que Almeida Santos, sempre generoso, retribuía com mais afecto o afecto que lhe era votado. O brilho da sua inteligência, que sabia colocar ao serviço do indivíduo, soube também colocá-lo ao serviço do bem comum, das causas maiores do Homem, da construção de um mundo melhor.
Homem bom e solidário, para o seu amigo e para os que procuravam o seu conselho, estava sempre ao alcance de um número de telefone, de um mail, de uma carta, de um alerta dado por amigo comum, de um agendamento prévio que cumpria com escrúpulo. Distinto, de trato fino e pleno de genuíno afecto, chegava a comover pela forma como sabia ouvir e dar a sua opinião, com respeito pela opinião alheia, mas sem que isso o inibisse de exprimir serena e convictamente a sua.
Almeida Santos era também um devotado amante de Coimbra e da sua Universidade, onde se formou em Direito, dela vindo a receber o título de doutor honoris causa. Progressista, quantas vezes à frente do seu tempo, gostava como poucos da sua Academia de Coimbra, das tradições coimbrãs, da sua Real República “Baco”, onde viveu enquanto estudante, da sua Académica, do Orfeon Académico de Coimbra que integrou, do fado e da guitarra de Coimbra que cultivou e continuou a gostar de cultivar toda a vida.
Jurista esclarecido, rigoroso e experiente, deixou ao País leis robustas, estruturantes do respirar saudável de um Estado de Direito e democrático.
Humanista, homem de letras e de cultura, era ainda um adorável conversador e um orador de fino recorte que se sabia fazer entender sem exigência de especial literacia dos que o ouviam, sem nunca abandonar a elegância do porte e da forma de dizer.
A Almeida Santos, de quem tive o raro privilégio de momentos de próximo convívio, um eterno adeus e o tributo da minha admiração.
Assim o quero continuar a ver.