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A história de uma coleção com 500 pares de sapatilhas em exposição

24 fev, 2023 - 12:32 • Maria João Costa

“Sapatilhas: Marcas Portuguesas do Estado Novo ao Virar do Milénio” é a exposição que na Casa do Design, em Matosinhos reúne mais de 500 modelos de 100 marcas portuguesas. A mostra feita com a coleção privada de Pedro Carvalho de Almeida conta a história de uma paixão e da indústria de calçado desportivo nacional.

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Uns chamam-lhe sapatilhas, outros ténis. Pedro Carvalho de Almeida trata-os por tu, desde o dia em que aos 4 anos sonhou ter uns iguais aos que via “passar à porta de casa” calçados nos pés de alguém que “parecia flutuar ou andar sobre as nuvens”.

Ao longo dos anos, Pedro Carvalho de Almeida fez uma coleção de sapatilhas que agora partilha com todos na exposição patente na Casa do Design, em Matosinhos. “Sapatilhas: Marcas Portuguesas do Estado Novo ao Virar do Milénio” reúne mais de 500 modelos de 100 marcas portuguesas produzidas nos últimos anos.

Em entrevista ao Ensaio Geral, da Renascença o curador da exposição conta que “a exposição pretende ser, em primeiro lugar, uma retrospetiva histórica para se perceber o legado da indústria portuguesa nesta tipologia de calçado. Por outro lado, tem por objetivo estabelecer um momento de reflexão crítica daquilo que são os desafios atuais. A exposição e o seu conteúdo demostram o potencial do que existe e foi feito a nível do calçado desportivo em Portugal”.


Segundo Pedro Carvalho de Almeida, designer de profissão e professor auxiliar de Design no Departamento de Comunicação e Arte da Universidade de Aveiro, as sapatilhas ou ténis, hoje muito na moda, tiveram na história nacional da produção de calçado desportivo exemplo de grande sucesso.

Além das sapatilhas Sanjo que se tornaram um ícone, há outro exemplo. É o caso da Cortebel diz o curador “que esteve diretamente ligada à produção de calçado para os combatentes na Guerra Colonial e que desenvolveu outro modelo que foi provavelmente o modelo de calçado desportivo em Portugal mais vendido de sempre, com cerca de 12 milhões de pares vendidos entre 1978 e 2018 ininterruptamente”, indica Pedro Carvalho de Almeida.

Segundo o curador da exposição que pode ser visitada até 27 de agosto, o caso da Cortebel “continua a ser um caso muito desconhecido enquanto marca e modelo, não obstante ter sido muito popular na década de 80 e no mercado japonês já no virar do milénio”.

“A exposição organiza-se em vários módulos, sendo o primeiro uma introdução histórica aquela que foi a evolução das sapatilhas, mas sobretudo associada à sociabilização do desporto”, explica o designer que acrescenta que “há um outro conjunto de núcleos que estuda o impacto socio económico e cultural das sapatilhas Sanjo, que são um ícone do calçado desportivo nacional”.

As Sanjo foram de resto o objeto de desejo deste colecionador privado que ao longo dos anos constituiu a coleção que agora dá a conhecer. Pedro Carvalho de Almeida conseguiu “preservar” alguns modelos que usou na infância. Mas foi aumentando o seu acervo com um longo processo de investigação.

Quando em 2002 começou a procurar elementos, já a Fábrica “Sanjo tinha desaparecido, tinha sido desmantelada em 1996 e vendida em hasta pública”. A partir daí, o colecionador partiu em busca “de evidências que ajudassem a reconstituir a história de marca”. “Fui a lojas, falei com antigos funcionários da fábrica” relata o curador da exposição.

“Isso levou-me à sapataria Passarinho da Ribeira, mesmo junto ao Rio Douro, onde em conversa e descrevendo as sapatilhas que tinha tido na infância, para minha surpresa, a senhora levantou a mão e de cima do balcão saíram algumas caixas com algumas décadas imaculadamente preservadas com os modelos que eu tinha descrito. São esses os primeiros modelos desta coleção”, explica Pedro Carvalho de Almeida.

Segundo o colecionador, as sapatilhas “é uma paixão antiga” e recorda que a coleção começou em 1982 quando os seus pais lhe ofereceram as primeiras sapatilhas de marca”. Na sua história, recorda também o momento quando aos 12 anos “decidiu inventar a própria marca e desenvolver um catálogo extenso com os respetivos acessórios”.

A exposição que agora mostra esta coleção foi feita em parceria entre a ESAD e o Instituto de Investigação e Design Media e Cultura e contará com programação paralela. De março a junho serão debatidos temas como o papel do designer como colecionador, as ligações entre o design, a indústria e o artesanato, bem como os desafios e oportunidades no desenvolvimento sustentável.

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