04 out, 2024 • Maria João Costa , José Luís Moreira (sonorização)
No novo episódio, a fadista fala sobre o projeto que tem para os Açores, onde quer interromper um ciclo de pobreza cultural, e fala sobre o seu fado, como tudo começou, e qual a diferença de cantar para um público estrangeiro ou português.
A fadista, que assumiu recentemente o cargo de Comissária de Ponta Delgada - a Capital Portuguesa da Cultura de 2026 -, reconhece que há ainda situações sociais graves nos Açores e que, por isso, encara como uma missão as suas novas funções de programadora.
“Esta é uma missão que para mim é tudo menos política. Eu tendo crescido naquela terra, reconheço as dificuldades sociais que são muito evidentes. Há muita pobreza, há muita miséria e quanto mais diferenças há, menos acessos os mais desfavorecidos têm a tudo aquilo que, nós privilegiados, temos a possibilidade de apreciar, viver, sentir e no fundo, foi um pouco isso que me moveu", conta a fadista. "Foi poder, através de um projeto ajudar a transformar”.
A fadista lamenta que, depois do fado ter sido reconhecido como Património Imaterial da UNESCO, não se tenha investido na educação sobre o fado.
“Na população em geral, no país, acho que poucas pessoas sabem alguma coisa sobre o fado, da história do fado ou de elementos importantes que são necessários saber de fado. Faz parte da cultura geral. Todos sabemos que uma equipa de futebol tem 11 jogadores e alguns no banco, mas poucos saberão que uma guitarra portuguesa tem 12 cordas. Infelizmente eu sinto-me envergonhada porque muitas vezes chego a França ou a Inglaterra e tenho pessoas a falar-me de figuras do fado que eu não imaginava que conhecessem”.
Katia Guerreiro explica, ainda, o papel da fé na carreira de fadista. “É por ser uma mulher de fé, e acreditar que todas as religiões baseiam-se em amor, e o amor é o amor ao próximo, é sermos generosos, é sermos atentos, cuidadosos e sabermos dar a mão quando somos capazes de ajudar", diz a fadista, para quem aplicar a fé é ainda "não rejeitar a oportunidade de ajudar e de contribuir. E eu faço isso no meu dia a dia, como agora pretendo fazer de uma forma um bocadinho mais alargada", em Ponta Delgada.
"Há fé no fado, sempre. Claro que está, porque eu tenho esperança no amor, e eu canto essencialmente o amor, e quando eu canto amor estou a cantar a minha fé”, diz Katia Guerreiro.