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Nuno Artur Silva

“Há necessidade de nos envolvermos mais para dignificar a função política”, diz ex-secretário de Estado

11 jan, 2023 - 18:46 • Maria João Costa

Aos 60 anos, depois de ter exercido funções políticas, Nuno Artur Silva regressa ao palco, não da política, mas do teatro com o espetáculo “Onde é que eu ia?”. Vai estar em cena no Teatro São Luiz, em Lisboa até 29 de janeiro. O cenário é criado em tempo real pelo ilustrador António Jorge Gonçalves

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'Quem sou?', 'Para onde vou?' e 'O que estou aqui a fazer?' interroga-se, aos 60 anos, Nuno Artur Silva. O ex-secretário de Estado da Cultura e guionista, que passou pela administração da RTP, leva todas estas perguntas para o palco no espetáculo “Onde é que eu ia?” que estreia quinta-feira e que vai estar em cena, na sala Mário Viegas, no Teatro São Luiz, em Lisboa até 29 de janeiro.

Em entrevista ao programa Ensaio Geral, da Renascença o criador da empresa Produções Fictícias explica que este espetáculo, “em registo stand-up comedy”, não é sobre si, “isso não seria interessante”, desabafa, “mas é sobre aqueles que possam ter as mesas interrogação e observações sobre o mundo que nos rodeia”.

Tendo passado pela experiência política no Ministério da Cultura, com a ministra Graça Fonseca, enquanto secretário de Estado da Cultura, e depois de ter passado pela administração da RTP, Nuno Artur Silva usa “os vários chapéus” que foi colocando e junta-lhe os apontamentos que tomou no seu “bloco de notas” para transformar em espetáculo.

“O ponto de partida é sempre o lado cómico disto! E há sempre um lado cómico, mesmo nos momentos mais dramáticos ou mais importantes”, refere Nuno Artur Silva que acrescenta que “o espetáculo também fala sobre a passagem do tempo”. “A partir desses lugares onde eu fui estando, desde o meu lugar inicial como argumentista e diretor de empresa, sobretudo reconhecida pela comédia; depois dar um salto para outras funções, dá também um retrato dos vários lados daquilo que foi acontecendo, não apenas comigo, mas também ao mundo à nossa volta nos últimos tempos”, explica Nuno Artur Silva.

“Pareceu-me que poderia ser um ponto de partida interessante, a partir destes postos de observação e do bloco de notas que eu levo sempre, ir falando do que foi acontecendo às nossas vidas nos últimos tempos. A pandemia, mas não só. Tudo o que é o mundo atual, as redes, as comunicações, a indústria dos conteúdos, a cultura, o mundo da política, a sociedade como mudou e está a mudar”. É partir daqui que nasce o que o autor diz se “uma espécie de conversa” com o público.

O que enriquece a política?

Questionado sobre o lugar do palco do teatro, Nuno Artur Silva indica que não é “exatamente uma pessoa de palco”. “Eu sou uma pessoa que escreve, que gosta de escrever com os outros, de fazer trabalhos com outras pessoas. Esta ideia do trabalho coletivo foi uma coisa que me interessou sempre muito. Trabalhar com desenhadores, com músicos, com outros argumentistas”.

É desse trabalho que confessa que tinha saudades. Já sobre o exercício da política não mostra o mesmo saudosismo. “Eu sempre tive esta ideia de que a política para mim era sempre a participação naquilo que possa ter interesse público, no coletivo. Esta ideia de separar as pessoas dos políticos é sempre uma má ideia”, diz o ex-governante.

“A política é feita sim, de políticos profissionais - aqueles que dedicam a sua vida toda à política - mas deve ser feita também daqueles que têm as suas atividades nas diferentes áreas. Quando são convidados também têm a oportunidade de fazer política temporariamente. E era nesse grupo que eu me incluía. Acho que a política fica enriquecida com estes dois tipos de políticos. Os que são mais profissionais da política e aqueles que sabem que vão exercer essa função temporariamente, como era o meu caso”, admite Nuno Artur Silva.

Na opinião do argumentista que confessa que a sua “atividade não é ser político”, mas sim “autor que escreve de muitas maneiras, com muitos colaboradores e para muitas áreas”, há “cada vez mais uma certa necessidade de nos envolvermos mais nas questões políticas para dignificar a função política”.

Nuno Artur Silva dá como exemplos as “questões como as ambientais ou da desigualdade social, mas também a cultura, a comunicação e os média”, como áreas onde considera “fundamental que os agentes que trabalham todos os dias nessa área também se envolvam nas decisões políticas, para que elas possam ser mais informadas, e possam ser mais discutidas e melhores”.

À terceira é de vez

“Onde é que eu ia?” é um espetáculo que já teve várias vidas, ou pelo menos tentativas disso. A pergunta que é colocada no título justifica-se também pelo percurso algo acidentado deste espetáculo.

“A primeira vez que fiz este espetáculo estava acompanhado pelo António Jorge Gonçalves e pelos Dead Combo, em 2015. Quando fizemos o espetáculo no Teatro São Luiz, recebi um convite para ir para a administração da RTP e já não fizemos a digressão. Depois de 3 anos e meio na RTP, decidi voltar a fazer o espetáculo e já nessa altura pensei que queria começar precisamente com a frase, "Onde é que eu ia?" e daí o título. Acontece que nessa altura fui convidado para ir para o Ministério da Cultura, para a secretaria de Estado da Cultura, Audiovisual e Media e novamente o espetáculo foi interrompido” recorda.

Porque “não há duas, sem três” e agora que deixou o Governo, Nuno Artur Silva regressou ao espetáculo, já sem os Dead Combo, devido também à morte do músico Pedro Gonçalves, mas na mesma com o ilustrado António Jorge Gonçalves, alguém que diz ser um “cúmplice artístico” e ao mesmo tempo um “grande parceiro criativo”.

“Quando trabalho com o Jorge, ele sabe sempre tirar o melhor de mim. Puxa muito por mim do ponto de vista criativo”, explica Nuno Artur Silva. Em entrevista ao programa Ensaio Geral, o ilustrador António Jorge Gonçalves diz que se vê “neste espetáculo como um Sancho Pança” e explica: “O Nuno vai investir contra os seus moinhos de vento e eu cá estarei, sentado no meu burro, a tentar por vezes chama-lo à razão. Vou tentar por em diagramas emocionais maneiras como entendo aquilo de que o Nuno vai estar a falar”.

António Jorge Gonçalves diz que não haverá dois espetáculos iguais, até porque o seu trabalho criativo nasce a cada atuação do zero. Estabelece-se uma espécie de “dialogo” entre os dois amigos e criativos que no curriculum já somam diversos espetáculos juntos.

“Durante anos estive na posição de quem olha, e de quem faz humor para os políticos e agora ter estado do lado de lá, não me impede também de poder ter um olhar humorístico, não só sobre o que me rodeava, mas também olhar do lado dos políticos para o lado de cá e para os cómicos”, conta Nuno Artur Silva sobre o “Onde é que eu ia?” que vai estar em cena na sala Mário Viegas de quarta a sábado, às 19h30 e domingo, às 16h00.

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