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Abusos na Igreja. Marcelo desiludido com posição da Conferência Episcopal

09 mar, 2023 - 21:52 • Ricardo Vieira

"A Conferência Episcopal falhou. Como Presidente da República a expectativa que havia era tão simples, era ser rápido, assumir a responsabilidade, tomar medidas preventivas e aceitar a reparação. E de repente é tudo ao contrário", lamenta Marcelo Rebelo de Sousa.

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Os padres denunciados por abusos deviam, "obviamente", ser suspensos preventivamente e "foi uma desilusão a posição da Conferência Episcopal", declarou esta quinta-feira o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, em entrevista à RTP e ao Público.

Padres deviam ser suspensos preventivamente? “Isso é óbvio, mas além de ser óbvio é mais do que isso, que foi uma desilusão a posição da Conferência Episcopal”, respondeu Marcelo Rebelo de Sousa.

O Presidente considera que a Conferência Episcopal "ficou aquém em todos os pontos importantes", após a divulgação do relatório da Comissão Independente que apontou para quase cinco mil vítimas de abusos nas últimas décadas.

"Ficou aquém no tempo, demorou 20 dias a reagir numa coisa que era imediata. Conhecia o relatório antes, nomeou a comissão que fez o relatório, e depois comunicou que ia continuar a refletir por mais dois meses, Ficou aquém ao não assumir a responsabilidade. Para mim é o mais grave”, lamenta o católico Marcelo Rebelo de Sousa.

O chefe de Estado critica a Igreja Católica e considera que a instituição tem que responder pelos atos dos seus membros.

"Qualquer associação desportiva ou cultural, social, IPSS, Misericórdias, responde pelos atos que são individuais, legais e criminais dos seus membros, como é que não responde a Igreja Católica por atos praticados por quem, além de invocar o múnus da fé, é representante de uma Igreja, certificado, legitimado, mandatado na sua missão pastoral. Como? É incompreensível”, lamenta Marcelo Rebelo de Sousa.

O Presidente da República também defende que a Igreja Católica ficou aquém nas "medidas preventivas relativamente àqueles que estão envolvidos na investigação criminal" e falhou na reparação das vítimas.

“Esteve aquém quanto à reparação. Não é que se diga que se pode reparar uma vida estragada. Há danos morais que respeitam a bens tão elevados que se sabe, mesmo nos tribunais em relação ao Direito criminal aplicável, que isso não consegue reconstituir aquilo que foi destruído, mas compensa. A Conferência Episcopal passou ao lado destes problemas todos e isso a mim, como Presidente da República, preocupa-me imenso."


Marcelo Rebelo de Sousa destaca a importância da Igreja Católica e das suas instituições para a sociedade portuguesa e apela a uma nova reflexão da Conferência Episcopal.

"A Conferência Episcopal falhou. Como Presidente da República a expectativa que havia era tão simples, era ser rápido, assumir a responsabilidade, tomar medidas preventivas e aceitar a reparação. E de repente é tudo ao contrário, em termos gerais, ou cada uma para seu lado. Eu pergunto: mas não houve ali um minuto, 20 dias de reflexão não chegaram. Mas enfim, é tão importante o papel da Igreja que agora não há nada como uma reflexão complementar para reencontrar o caminho que se perdeu nestes 20 dias”, apela o Presidente da República na entrevista à RTP e jornal Público.


Se foi vítima de abuso ou conhece quem possa ter sido, não está sozinho e há vários organismos de apoio às vítimas a que pode recorrer:

- Serviço de Escuta dos Jesuítas , um “espaço seguro destinado a acolher, escutar e apoiar pessoas que possam ter sido vítimas de abusos sexuais nas instituições da Companhia de Jesus.

Telefone: 217 543 085 (2ª a 6ª, das 9h30 às 18h) | E-mail: escutar@jesuitas.pt | Morada: Estrada da Torre, 26, 1750-296 Lisboa

- Rede Care , projeto da APAV, Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, que “apoia crianças e jovens vítimas de violência sexual de forma especializada, bem como as suas famílias e amigos/as”.

Com presença em Lisboa, Porto, Coimbra, Braga, Setúbal, Santarém, Algarve, Alentejo, Madeira e Açores.

Telefone: 22 550 29 57 | Linha gratuita de Apoio à Vítima: 116 006 | E-mail: care@apav.pt

- Comissões Diocesanas para a Protecção de Menores . São 21 e foram criadas pela Conferência Episcopal Portuguesa.

São constituídas por especialistas de várias áreas, recolhem denúncias e dão “orientações no campo da prevenção de abusos”.

Podem ser contactadas por telefone, correio ou email.

Para apoiar organizações católicas que trabalham com crianças:

- Projeto Cuidar , do CEPCEP, Centro de Estudos da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica

Se pretende partilhar o seu caso com a Renascença, pode contactar-nos de forma sigilosa, através do email: partilha@rr.pt

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  • Joaquim Pinho
    10 mar, 2023 Vila de Cucujães - Oliveira de Azeméis 00:40
    É pena que o Senhor Presidente da República prima em continuar a ser o Comentador - mor do Reino, o Cronista da Corte. Ele tem uma necessidade nata de mostrar tudo o que sabe porque ele sabe tudo acerca de tudo e mais que todos. Antes era comentador geral da TVI, agora é comentador geral de todas as televisões, de todos os jornais, de todas as rádios, de todas as redes sociais. Acerca da conferência de imprensa da conferência episcopal portuguesa sobre abuses de menores e pessoas vulneráveis na Igreja e do relatório final da comissão independente, repetiu o que tanta gente já relatou e abusou da mídia sempre ao dispor para venderem a sua banha da cobra e atirarem atoardas maldizentes contra a Igreja e os Bispos portugueses. Foi tudo muito bem claro e a Igreja está a fazer o seu trabalho e a cumprir o seu dever. O que esses agitadores da mídia pretendem é ver a Igreja a arder, criar mal-estar nos católicos e no público em geral e pretendiam ver bispos e padres afastados sem mais e achincalhados na praça pública. Que esses senhores cuidem da sua própria "casa" e a arrumem como deve ser. Quem tem telhados de vidro não atira calhaus para o ar. A Igreja vai fazer bem o seu trabalho de apoio às vítimas e vai afastar o clero prevaricador. Ninguém tenha dúvidas. As coisas têm têm o seu tempo para serem resolvidas e é não desta maneira arcaica e arruaceira como a mídia portuguesa tem feito que presta um bom trabalho às vítimas e aos homens e mulheres de hoje.

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