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​Abusos na Igreja: 44 vítimas com menos de seis anos, a mais nova teria dois anos

15 fev, 2023 - 18:26 • Redação

A Comissão Independente “Dar Voz ao Silêncio” identificou que a idade média à data do primeiro abuso sexual é de 11,2 anos, mas há dezenas de casos de crianças ainda mais novas. Especialistas alertam que o decréscimo de denúncias da última década do século XX e das primeiras do século XXI deve ser “lida com prudência”.

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O relatório final da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra Crianças na Igreja em Portugal indica que a vítima mais nova teria dois anos na altura dos factos.

A Comissão Independente “Dar Voz ao Silêncio” identificou que a idade média à data do primeiro abuso sexual é de 11,2 anos, mas há dezenas de casos de crianças ainda mais novas.

Um total de 44 vítimas terão sido abusadas pela primeira vez com seis anos ou menos, incluindo a criança de dois anos.

Em 21 dos casos, a testemunha indicou a sua idade atual, referindo que os abusos estavam a acontecer à data do testemunho. Isto significa que todas estas vítimas nasceram depois de 2005.

Segundo os dados do relatório final da Comissão Independente, pelo menos, 27 pessoas nasceram entre 2000 e 2016. Em muitos destes casos, o testemunho terá sido preenchido por um familiar da vítima.

A denúncia deste tipo de abusos enquanto ainda estão a ocorrer é rara. Estima-se que 75% das vítimas espera pelo menos um ano para denunciar um abuso e que cerca de metade pode esperar até cinco anos para partilhar o sucedido. Mas há vítimas que só contam a sua experiência décadas depois.

Em 59 casos, o abuso aconteceu já no séc. XXI. Estas serão, à partida, as vítimas e as testemunhas mais novas do grupo. Por exemplo, uma vítima abusada em 2001 terá nascido, no máximo, em 1984. Também há o testemunho validado de uma vítima nascida em 2016, ma.s neste caso. não foi divulgada informação sobre quando aconteceu o abuso.

Segundo a lei civil, crimes de natureza sexual sobre menores podem prescrever a partir dos 23 anos de idade da vítima. Mas na lei canónica, o crime só prescreve 20 anos após a maioridade da vítima. Nestes termos, todos os crimes de abuso sexual decorridos desde 2002 podem ainda ser julgados pelo Tribunal Eclesiástico.

Decréscimo de abusos no século XXI deve ser visto com “prudência”

A Comissão Independente alerta que o decréscimo de denúncias da última década do milénio e das primeiras do século XXI deve ser “lida com prudência”.

O longo tempo de denúncia destes casos, a idade atual destas vítimas e a quantidade de informação sobre casos semelhantes tornam estas duas décadas diferentes das anteriores no campo dos abusos sexuais de menores.

Foi em 2002 que Portugal ficou a conhecer o caso Casa Pia, em que se desmantelou uma rede de pedofilia que envolvia figuras proeminentes da sociedade, como Carlos Cruz ou Jorge Ritto.

Também no mesmo ano, o jornal “Boston Globe” trouxe a público os abusos sexuais perpetrados e encobertos por membros do clero no estado de Massachusetts, nos Estados Unidos. Desde então, existe uma consciência pública sobre o abuso sexual de menores em situação de menores em situação de dependência e por figuras de autoridade e que são próximas das vítimas sem precedentes até ao momento.

No relatório, a Comissão Independente refere a importância da entrada de Portugal na União Europeia e a implementação de leis que protegem o bem-estar e os direitos das crianças.


Se foi vítima de abuso ou conhece quem possa ter sido, não está sozinho e há vários organismos de apoio às vítimas a que pode recorrer:

- Serviço de Escuta dos Jesuítas , um “espaço seguro destinado a acolher, escutar e apoiar pessoas que possam ter sido vítimas de abusos sexuais nas instituições da Companhia de Jesus.

Telefone: 217 543 085 (2ª a 6ª, das 9h30 às 18h) | E-mail: escutar@jesuitas.pt | Morada: Estrada da Torre, 26, 1750-296 Lisboa

- Rede Care , projeto da APAV, Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, que “apoia crianças e jovens vítimas de violência sexual de forma especializada, bem como as suas famílias e amigos/as”.

Com presença em Lisboa, Porto, Coimbra, Braga, Setúbal, Santarém, Algarve, Alentejo, Madeira e Açores.

Telefone: 22 550 29 57 | Linha gratuita de Apoio à Vítima: 116 006 | E-mail: care@apav.pt

- Comissões Diocesanas para a Protecção de Menores . São 21 e foram criadas pela Conferência Episcopal Portuguesa.

São constituídas por especialistas de várias áreas, recolhem denúncias e dão “orientações no campo da prevenção de abusos”.

Podem ser contactadas por telefone, correio ou email.

Para apoiar organizações católicas que trabalham com crianças:

- Projeto Cuidar , do CEPCEP, Centro de Estudos da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica

Se pretende partilhar o seu caso com a Renascença, pode contactar-nos de forma sigilosa, através do email: partilha@rr.pt

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