O cardeal D. José Tolentino de Mendonça defende que "a Igreja precisa de um novo élan missionário" e aposta no reforço da comunhão para chegar a todos.

Em entrevista à Renascença, em Roma, o prelado madeirense faz o balanço do encontro dos cardeais com o Papa, que se seguiu ao Consistório, juntando quase 200 cardeais de todo o mundo.

Como avalia este encontro?

Foi um momento muito importante de partilha do colégio cardinalício, reunido em torno ao Santo Padre, sobre esta Constituição apostólica "Predicarae Evangelium", que traz, de facto, uma novidade muito grande que é a tentativa de traduzir, também em chave pastoral, compreensível para o nosso tempo, aquilo que é um importante serviço que a Cúria romana desenvolve. Quer em torno ao sucessor de Pedro, quer em torno à Igreja universal, na ajuda às igrejas locais.

Como é que era o ambiente?

O ambiente entre nós era um ambiente de grande fraternidade, de grande cordialidade e abertura. Pudemos discutir e aprofundar e colocar questões sobre esta Constituição apostólica que rege agora a Cúria romana.

Algumas questões mais em destaque?

Houve questões muito importantes. Penso que uma delas é uma questão destes dias e os jornais também fizeram eco disso. É a questão da abertura da Cúria romana, em alguns dicastérios, à possibilidade de fiéis leigos, homens e mulheres baptizados, poderem ajudar no governo da Igreja, em dicastérios onde o munus sacramental não seja requerido.

Nesse sentido, é uma manifestação da abertura do espírito da sinodalidade que se respira na Igreja, que percebe que temos de caminhar todos juntos. A mensagem destes tempos, penso que se pode sintetizar em dois pontos. O primeiro é que precisamos de um novo élan, um élan que, antes de tudo, partiu de Cristo, que é o fundamento da identidade da Igreja; um élan que é missionário, a alegria de anunciar o Evangelho, de o pregar por obras e por palavras, onde a Igreja se encontre. E, depois, uma maior capacidade de comunhão entre nós todos, ente as igrejas locais e, na Cúria romana, como expressão, também, deste serviço especial em torno ao Sucessor de Pedro, de uma capacidade de recolher carismas, talentos, competências e alargar - quando é possível e quando as competências assim o reclamam - essa possibilidade de governo também a mulheres e homens batizados, não consagrados, não clérigos que possam, de facto, ajudar o Papa na missão de guiar a Igreja universal.

Foi a primeira vez que se realizou um encontro assim desta dimensão, com tantos cardeais, muitos deles novos e presentes pela primeira vez, para se conhecerem uns aos outros. Isso também ajudou a consolidar a comunhão de que falava?

Esse aspeto é muito importante porque a fraternidade e a colegialidade não são teorias, não são abstrações. São, de facto, também as relações que se podem criar de fraternidade, de escuta mútua, de conhecimento. Porque cada um traz uma determinada experiência, vem de um determinado lugar, de uma geografia... E esse é o espelho maravilhoso daquilo que é a Igreja católica, a Igreja no mundo que, na sua diversidade - que é uma riqueza muito grande no interior da comunidade cristã - é capaz de construir aquilo que é também um valor sagrado, que é o valor da comunhão e o valor da unidade em torno ao kerigma (anúncio), em torno ao Sucessor de Pedro que nos confirma a todos na fé.