A acusação dos juízes Rui Rangel, Fátima Galante e Vaz das Neves na "Operação Lex" é "um rombo na relação de confiança que tem de existir entre o cidadão e a Justiça e lança um "manto de suspeição" sobre a classe, diz o presidente da Associação Sindical dos Juízes Portugueses (ASJP) em entrevista à Renascença.

“Olhe, eu não vou ser cínico a dizer que não prejudica. E é precisamente por ser um rombo na relação de confiança que tem de existir entre o cidadão e a Justiça que todos temos de estar preocupados”, afirma Manuel Soares, depois de, esta sexta-feira de manhã, terem sido deduzidas acusações contra 17 arguidos da "Operação Lex", incluindo três juízes, um advogado e o presidente do SL Benfica, Luís Filipe Vieira.

Para o presidente da ASJP, “é evidente que Justiça e corrupção não casam. Não pode haver justiça corrupta porque para além do mais uma das funções da justiça é combater a corrupção que existe noutras áreas do poder e da sociedade. E portanto, uma justiça que seja suspeita de praticar atos da mesma natureza falha-lhe a legitimidade para depois poder atuar de cabeça levantada”.

Manuel Soares admite que a acusação se "refere a factos graves e a crimes graves alegadamente praticados por pessoas no exercício da função". O Presidente da Associação Sindical dos Juízes diz que "estamos perante situações de uma gravidade extrema" e que temos de “encontrar uma forma de tornar os mecanismos que já existem na lei e que permitem detetar e fiscalizar situações como esta mais robustos e mais eficazes".

O Presidente da Associação Sindical dos Juízes defende que "é preciso um sistema de justiça que reaja mais cedo". Manuel Soares diz que a Associação não concorda com a possibilidade de haver portas giratórias entre a justiça, a politica, o futebol e outros interesses" e defende a possibilidade da lei "criar um mecanismo" que permita a qualquer cidadão com suspeita sobre atos de corrupção de um juiz "tenha onde se dirigir sobre anonimato para que o Conselho Superior da Magistratura possa investigar e se necessário atuar.

“Não vamos dizer que é uma cabala, que é uma perseguição injusta, que é tudo uma maquinação dos poderes daqui ou dacolá, não". Houve um caso que nunca tinha acontecido e que temos de o assumir como um custo penoso, mas que nos tem de impelir a criar oportunidades para melhorar o sistema e restabelecer a relação de confiança que tem de existir e que é vital.".