Separatistas da autoproclamada República Popular de Lugansk, apoiados pela Rússia, garantem que as forças ucranianas usaram morteiros, lança-granadas e uma metralhadora em quatro incidentes separados, nas últimas 24 horas.

Em comunicado, acusam as forças armadas da Ucrânia de terem violado grosseiramente o regime de cessar-fogo.

Os militares da Ucrânia já vieram negar as acusações, afirmando que foram os rebeldes que bombardearam os militares ucranianos.

Por seu lado, a Organização para Segurança e Cooperação na Europa ( OSCE) diz ter registado, nesta quinta-feira, vários bombardeios ao longo da linha de contacto entre rebeldes apoiados pela Rússia e forças do Governo, no leste da Ucrânia. A informação é avançada por fonte diplomática à agência Reuters.

Os incidentes que poderão alimentar a tensão existente entre a Rússia e o Ocidente, ainda para mais porque a câmara baixa do Parlamento russo votou esta semana um pedido ao Presidente, Vladimir Putin, para que reconhecesse as duas autoproclamadas repúblicas separatistas do leste da Ucrânia – Donetsk e Lugansk – como independentes.

Imagens de satélite mostram movimentações russas

Imagens de satélite revelam intensas atividades militares russas junto à fronteira com a Ucrânia. O alerta foi dado pela Maxar Technologies, uma empresa de tecnologia espacial com sede nos EUA que tem acompanhado a movimentação das forças russas há semanas.

E há mais países ocidentais a avisar contra as movimentações russas, o que

contradiz a declaração de Moscovo sobre uma retirada. Segundo o chefe dos serviços secretos britânicos, citado pela agência Reuters, foram vistos mais veículos blindados, helicópteros e um hospital de campanha na zona.

E, em declarações à BBC, a ministra britânica dos Negócios Estrangeiros, Liz Truss, deixou avisos de que o Ocidente não se deixa enganar pelas alegações da Rússia de que está a retirar as forças da Ucrânia.

Nos últimos dias, a Rússia mobilizou para a fronteira mais de 7.000 soldados, incluindo o contingente que chegou na quarta-feira, avança por seu lado um alto funcionário da Casa Branca, sem adiantar evidências.

“Há o que a Rússia diz. E há o que a Rússia faz. E não vimos qualquer retração de suas forças”, afirmou o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, em entrevista à MSNBC. “Continuamos a ver unidades militares a mover-se em direção à fronteira, não longe da fronteira”, adiantou.

A Rússia nega querer invadir a Ucrânia, mas quer impedir a todo o custo a adesão do país à NATO. Na fronteira, a tensão existe há décadas, o que tem minado as relações entre Moscovo e o Ocidente.

De acordo com os serviços secretos da Estónia, há cerca de 10 grupos de combate a dirigir-se para a fronteira ucraniana, onde se estima que já estejam cerca de 170.000 soldados, diz o diretor-geral do Serviço de Inteligência Estrangeira da Estónia, Mikk Marran.

O cada vez mais iminente ataque deverá incluir mísseis e a ocupação de "terrenos-chave", acrescenta, deixando um alerta: “Se a Rússia for bem-sucedida na Ucrânia, irá aumentar a pressão sobre os países bálticos nos próximos anos. A ameaça de guerra tornou-se a principal ferramenta política de Putin”.

Rússia nega mas não convence

O Ministério da Defesa da Rússia afirma que suas forças estão a recuar da fronteira com a Ucrânia depois de terem realizado exercícios nos distritos militares do Sul e Oeste. Segundo o embaixador de Moscovo na Irlanda, as forças no Oeste da Rússia voltarão às suas posições normais dentro de três a quatro semanas.

E publicou um vídeo onde se veem tanques, veículos de combate de infantaria e unidades de artilharia autopropulsadas a deixar a península da Crimeia, que Moscovo anexou em 2014 (e fazia parte da Ucrânia).

Mas as forças aliadas não acreditam nas palavras de Moscovo e começam a preparar as suas forças. Só a Grã-Bretanha conta duplicar o contingente na Estónia e enviar tanques e veículos blindados para a pequena república báltica que faz fronteira com a Rússia.

Da parte da Ucrânia, também há aumento do número de guardas de fronteira com a Bielorrússia, aliada da Rússia, onde se estima que cerca de 9.000 soldados russos estejam envolvidos em exercícios militares.

No plano diplomático, a Ucrânia pediu ao Conselho de Segurança da ONU que discutisse a situação na região nesta quinta-feira, numa tentativa de o Parlamento russo reconhecer os autoproclamados separatistas.

A ministra britânica dos Negócios Estrangeiros deverá visitar Kiev durante esta semana enquanto o seu homólogo norte-americano viajará para a Alemanha, para a Conferência de Segurança de Munique (que começa na sexta-feira) para se coordenar com os aliados.

“A porta continua aberta para a diplomacia”, afirmou Jen Psaki, porta-voz da Casa Branca.