13 dez, 2014 • Aura Miguel
O Cardeal Oscar Maradiaga, que coordena o grupo dos nove conselheiros do Papa Francisco, critica o excessivo poder da economia e diz que é preciso voltar ao caminho da “solidariedade, que é um desafio para todo o povo e, por isso, eleger governantes que sejam verdadeiros governantes e não pessoas que vão para lá para enriquecer pessoalmente”.
O diagnóstico é do presidente da Caritas Internacional, que participou no encontro anual da Comissão Nacional Justiça e Paz, em Lisboa, e deixa exemplos de distribuição equitativa dos bens.
"Como se consegue uma distribuição equitativa? Uma das formas é, por exemplo, que as grandes empresas não procurem onde esconder os capitais para não pagar impostos, mas pagar o que têm de pagar, e proporcionalmente. E, em segundo lugar, investir no próprio país e não levar os capitais para a China, porque aí trabalham com mão-de-obra de escravos. Não é ético que uma empresa diga: 'pois aqui em Portugal, como a mão-de-obra custa muito, levo tudo para um país onde haja mão-de-obra de escravos'", disse.
O mundo está nas mãos dos grandes grupos económicos, são eles que mandam nos políticos que se limitam a executar, prossegue o arcebispo de Tegucigalpa, que se mostrou muito preocupado com o poder dos grandes consórcios económicos.
“A economia tomou conta da política. Manda na política. E às vezes pensamos que os políticos são os que decidem. E não são. São os grandes consórcios económicos. São esses grande lóbis de dinheiro que que ordenam aos políticos o que têm que fazer. Quando o 'deus dinheiro' está a reinar pouco espaço sobra para o bem-comum. Vocês não têm ideia da importância dos grandes consórcios económicos dos EUA, que inclusivamente acusaram o Papa Francisco de ser comunista simplesmente porque lhes disse uma verdade: este tipo de economia mata. E isso não o podem aceitar".
Tal como o Papa Francisco, o Cardeal Oscar Maradiaga deixa dura críticas à especulação financeira. “Estou convencido que o capitalismo não é o demónio, mas sim a maneira como se quis aplicá-lo. Há dias, o Santo Padre recebeu a senhora Cristine Lagarde, que é a directora do Fundo Monetário Internacional. Ele disse-me que a especulação financeira é talvez o que há hoje de mais complicado na economia mundial. Então é aí que mais temos de evangelizar.”
O conselheiro do Papa considera que a ética “não é nenhum chapéu que a Igreja quer impor à força”. A ética, sublinha “brota de dentro da pessoa e não de fora. E brota quando se responde, basicamente, a duas perguntas: Quem sou eu? E em segundo lugar, qual é a finalidade da minha vida?”.
[notícia actualizada às 03h07 de dia 16 de Dezembro]