Milhões de paquistaneses só votam se renegarem a fé
10 mai, 2013
Há quatro milhões de membros da seita Ahmadi, uma vertente do Islão fundada na Índia no século XIX e reconhece um profeta mais recente que Maomé.
O Paquistão vai a votos sábado, dia 11 de Maio. Dezenas de milhões vão exercer o seu direito ao voto, mas para um pequeno grupo isso só será possível se renegarem oficialmente a sua fé.
Segundo o sistema eleitoral paquistanês, todos os eleitores devem assinalar o grupo religioso a que pertencem. Cristãos, hindus e outras minorias podem apenas assinalar a respectiva caixa e votar, mas aos que se assumem muçulmanos, a esmagadora maioria da população, há outra exigência.
No reverso do boletim de voto os muçulmanos devem assinar um documento no qual reconhecem que Mirza Ghulam foi um falso profeta. A maioria fá-lo-á sem qualquer preocupação, mas para os cerca de quatro milhões de membros da seita Ahmadi, isso seria um acto formal de apostasia, pelo que devem ficar nas respectivas casas quando todos os outros forem votar.
A seita Ahmadi foi fundada na Índia britânica no século XIX e os seus seguidores acreditam que Mirza Ghulam veio completar e reformar o Islão. Esta posição é considerada herética pelo resto dos muçulmanos e os Ahmadis são perseguidos em quase todos os países islâmicos do mundo.
No Paquistão, são considerados oficialmente não-muçulmanos e durante um período recente podiam ser presos por dizer o contrário. A diáspora da comunidade Ahmadi, sobretudo nos Estados Unidos, tem feito pressão para alterar a lei. Recentemente 33 membros do Congresso norte-americano escreveram ao Secretário de Estado John Kerry, afirmando que caso as regras não mudem, não poderão aceitar os resultados da eleição de dia 11 de Maio.
A lei eleitoral, contudo, mantém-se inalterada, deixando de fora quatro milhões de potenciais eleitores, simplesmente por causa da fé que professam.