O caminho certo? E as externalidades?
Portugal entrou no mapa mundial turístico já tarde, por comparação com outras nações. Quando os burgueses ingleses do século XVII começaram a aventurar-se no famoso Grand Tour – viagem histórica e precursora do turismo de massas -, Itália era o destino principal; a nossa nação, plantada na ponta da Península Ibérica, não fazia parte do roteiro.
A Madeira só começou a receber veraneantes nos finais do século XIX. Lisboa transformou-se num ponto de passagem, no século XX, algo à custa dos exilados e fugitivos da Segunda Guerra Mundial, e as praias do Algarve só nos anos 60 é que se transformaram num destino obrigatório.
O país de hoje é quase irreconhecível. E como os números do PIB demonstram, mas também outros subscrevem, o turismo tem uma preponderância central na economia – algo, aliás, que ficou patente no período da pandemia, quando a livre circulação de pessoas foi interditada.
Em 2020 e 2021, de acordo com um estudo promovido pelo Turismo de Portugal, houve “uma redução da procura 11 vezes superior à provocada pela crise financeira de 2008/9”.
Tendo em conta a “localização geográfica e património histórico” de Portugal, Susana Peralta, economista e professora universitária na Nova SBE, acha erróneo embarcar “numa visão de vivermos sem turismo”. “De maneira nenhuma. Tem é que existir um maior equilíbrio”, diz.
No entender da especialista, uma economia “tem que ser o mais diversificada possível”. O facto de termos uma economia “excessivamente assente no turismo tem o problema de, quando há um problema que afeta esse setor, sermos muito afetados, por termos um portefólio - vamos dizer - pouco diversificado”, nota.
A pandemia deixou claro a exposição a elementos externos do motor da economia à vista de todos os portugueses. Segundo o INE, em 2020, o abrandamento da atividade turística devido às restrições da pandemia foi responsável por três quartos da queda histórica de 7,6% do PIB.
“Por o turismo ser uma exportação de serviços, envolve deslocações de pessoas. E as deslocações de pessoas são as primeiras que param, quando há grandes riscos imprevistos na economia, como a pandemia, instabilidade política, ataques terroristas, guerras e grandes acidentes naturais”, nota Susana Peralta.
Além destas fragilidades, há “externalidades” a ter em conta, diz o economista Alexandre Abreu. “Neste momento, Portugal está com turismo a mais. Nomeadamente, face às práticas de regulação do setor, que permitem o tipo de efeitos nocivos que são conhecidos sobre o setor da habitação ou disponibilidade hídrica.”
Para o economista, “o alastramento praticamente desregrado do Alojamento Local é um dos fatores que contribui para o aumento fortíssimo dos preços da habitação que praticamente duplicou na última década.” Nos últimos dez anos, os preços das casas aumentaram quase 75%, de acordo com o INE.
Dados como os que aparecem em “O Mercado Imobiliário em Portugal”, um estudo promovido pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, corroboram também – em parte, pelo menos – a tese de Alexandre Abreu.
“O rápido crescimento dos arrendamentos de curta duração coincidiu com o do preço dos imóveis. Entre 2016 e 2019, o preço médio de venda por metro quadrado, em Lisboa e Porto, aumentou 68,2% e 61,9%, respetivamente”, indica o estudo.
O ceticismo de Alexandre Abreu quanto ao turismo, ainda assim, não é absoluto. Por exemplo, defende, o setor pode chegar a parcelas do terreno – o interior, em particular - que estão muito a precisar de revitalização económica. “O turismo associado à natureza, tem um potencial grande para contrariar estas dinâmicas de desequilíbrio demográfico e territorial”, afirma.