Fogo a duas hortas de distância
Tatiana Correia começou a explorar o café DAN no início de agosto. Emigrada na Suíça há 17 anos, decidira regressar a casa, tentar a sua sorte. “E voilà”, diz, de forma irónica, à porta do estabelecimento. Um incêndio não é o melhor cartão de visita. Ou o melhor augúrio para quem está a começar um negócio e depende do turismo.
O café tem porta para a rua da Ponte, bem perto da caixa multibanco da povoação e do ponto CTT de Verdelhos. Já nas traseiras, onde fica a sala de jantar, há um acesso para quintais. No dia 7 de agosto, Tatiana ainda estava a servir almoços quando um vizinho a veio avisar que as chamas estavam próximas. “Estavam ainda duas mesas por servir. Abrimos a porta de trás e realmente estava mesmo aqui ao pé.”
Érica, 18 anos, filha de Tatiana, lembra-se de ver “pessoas a correr, a chorar e a gritar por tudo o que é lado”.
O fogo estava a duas hortas de distância do café DAN. À Renascença, Otília Correia, proprietária do espaço e senhoria de Tatiana, descreve o momento como “uma coisa horrível”.
“O lume veio do outro lado do rio para cima. Os bombeiros não o conseguiram atalhar”, conta.
Em Verdelhos, o ataque ao incêndio foi feito por bombeiros de Sintra, Abrantes e Loures; dezenas de corporações de todo o país acorreram ao incêndio na Serra da Estrela. Não foi, então, por falta de meios que as chamas ameaçaram a localidade, defende Otília. O problema terá estado, sim, na forma como os operacionais foram geridos.
“Culpo os senhores que andam a mandar. Não são os que estão em Lisboa que conhecem o terreno. Os bombeiros da Covilhã e de Manteigas conhecem bem o nosso terreno. Não culpo os bombeiros. Eles só podem atuar quando lhes mandam”, atira.
Otília tem muitos animais – cerca de 50 galinhas, dez porcos e outros tantos coelhos -, mas não perdeu nenhum para o fogo. “Apenas pastos.” Olha para a serra e diz: “Agora é esperar. Os anos é que vão ditar como é que isto fica. Se nasce alguma coisa ou não.”