OS OFICIAIS DE LIGAÇÃO
A necessidade de monitorizar tendências e movimentações oriundas de países e regiões, com maior ligação a Portugal, levou à criação, em 1994, da função de oficial de ligação do Ministério da Administração.
Em comissões de serviço de três anos, elementos do SEF, da PSP e da GNR, começaram a trabalhar em embaixadas, missões de representação e consulados de Portugal, sobretudo em África.
Mas em 2001, dois meses depois dos atentados do 11 de Setembro em Nova Iorque, é regulamentada e ativada uma outra forma de cooperação – exclusivamente focada nos fluxos migratórios.
São criados os oficiais de ligação de imigração, neste caso fornecidos apenas pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras.
“O nosso trabalho é evitar que o crime chegue à Europa, e pará-lo na origem”
José Van Der Kellen foi oficial de ligação de imigração em Angola, entre 2016 e 2019. Descreve a missão como um primeiro filtro à legalidade e normalidade dos fluxos migratórios “junto de países que realmente importam para Portugal”.
O oficial de ligação “tem de estar muito atento a estes fenómenos a partir da origem, porque desse trabalho resultam garantias de que os vistos que estamos a emitir serão bem utilizados, e não para projetar outras dinâmicas de imigração irregular”.
José Van Der Kellen usa como exemplo a sua própria experiência em Angola, que “permitiu em muitas situações estancar à nascença eventuais fenómenos que poderiam ter consequências em Portugal”.
Paulo Torres, oficial de ligação na Guiné-Bissau desde o início de 2021, sublinha a importância desta presença nos países de origem, e explica que tudo começa na “análise dos processos. Identificar numa fase precoce a fraude que esteja associada àquele requerente de visto. A primeira missão é em sede de concessão de vistos verificarmos a legitimidade do pedido, não em termos formais, mas em termos documentais”.
Um trabalho que Paulo Torres considera crucial, tendo em conta que “é assustador ver a quantidade de pessoas que utilizam documentação fraudulenta para esconder a sua identidade para virem para a Europa. E posso dizer-lhe que devido aos nossos conhecimentos de perícia documental, detetamos muitas fraudes”.
Ao trabalho de análise documental, Paulo Torres acrescenta outro mais prático “de assessoria que se faz nos aeroportos, junto das companhias aéreas e das próprias polícias de imigração locais". Os oficiais de ligação podem “detetar no aeroporto circuitos de imigração ilegal, traficantes de seres humanos, e entregá-los ás autoridades locais. Recolher informação sobre pessoas que habitualmente acompanham jovens, crianças, que os entregam a terceiros”.
Paulo Torres acrescenta que a missão “é evitar que o crime chegue à Europa, e pará-lo na origem. Tentar ainda no país de origem que estes criminosos não cheguem por via aérea a Portugal”.
O SEF começou por ter oficiais de ligação nos países CPLP, e com o tempo, mediante as próprias dinâmicas geopolíticas, foi alargando e adaptando essa presença noutros países. Já não tem, como já teve, no Senegal e na Rússia, mas tem agora, por exemplo na China e na Índia.
CONTROLO DAS FRONTEIRAS QUE NÃO EXISTEM
Outra missão internacional onde o SEF está envolvido, é nos Centros de Cooperação Policial e Aduaneira – neste caso num projeto bilateral com Espanha, para supervisionar as inexistentes fronteiras terrestres entre os dois países.
Começaram por se chamar Postos Mistos de Fronteira, apareceram no ano em que Portugal organizou a Expo98, e 10 anos depois evoluíram para a atual designação.