13 fev, 2023 - 16:01 • Redação
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Entre janeiro e outubro de 2022, a Comissão Dar Voz ao Silêncio recolheu e validou 512 testemunhos de abusos sexuais de menores na Igreja Católica, em Portugal.
Através dessas vítimas, é possível prever que o número seja, no mínimo, de 4.815. Mas que outras informações se sabem sobre as vítimas, os agressores e os locais dos abusos?
Tanto as vítimas como os agressores são predominantemente do sexo masculino, mas em proporções diferentes. Enquanto 57% das vítimas eram rapazes à data dos abusos, 96,9% dos acusados é homem.
Além disso, a Comissão Independente revelou que 77% das vítimas identificaram o seu agressor como padre e que, em quase metade dos casos (46,7%) ele já era seu conhecido.
Os testemunhos recolhidos datam de 1950 até hoje. A comissão verificou um pico entre 1960 e 1990, apesar de um quarto dos casos denunciados, 112, ter ocorrido desde 1991.
Existe uma diferença de 40 anos entre a média de idades à data da agressão e à data da denúncia ou revelação.
Enquanto a média de idades atual das vítimas é de 52 anos, a idade média à data do primeiro abuso era de 11,2 anos para ambos os géneros.
Para as raparigas, esta média é de 11,7, e para os rapazes, de 10,5. Comprovou-se que, à data do abuso, 88,1% das vítimas estudava e que 58,5% frequentava o 1.º e o 2.º ciclos.
A comissão identificou casos decorridos em todos os distritos, em 129 dos 308 concelhos. Mas destacaram-se Lisboa, Porto, Braga, Santarém e Aveiro, com maiores números de ocorrências.
Nos locais específicos, destacam-se os semanários, igrejas, confessionários, casas paroquiais e escolas religiosas.
Ao longo dos anos, decaíram as referências aos seminários e surgiram mais apontamentos a agrupamentos de escuteiros, principalmente a partir dos anos 1990.
Ao analisar as respostas do questionário, a comissão entende que a amostra é enviesada, porque exige um à-vontade com meios digitais que pode não ser transversal a todas as potenciais vítimas.
Ainda assim, a comissão conseguiu traçar padrões entre os locais onde decorreram os abusos, o perfil do agressor, a violência do ato e as características da vítima.
O mais frequente associa locais mais isolados e privados, como confessionários ou casas paroquiais a abusos mais violentos e de maior duração, que envolvam maior contacto físico ou penetração.
A este género de abusos, estão normalmente relacionados agressores mais jovens (com menos de 20 anos) e vítimas do sexo masculino. Por outro lado, agressores mais velhos tendem a atuar em cenários mais quotidianos como colégios ou acampamentos, através de ações mais fugazes, como toques ou discursos sugestivos.
O relatório foi publicado pela comissão, no seguimento da conferência de imprensa. A lista nominal com os agressores será enviada posteriormente para o Miistério Público.
Se foi vítima de abuso ou conhece quem possa ter sido, não está sozinho e há vários organismos de apoio às vítimas a que pode recorrer:
- Serviço de Escuta dos Jesuítas , um “espaço seguro destinado a acolher, escutar e apoiar pessoas que possam ter sido vítimas de abusos sexuais nas instituições da Companhia de Jesus.
Telefone: 217 543 (2ª a 6ª, das 9h30 às 18h) | E-mail: escutar@jesuitas.pt | Morada: Estrada da Torre, 26, 1750-296 Lisboa
- Rede Care , projeto da APAV, Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, que “apoia crianças e jovens vítimas de violência sexual de forma especializada, bem como as suas famílias e amigos/as”.
Com presença em Lisboa, Porto, Coimbra, Braga, Setúbal, Santarém, Algarve, Alentejo, Madeira e Açores.
Telefone: 22 550 29 57 | Linha gratuita de Apoio à Vítima: 116 006 | E-mail: care@apav.pt
- Comissões Diocesanas para a Protecção de Menores . São 21 e foram criadas pela Conferência Episcopal Portuguesa.
São constituídas por especialistas de várias áreas, recolhem denúncias e dão “orientações no campo da prevenção de abusos”.
Podem ser contactadas por telefone, correio ou email.
Para apoiar organizações católicas que trabalham com crianças:
- Projeto Cuidar , do CEPCEP, Centro de Estudos da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica
Se pretende partilhar o seu caso com a Renascença, pode contactar-nos de forma sigilosa, através do email: