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Quebrar o Silêncio

Vítimas de abusos sexuais na Igreja pedem ajuda a associação após relatório

16 fev, 2023 - 12:47 • Lusa

A associação Quebrar o Silêncio já recebeu cinco pedidos de ajuda desde a apresentação do relatório na segunda-feira.

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A associação Quebrar o Silêncio, de apoio a homens vítimas de abusos sexuais, recebeu cinco pedidos de ajuda de vítimas da Igreja católica nos últimos três dias, apontando que as notícias estão a deixar as vítimas em crise.

Em declarações à agência Lusa, o presidente da associação revelou que, desde que a Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais na Igreja Católica em Portugal divulgou publicamente, na segunda-feira, o seu relatório final, várias vítimas contactaram a associação.

“Só nestes três dias nós recebemos cinco casos relacionados com os abusos sexuais na Igreja”, todos homens acima dos 50 anos, revelou Ângelo Fernandes.

Segundo o responsável, alguns destes homens já tinham contactado a própria Comissão Independente, e todos “estão em crise” por causa dos testemunhos que ouviram e das notícias que leram, tendo contactado a Quebrar o Silêncio à procura de apoio psicológico e de ajuda para gerir “o que sentem relativamente ao abuso”.

“Quando a pessoa está em crise, nós o que fazemos é uma estabilização emocional para que estes homens possam, pelo menos, sentir alguma forma de alívio, antes de começar o apoio psicológico”, explicou Ângelo Fernandes.

De acordo com o presidente da Quebrar o Silêncio, “esta semana tem sido particularmente intensa para os homens que foram vítimas de violência sexual na infância”.

“Temos tido relatos de homens que não conseguem descansar porque estão constantemente a ser confrontados com estas notícias de abuso sexual”, adiantou, acrescentando que isso tanto afeta homens vítimas de abusos sexuais na Igreja, como noutros contextos.

Ângelo Fernandes apontou que, para muitas destas pessoas, o contacto com as notícias mais recentes sobre os abusos sexuais na Igreja católica obriga-as a “reviver constantemente as suas próprias histórias”.

“Isto é muito difícil de gerir para estes homens. Temos visto homens que acabam por sofrer com o aumento de pensamentos sobre o abuso, memórias indesejadas, a ansiedade atinge níveis muito altos”, apontou, sublinhando que esta semana tem sido particularmente dolorosa para os sobreviventes.

Nesse sentido, o responsável deixou o apelo para que às notícias sejam adicionados os contactos das três associações especializadas no apoio às vítimas de violência sexual, como a Quebrar o Silêncio (910 846 589/apoio@quebrarosilencio.pt), a Associação de Mulheres contra a Violência (213 802 165/ca@amcv.org.pt) ou a UMAR (914 736 078 / eir.centro@gmail.com).

Na opinião de Ângelo Fernandes, o momento é oportuno para voltar a discutir o aumento do prazo de prescrição deste tipo de crimes, lembrando que já em 2021 a associação tinha colaborado na redação de uma proposta de lei que alargava o prazo para que as vítimas abusos sexuais na infância possam apresentar queixa para 15 anos após a vítima completar os 35 anos, ou seja, até aos 50 anos.

Atualmente, em Portugal, as vítimas de crimes sexuais contra crianças só podem apresentar queixa até cinco anos depois de completarem 18 anos, ou seja, até aos 23 anos, um prazo que a Quebrar o Silêncio consideram insuficiente pelo facto de “a maioria das pessoas abusadas sexualmente na infância demorar mais de 20 ou 30 anos a partilhar a sua história de abuso”.

A Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica sugeriu na segunda-feira que se aumente até aos 30 anos de idade das vítimas o prazo para que estas possam apresentar queixa relativa a abusos sofridos na infância.

O relatório da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais na Igreja recebeu 512 testemunhos validados, o que permitiu a extrapolação para a existência de, pelo menos, 4.815 vítimas, tendo sido enviados 25 casos para Ministério Público.


Se foi vítima de abuso ou conhece quem possa ter sido, não está sozinho e há vários organismos de apoio às vítimas a que pode recorrer:

- Serviço de Escuta dos Jesuítas , um “espaço seguro destinado a acolher, escutar e apoiar pessoas que possam ter sido vítimas de abusos sexuais nas instituições da Companhia de Jesus.

Telefone: 217 543 (2ª a 6ª, das 9h30 às 18h) | E-mail: escutar@jesuitas.pt | Morada: Estrada da Torre, 26, 1750-296 Lisboa

- Rede Care , projeto da APAV, Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, que “apoia crianças e jovens vítimas de violência sexual de forma especializada, bem como as suas famílias e amigos/as”.

Com presença em Lisboa, Porto, Coimbra, Braga, Setúbal, Santarém, Algarve, Alentejo, Madeira e Açores.

Telefone: 22 550 29 57 | Linha gratuita de Apoio à Vítima: 116 006 | E-mail: care@apav.pt

- Comissões Diocesanas para a Protecção de Menores . São 21 e foram criadas pela Conferência Episcopal Portuguesa.

São constituídas por especialistas de várias áreas, recolhem denúncias e dão “orientações no campo da prevenção de abusos”.

Podem ser contactadas por telefone, correio ou email.

Para apoiar organizações católicas que trabalham com crianças:

- Projeto Cuidar , do CEPCEP, Centro de Estudos da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica

Se pretende partilhar o seu caso com a Renascença, pode contactar-nos de forma sigilosa, através do email: partilha@rr.pt

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