27 mai, 2024 - 01:00 • Tomás Anjinho Chagas (no Funchal)
A sede do PSD no Funchal, este domingo à noite, foi o espelho dos resultados das eleições regionais da Madeira: uma vitória tímida traduziu-se em festejos discretos.
Quem passasse pela sede social-democrata na capital madeirense nem se apercebia que o PSD venceu, de facto, as eleições.
“Nós só queremos o Miguel a presidente, Miguel a presidente, Miguel a presidente”, foi dos poucos cânticos entoados pelos militantes laranjas, e foi sol de pouca dura. As celebrações foram contidas, precisamente, porque o PSD sabe que as contas são difíceis para o partido.
Com a máquina de calcular por perto, o PSD sabe que terá de chegar aos 24 deputados para formar a maioria e também sabe que para isso terá de somar aos 19 que elegeu outros cinco. O cenário não é simples porque para isso precisa dos deputados do Chega – que insiste nas suas condições.
O partido de André Ventura permanece irredutível e repete que “não é não” a Miguel Albuquerque. O Chega não está disposto a negociar com o PSD enquanto o líder não mudar.
“Não há nenhuma possibilidade de acordo de governação com Miguel Albuquerque. Tenho para mim que os princípios não são transacionáveis. Miguel Albuquerque não tem condições políticas para se manter à frente do Governo Regional da Madeira”, sublinhou André Ventura, líder do Chega.
“Não vamos negociar com um partido cujo líder está indiciado por corrupção”, repetiu o dirigente máximo do Chega/Madeira, Miguel Castro.
Os apelos não caíram bem na sede do PSD: “Não é o Chega que manda no PSD, são os militantes”, clarificou Miguel Albuquerque, numa resposta que desencadeou um aplauso dos militantes.
Pouco depois, foi Montenegro a meter ordem na casa. A partir da sede nacional, em Lisboa, o líder do PSD e primeiro-ministro afirmou que “não faz sentido” pedir a demissão de um candidato que acabou de ganhar as eleições.
Para contrariar estes pedidos, Miguel Albuquerque foi o primeiro da noite a discursar, para deixar claro que está disposto a sentar-se à mesa: “Estamos dispostos para dialogar com todos os partidos”, disse o líder do PSD/Madeira para abrir o jogo.
E para pressionar de volta, Albuquerque fez aquilo que Montenegro tem feito no governo e o que Bolieiro tem feito nos Açores: apelar à responsabilidade dos restantes partidos e manifestar abertura para negociar com todos.
Ao usar essa carta, o presidente do PSD/Madeira passa a bola para partidos como o PS e o Chega, que têm de se juntar para derrubar o partido que venceu as eleições. Mal ou bem está a resultar nos Açores, onde o executivo de José Manuel Bolieiro conseguiu aprovar o orçamento regional na semana passada com o voto favorável do Chega.
Da noite eleitoral na Madeira há um claro vencedor: o JPP. O Juntos Pelo Povo, partido fundado nesta região, foi o que mais cresceu desde as eleições de setembro do ano passado e elegeu 9 deputados, ficando perto do PS, que elegeu 11 parlamentares.
O partido que tem feito uma oposição frontal aos governos de Albuquerque, denunciando negócios que consideram ser danosos para o interesse público, quase duplicou o número de deputados na Madeira.
Bem mais sombria foi a noite para o PCP e Bloco de Esquerda, partidos que perderam os deputados que tinham conseguido eleger em setembro.
O PS, que se apresentou com uma nova face a estas eleições (Paulo Cafôfo), não descolou face a setembro. Os socialistas mantiveram os 11 deputados que tinham e não conseguem força suficiente para liderar uma alternativa ao governo de Albuquerque.